SÃO LUÍS – Você já enviou ou recebeu uma carta manuscrita? A prática ficou um tanto esquecida em meio à instantaneidade que a tecnologia proporciona. Contudo, uma carta de amor, por exemplo, em uma data como a de hoje, pode despertar emoções e criar uma experiência marcante.
“O que tem ocorrido é um resgate desse gênero romântico de manifestar o apreço por alguém, tendo em vista o resgate não só do texto escrito bem elaborado, como das imagens e do papel perfumado e ilustrado. Receber pelos correios uma carta de amor tem reverberado positivamente nas relações entre os jovens, não somente entre os mais velhos que já cultuavam esse tipo de correspondência. Parece que o retorno à velha carta tem sido motivo de interesse entre os de menos idade”, comenta a professora Márcia Manir, do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Há cinco anos, a radialista Alessandra Rodrigues Pereira se propôs a escrever uma carta para o namorado Matheus Martins Resplandes, formado em Direito, e até hoje ele guarda o presente com carinho. Em sete metros de papel, Alessandra revela, por escrito, sentimentos que compartilha com Matheus.
“Eu nunca fui de escrever cartas de amor, expressar meus sentimentos dessa forma. Só que com o Matheus as coisas sempre foram diferentes de tudo que já senti e vivi. Eu queria demonstrar o quão importante ele é para mim, e cartas sempre são escritas para pessoas que marcam a nossa vida de forma profunda. Por isso quando estávamos com dois anos de namoro, senti que era o momento de fato de demonstrar tudo o que ele representa para a minha vida, e tive a ideia de escrever a “carta metro” com foto, músicas, poemas, relatos que expressassem a amizade, carinho, respeito, cumplicidade, lealdade, amor que existe entre nós”, destaca Alessandra, que surpreendeu o namorado.
“Fiquei surpreso quando pude abrir e ler a carta, pois segui a recomendação dela de que só visse quando chegasse em casa. E também pudera – são quase 7 metros”, conta Matheus aos risos. “Foi significativo porque aquilo deu o tom de algo que não abrimos mão esse tempo todo, que é ser carinhoso um com o outro, independente de não ser mais início de namoro. Fica sempre a impressão de que começamos a namorar há pouco tempo, e valorizamos cada fase”, ressalta.
Alessandra é uma mulher que me surpreende em tudo. Sempre admirei o quanto ela é dedicada à família, ao trabalho, e defensora dos seus, sejam familiares ou amigos. Ela é protetora, e apesar dos amigos sempre afirmarem que era ‘zangada’, sempre foi muito carinhosa comigo.Matheus Martins
Os dois começaram o namoro um ano após se conhecerem em reuniões de um movimento católico que participam até hoje. São várias equipes, e os pombinhos foram direcionados para o mesmo grupo, sem já terem se visto. Ah, era pra ser né, gente?
“Começamos a namorar mesmo em 2 de novembro de 2014, no dia do aniversário de uma amiga nossa de equipe. Quando o aniversário terminou fui deixar os meninos cada um em suas respectivas casas, e a Alê estava comigo, e ela foi a última pessoa que deixei nesse dia em casa. No caminho para a casa da Alê conversamos sobre muitas coisas, e já bem próximos a residência dela ficamos mudos. Quando estacionei o carro, e ela foi descer nos cumprimentamos, beijei a mão dela, só que não resistimos e nos beijamos. A partir deste dia, sem pedido algum formal, iniciamos a nossa história, o nosso namoro”, relembra Matheus.
Dia dos Namorados e planos futuros
Matheus é uma pessoa muito discreta, e ter topado falar sobre o nosso namoro, se expor dessa forma, é algo surpreendente. Eu admiro tantas coisas nele, mesmo antes de ter iniciado o namoro. Ele é uma pessoa muito justa e disposta a defender as pessoas. Ele sempre tem uma análise inteligente e objetiva das situações cotidianas. Ele é dedicado e organizado com os estudos e extremamente paciente comigo. Ele é a minha calma, um refúgio seguro e meu melhor amigo antes de tudo. Ele é um confidente e cúmplice, por isso nos damos tão bem.Alessandra Rodrigues
O casal conta que, em geral, fazemos planos simples para aproveitarem a data – 12 de junho –, que acaba sendo comemorada ao longo do ano. “Nunca falta é um pote de sorvete e de preferência sentamos na beira da Litorânea e recordamos nossos momentos. Lembrar desses detalhes, o que nos uniu até aqui, ajuda a fortalecer o que sentimos um pelo outro. Como diz na canção ‘Laços’ do Tiago Iorc: ‘Cada suspiro é gratidão, de ver entrelaçar as mãos, que juntas podem muito mais’”, comenta Alessandra.
Como tantos casais, os pombinhos sonham em casar, ter filhos, mas respeitando o tempo dos dois. “Eu e Alê apoiamos muito as realizações pessoais, no campo profissional, e acreditamos que ficaremos mais tranquilos para avançarmos em nosso relacionamento quando parte de nossos sonhos profissionais forem alcançados, por isso somos prudentes e respeitamos esse plano”, afirma Matheus.
O Gênero Carta
O gênero carta implica necessariamente a presença de interlocutores, pois nasce de um emissor para um receptor que, por sua vez, pode adquirir o status de emissor quando responde à carta. “Consiste numa forma de comunicação muito antiga que, dizem, remonta aos reis do Oriente Médio”, explica a professora Manir. Ela relembra que o nosso descobrimento ou achamento foi comunicado ao rei de Portugal por uma carta que se tornou famosa: A carta de Pero Vaz de Caminha. “Logo, é uma forma de comunicação interpessoal escrita de alto valor para a história política e social da humanidade”, aponta a professora.
Com o avanço da tecnologia, a carta manuscrita foi se tornando um fenômeno cada vez mais raro e esporádico, tendo sido suplantada pelos e-mails e pela comunicação instantânea das redes sociais, conforme destaca a professora. “A carta perdeu o seu glamour com o advento da tecnologia, mas tem sido resgatada, assim como os discos de vinil”, afirma.
Ainda segundo Manir, as cartas de amor, sobretudo, não se caracterizam apenas como um registro do sentimento trocado entre amantes, mas também como um lugar de memória. “As cartas trocadas entre vultos históricos da política nacional, por exemplo, constituem em riquíssimo material de estudo da história, da sociologia, da política, enfim. São verdadeiros baluartes da memória”, pontua a professora.
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