Sexo com Nexo

Quando ceder demais se torna perder-se de si

Confira a coluna desta semana da sexóloga e educadora sexual Mônica Moura.

Mônica Moura/ Sexologia clínica e Educação sexual

Mônica Moura/ Sexologia clínica e Educação sexual
Mônica Moura/ Sexologia clínica e Educação sexual (Divulgação)

"Eu não quero perder quem sou, mas não sei como lidar com tudo isso agora."

Compartilhar um espaço físico é um exercício de negociação entre preferências, rotinas e identidades. Mas, em algum momento, a linha entre "se ajustar ao outro" e "se anular" se torna tão sutil que, quando percebemos, somos sufocados por concessões silenciosas.

Esse processo começa de maneira quase imperceptível: você deixa de usar o perfume que ama porque incomoda, foge daquele produto de limpeza, evita certos alimentos por causa de algum odor intolerante. Todos estes são gestos de cuidado, sim, porque faz parte de amar e conviver, nos adaptar aos limites e necessidades do outro. Mas o problema surge quando ceder se torna uma rotina invisível, e tudo que era seu vai ficando para trás.

Com o tempo, aquilo que parecia um pequeno ajuste para a paz da casa pode se transformar em uma sensação crescente de sufocamento. De repente, você percebe que abandonou sua fruta favorita, seu ritual com queratina para o cabelo, e até o vaporizador aromático que te traz conforto ao trabalhar. Coisas aparentemente simples, mas que carregam pedaços de quem você é (ou era). E, no lugar do prazer, surge a culpa: será que é errado querer isso de volta?

É desafiador quando uma das peças tem necessidades específicas, como intolerância a cheiros ou padrões rígidos de limpeza. Essas dificuldades são legítimas e é natural querer apoiar e respeitar. Mas onde fica o seu espaço? Se cada vez que você tentar participar, o seu esforço for corrigido, criticado ou insuficiente, a sensação de inutilidade se instala. E, com ela, um cansaço profundo - não apenas físico, mas emocional. 

Não se trata de desmerecer a forma como o outro vê e faz as coisas, mas de entender que abrir mão da sua maneira de ser em prol da convivência pode resolver um conflito no curto prazo, mas também pode esvaziar o que você é.

Quando você precisa se adaptar porque não existe tanto espaço para as diferenças, algo se rompe. Então, mesmo sabendo que não precisa abandonar quem é para que a paz seja mantida, você não sabe exatamente onde fica o meio-termo disso.

Aos poucos, você vê que se desfez de alguns hábitos ou objetos que te traziam conforto e alegria. Pode ser o vento e a luz que você deixou para trás ao fechar a janela, ou o cheiro da tangerina que aquece a sua memória.

Se você se enxerga nessa história, talvez seja a hora de perguntar onde estão seu equilíbrio e autocuidado. Ninguém quer ser inflexível, mas, quando a adaptação se transforma em uma lista de renúncias, o preço emocional é alto demais.

Viver é existir plenamente - com seus cheiros, seus sabores e suas formas únicas de estar no mundo. O verdadeiro conforto nasce quando cada um tem espaço para ser exatamente quem é.


 

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