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COLUNA
Euges Lima
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
Euges Lima

O 28 de julho de 1823

Quando eclodiu o processo de Independência do Brasil no Sul, o Maranhão não aderiu inicialmente, manteve-se leal às Cortes portuguesas.

Euges Lima

Historicamente, o Maranhão, tinha uma longa identificação e ligações econômicas, comerciais e culturais com Portugal, desde a época que o Maranhão era um estado colonial independente do resto do Brasil (1621). Suas relações eram diretamente com Lisboa e não com o Rio de Janeiro.

Nesse sentido, quando eclodiu o processo de Independência do Brasil no Sul, o Maranhão não aderiu inicialmente, manteve-se leal às Cortes portuguesas, pois, havia aqui uma rica e poderosa colônia portuguesa de comerciantes e fazendeiros que controlavam os principais cargos públicos da província, ou seja, o Maranhão era comandado pelos portugueses, portanto, não se identificava com o projeto emancipacionista de D. Pedro I.

 Embora no senso comum, tenha se criado o mito de uma Independência brasileira pacífica, sem conflitos, sem guerras, fruto de uma transição tranquila de pai para filho, historicamente não foi bem assim, principalmente nas províncias do Norte. No Maranhão, houve lutas, conflitos, embates, entre tropas realistas e tropas independentes - vindas do Ceará e Piauí -, principalmente nas regiões de Caxias - último foco de resistência das forças portuguesas, comandadas pelo Major Fidié -, São José dos Matões e Itapecuru.

D. Pedro I para não perder a rica província do Maranhão e as demais províncias do Norte (40% do território) e fragmentar politicamente o Brasil, como ocorrera com a América Latina, contratou os serviços militares (navais) do experiente e famoso Lorde Cochrane - mercenário escocês - futuro “Marquês do Maranhão” para sufocar essa resistência portuguesa no Norte e manter a unidade territorial. Cochrane já havia ajudado com sucesso, na Independência do Peru e do Chile.

Thomas Cochrane, exímio estrategista, veterano das guerras napoleônicas, por meio de blefes e ardis, rendeu os portugueses em São Luís, sem disparar um único tiro. O presidente da Junta Governativa, D. Frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré (amigo de D. João VI), diante do cenário de dificuldades que se encontrava, com tropas pró-D. Pedro I, marchando para capital e a suposta esquadra Imperial comandada pelo tal Lorde, bloqueando o porto, ameaçando bombardear a cidade, acabou vendo-se sem alternativa e foi ter a bordo com Cochrane na Nau Pedro I e acertaram finalmente a adesão da província do Maranhão à Independência do Brasil para o dia seguinte, o 28 de julho de 1823, às 11 horas no palácio do governo.

O que mudou no Maranhão a partir dessa “adesão” do ponto de vista político, econômico e social?  Do ponto de vista social, não houve mudanças, pois, a Independência do Brasil e a posterior incorporação do Maranhão ao nascente Império brasileiro manteve o sistema escravista e monárquico, portanto, uma ruptura conservadora do ponto de vista social; um regime, por assim dizer, destoante no contexto da América espanhola pós-independência, onde a independência dessas colônias foi seguida pela implantação de regimes republicanos. Porém, do ponto de vista político, houve rupturas, o Brasil começa a partir daí, a se construir enquanto nação, enquanto estado, enquanto identidade nacional. 

Por simbolizar o momento em que o Maranhão, enquanto província, colônia, se integra ao Império brasileiro, enquanto país independente, emancipado politicamente, “o 28 de julho”, representa a data da Independência do Brasil no Maranhão, portanto, uma efeméride histórica com bastante simbolismo cívico e que no passado foi muito reverenciada e festejada.

Penso que essa data, vista como um processo histórico pode contribuir para as novas gerações sim, no sentido de ajudar a conhecer e refletir sobre a nossa história, sobre como se deu o processo de Independência do Brasil no Maranhão e suas especificidades, sobre a construção da nossa identidade. Ajuda a explicar por que temos todo esse legado português na nossa arquitetura e cultura, além da contribuição e protagonismo de brasileiros, nordestinos, maranhenses, cearenses, piauienses, brancos, negros, mestiços e escravizados, que também lutaram pela Independência do Maranhão e do Brasil.

 

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