Luta contra o racismo

Cultura e arte podem representar ferramentas de combate à discriminação

Diretor da Casa do Tambor de Crioula Neto de Azile fala da importância de valorizar tradições culturais.

Anne Cascaes/Na Mira

Atualizada em 27/03/2022 às 11h07
(Arte: Anne Cascaes)

SÃO LUÍS – De racismo os negros são alvos. Mas, no combate, são protagonistas necessários para estampar o respeito e valorização que sua história exige. E num Estado preenchido por manifestações culturais de matriz africana, não há lugar mais válido para que suas sequelas históricas sejam tiradas da invisibilidade por meio da arte.

Do Bumba Meu Boi ao Tambor de Crioula, a prática dessas atividades culturais possui um pano de fundo que comunica o modo de vida do negro e as superações que construíram toda uma identidade social. Para o diretor da Casa do Tambor de Crioula em São Luís Neto de Azile, todas as pessoas podem conhecer a importância do povo negro a partir de manifestações que destacam a história e ancestralidade.

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“Quando se visibiliza e fomenta as manifestações culturais populares e tradicionais também se fortalece a importância desse povo, fazendo assim um lugar que possa dar projeção, fortalecer e, principalmente, deixar o negro como protagonista. Isso tira a ideia negativa de que o negro está associado às piores ideias do ser humano”, diz Neto de Azile.

O gestor cultural endossa que as manifestações culturais, além de representarem uma ferramenta fortalecedora no combate à discriminação, são também um fator que eleva a autoestima de quem participa ativamente das manifestações culturais e conhece a história por trás delas. Ele explica como a Casa do Tambor de Crioula realiza esse diálogo a partir de três dimensões: “No passado, temos a parte museológica que marca a história e memória. O futuro, trabalhamos com trocas de saberes, palestras e vivências. Já no presente, temos o diálogo entre passado e futuro quando praticamos de fato o tambor”.

“As rodas de conversas são importantes, principalmente quando colocamos na roda o detentor e fazedor. Ali se tem acesso à vivência e conhecimento primário dessa prática. São mestres e mestras que sentam ali e dialogam com alunos, universitários e a sociedade em geral dando depoimentos da sua vida”, compartilha Azile.

Quando ele [o negro] faz sua autobiografia, ele está descrevendo a prática. Isso permite um contato direto com a fidelidade da importância da tradição. Essa prática da roda de conversa faz com que você não só contemple passivamente a prática do tambor de crioula, mas sim conheça a história e os porquês, os significados e os significantes.
Neto de Azile

O contato e a valorização da cultura, então, podem significar a porta de entrada para que se conheça e entenda os efeitos da discriminação. Funcionando, como defende Neto de Azile, como “veículo de comunicação pela memória”.

Apesar disso, alguns desafios ainda precisam ser diariamente superados, conta ele. “Nós vivemos um momento de crise econômica, não só pela pandemia da Covid. Mas há um esfacelamento das políticas culturais a nível nacional. Nós vemos continuamente as manifestações culturais populares perderem espaço para a modernidade e há um afastamento da juventude na prática e no aprendizado desses saberes”.

Contudo, Azile, que nunca foi vítima de atitudes racistas, mas já presenciou certos tipos de violências nesse sentido, acredita que o empoderamento, posicionamento e a autoafirmação podem, talvez, evitar certas situações. “É importante ressaltar que esse tipo de comportamento mata as pessoas, mata a autoestima, reduz esse ser a nada. E isso provoca sérios distúrbios psicossociais quase muitas vezes incuráveis”, finaliza.

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