SÃO LUÍS – Recentemente, a internet brasileira foi tomada por uma grande “treta”. Em meados de junho, a começar por um thread no Twitter, surgiu um embate entre a geração Z, formada por pessoas nascidas após 1995 e nos anos 2000, e a geração Y, também conhecida como millennials, dos nascidos nas décadas de 1980 até o ano de 1994. O termo “cringe” se popularizou no país, a geração mais jovem acusou os mais velhos de serem antiquados e a chapa esquentou de vez. Pois bem, meses depois, o país inteiro se encantou com a skatista maranhense Rayssa Leal, de 13 anos, a Fadinha, que, claro, é da geração Z. Com base no “fenômeno Fadinha”, a professora de Marketing e Comportamento do Consumidor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, Mariana Munis, abriu um interessante debate.
De início, Mariana Munis aborda o “jeito Fadinha de ser”. “Quem não se apaixonou pela querida Rayssa Leal, adolescente de 13 anos que trouxe a medalha de prata inédita do skate feminino para o Brasil, pode ser que esteja morando em outro planeta. Brincadeiras à parte, comecei a observar e admirar o jeito leve da Fadinha, e, ao mesmo tempo, relembrei a discussão e rixa entre as gerações Y e Z, e fiquei pensando, como nós, das gerações anteriores, podemos criticar a Geração Z, sendo que a Rayssa parece "perfeita, sem defeitos"? Ela que é pura representatividade: mulher, nordestina, pioneira e a atleta mais jovem a trazer uma medalha para nosso país”, discorre a professora.
Posteriormente, ela aborda, baseada em alguns autores, caraterísticas da geração Y. “A geração Y, formada por adultos que buscam maior interatividade com a Internet, são inovadores e valorizam a participação e controle de informações, se negando a serem usuários passivos. Possuem grandes inspirações, onde muitos planejam ou já são donos de seu próprio negócio, por conta de sua mentalidade digital, líquida e coletiva, a qual já afeta a maneira de se trabalhar. Querem curtir o caminho, ao invés de chegarem em seu destino final. “Esta geração [Y] é muito marcada por mudanças políticas, sociais e tecnológicas que influenciaram e alteraram as suas crenças e formas de viver. Sempre conheceram um mundo instável e estão acostumados à turbulência que os rodeia. Um marco dessa geração é a queda das Torres Gêmeas, nos Estados Unidos da América, em 2001. Logo, esses jovens encaram o mundo de uma forma mais pragmática e realista do que os seus pais”.
Rayssa Leal e Tik tok
Ao falar da maneira que a geração Z usa a comunicação, Mariana Munis volta a citar a atleta maranhense e seus hábitos, reflexos de toda uma geração.
“São jovens ativos, multifacetados, conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. É uma geração empreendedora e inovadora, que procura deixar a sua marca pessoal em tudo que faz. Notem que a Fadinha, ao mesmo tempo que escuta suas músicas favoritas em seus treinos, também entre uma pausa e outra consegue fazer conteúdo no TikTok e conversar com seus fãs".
Por fim, a professora analisa a maneira como Rayssa conduziu sua volta ao Maranhão após participação histórica nos jogos de Tóquio, inclusive na sua renúncia em ser fotografada ao lado de políticos.
“Essa geração está habituada a se comunicar por vídeos e imagens [vide o TikTok], reduzindo o número de palavras utilizadas, onde o segredo é simplificar a forma como se comunica com eles. Como são nativos digitais, a tecnologia já faz parte do seu dia a dia, bem como expor um pouco mais da sua vida nas mídias sociais. Além do mais, a geração Z também gosta de viver no agora e as suas necessidades têm que ser satisfeitas de imediato”.
“Além do mais, essa geração consegue facilmente ignorar aquilo que não é do seu interesse, ou seja, criam barreiras de atenção onde apenas absorvem aquilo que realmente lhes interessa. Podemos ver essa característica no retorno de Fadinha ao nosso país: ela não quis posar para fotos ao lado de políticos de sua cidade, afinal, quando ela precisava de patrocínio e auxílio da secretaria de esportes do município, solicitados pelo seu pai, não obteve ajuda”, observou Muniz.
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