SÃO LUÍS - Será inaugurado, na próxima quinta-feira (30), o Monumento à Diáspora Africana, na Praça das Mercês, no Centro Histórico de São Luís. O monumento busca visibilizar a contribuição do povo negro para a cultura e a identidade do Maranhão.
Um grande evento marcará a inauguração deste importante Monumento, que contará com a presença de grupos culturais, religiosos e convidados, além do show do nigeriano nativo do povo yorubá Ídòwú Akínrúlí, que se apresentará com artistas locais. Toda a programação é aberta ao público e começa a partir das 17h30.
O projeto que cria o Monumento e requalifica a Praça das Mercês tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e realização da Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal do Patrimônio Histórico (Fumph). Para a construção de todo o trabalho, uma uma comissão foi criada composta de pessoas envolvidas nos movimentos negros e por estudiosos especializados nos temas relacionados ao monumento.
O Monumento à Diáspora Africana é composto de oito painéis, 6m x 4,80, que estão sendo produzidos por artistas negros maranhenses que vêm se destacando nacionalmente no campo das artes visuais. Além desses, outro painel, em granito negro com 45 metros de comprimento, terá informações sobre as datas, os nomes dos portos de embarque, os nomes dos navios e a quantidade de africanos de diversas nações desembarcados no Maranhão entre os anos de 1693 a 1841.
Em cada painel os artistas trabalharam a partir de um tema, que se relaciona diretamente com o protagonismo do povo negro, suas contribuiçoes formadas a partir do seu processo de (re) adaptação nos territórios onde vivem e/ou atuam. A diversidade de técnicas utilizadas e o potencial de comunicabilidade da arte produzida serão atrativos que se destacarão.
Os temas abordados nos oito painéis foram trabalhados pela equipe da Fumph e pela comissão, são: Baobá: origens diaspóricas; Matrizes Africanas: religiosidades; territorialidade: pertencimento ao lugar; Culinária: afeto e empoderamento; Tecnologias Africanas: base e inspiração; Arte e Cultura: expressões, memórias e heranças; Intelectualidades Negras e (Re)Existências: historicidade e militância.
Entre os artistas selecionados está a multiartista independente Tassila Custodes, conhecida por Emi Ajé Dudu. A ludovicense apresenta ao público trabalhos que proporcionam pensar a arte, território, ancestralidade e expansão de consciências a partir de referências de matrizes africanas, traçando investigações sobre seus ancestrais longínquos e antepassados. Para o memorial, trabalha o tema “Baobá”, em um paniel elaborado com tinta acrílica.
“O poder de construir novas narrativas, bem fundamentadas, é o que me motiva. Acredito que a memória é o que nos move, o Baobá é tido como a árvore que atravessa 9 céus (9 oruns). Também dentro do baobá habita o espírito mais antigo da terra. Nesta arte faço uma relação entre árvores, existências, consciências e beleza. Me sinto muito agraciada por vivenciar um momento tão especial onde a nossa memória é honrada em um monumento. Acredito que nascemos justamente para isso, para encontrarmos novos caminhos. Caminhos positivos que sanam as feridas antigas. Obviamente, sem esquecer ou até mesmo sem romantizar todo o processo criminoso que nossos antepassados foram submetidos”, afirmou a artista.
Também estão desenvolvendo painéis na Praça das Mercês nomes como: Gê Viana, Eduardo Inke, Dinho Araújo, Telma Lopes, Origes, Marcos Ferreira e Jesus Santos.
Para a entrega do monumento, também está programada uma Conferência com Rosane Borges jornalista, escritora e professora que é maranhense, mas hoje vive em São Paulo, e com o Kazadi Wa Mukuna que é entomusicólogo e orientador. Terá a mediação do Professor Doutor Carlos Benedito que é professor da UFMA.
A programação conta ainda com o lançamento de uma cartilha educativa, com ações de educação patrimonial, o que inclui visitas guiadas para alunos da rede pública de ensino ao monumento da Diáspora Africana no Maranhão.
O monumento
O Monumento à Diáspora Africana foi pensado pela Fundação Municipal de Patrimônio Histórico (FUMPH), com o apoio da Coordenadoria Municipal da Igualdade Racial (COMPIR), a Secretaria Municipal de Cultura (Secult) e uma comissão composta de pesquisadores negros das aréas da antropologia e historia e ativistas dos movimentos sociais negro.
Uma ampla pesquisa foi realizada pela Fumph e chancelada pela comissão que forrneceu os elementos para compor a base do monumento, o painel em granito contendo informações históricas e os oito totens produzidos pelos artistas maranhenses.
“Quando falamos de territorialidades, sobretudo a negra maranhense não podemos deixar de ressaltar os territórios quilombolas, que estão presentes em todo o Estado sendo aproximadamente 860 Identificados e certificados. E em São Luís é importante ressaltar os territórios negros que estão situados no quilombo Liberdade, constituído pelos bairros da Camboa, Liberdade, Fé em Deus, Diamante e Sítio do Meio, bem como os bairros do Coroadinho e a área Itaqui Bacanga, dentre tantos outros que reforçam esse percentual de negros na capital maranhense. Os territórios sagrados das religiões de matriz africana estão presentes em todo o Estado do Maranhão e expressam o elo de ligação ancestral entre o continente africano e o Brasil, tendo em vista que as memórias, os ritos, as simbologias do sagrado e a diversidade de práticas dessas comunidades constituem uma cosmovisão e consciência identitária direta com a África enquanto território ancestral”.
“Por ser uma população expressivamente negra precisamos ressaltar o quão valorosa foi e ainda é toda a transferência de saberes que esse povo proporcionou aos locais onde foram obrigados a habitar em função da escravidão”, ressaltou Kátia Bogéa, presidente da Fundação Municipal do Patrimônio Histórico (Fumph).
“Vivemos em uma época onde a reflexão sobre identidade nunca esteve tão em voga. Apoiamos o Monumento à Diáspora Africana, na Praça das Mercês, local onde atracavam os navios com pessoas escravizadas, para contribuir com a visibilidade e importância dos povos de origem africana para a cultura e o patrimônio histórico do Maranhão. Que este monumento, entregue ao povo maranhense e a todos aqueles que vierem a São Luís, contribua para refletirmos sobre uma história de colonização e deslocamentos, violências e resistências decorrentes deste processo, e abra espaço para pensarmos em um amanhã com novas cores, caras e possibilidades”, diz Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale.
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