(Divulgação)

COLUNA

José Lorêdo Filho
Editor da Livraria Resistência Cultural Editora e chanceler do Círculo Monárquico de São Luís
José Lorêdo Filho

O vício imprudente da bibliofilia

Já tive ocasião de me referir neste espaço, mais de uma vez, ao vício imprudente da bibliofilia — vício tanto mais irredutível quanto mais se lhe ofereceçam oportunidades de robustecimento.

José Lorêdo Filho

Já tive ocasião de me referir neste espaço, mais de uma vez, ao vício imprudente da bibliofilia — vício tanto mais irredutível quanto mais se lhe ofereceçam oportunidades de robustecimento. Uma verdadeira lepra existencial. Mas — dir-se-á — como faz bem ao espírito. Razões não lhe faltam.

Sou livreiro, editor, escritor e bibliófilo. Vida mais tragicamente dedicada aos livros, impossível. Minha sina começou pelos idos de 1996, quando contava os meus 12 anos, graças aos cuidados da minha querida amiga D. Moema de Castro Alvim, vocação inteira e imarcessível de professora, livreira, bibliófila e, acima de tudo, conversadora. De tudo sabia das nossas coisas. Conhecia simplesmente tudo da bibliografia maranhense, os mestres da historiografia e da geografia, os poetas, os acadêmicos, os políticos, os doidos das nossas letras. Assíduo frequentador do seu sebo Papirus do Egito, lá fiz alguns bons amigos e comprei meio mundo de tralha impressa. De tal modo que, muito incentivado por ela, fiz-me, também eu, livreiro. Foi a maldição que essa saudosa amiga me deixou.

Na última semana lá se foi mais uma edição da Feira do Livro de São Luís. De uma tal empresa não participo mais. As mesmas pessoas que nada têm que ver com os livros, os oportunistas institucionais, a turma do sacolejo barato, os bobalhões de fina estirpe. Mas, também, os amigos do livro, sacerdotes do velho culto — os Alexandre Maia Lago, os Adonay Moreira, os Sebastião Moreira Duarte, os José Neres, os Diogo Guagliardo Neves, entre vários outros amigos fraternais. E os livreiros resistentes, já há muito picados pelo tal vício imprudente da bibliofilia e que não prestam para mais nada na vida. Estou entre eles, graças ao Padre Eterno, Nosso Senhor Jesus Cristo. Os amigos do Sebo Educare, o Armando da Livraria Prazer de Ler, a nova dona da Papirus do Egito, a figura de “Mestre Severino” do José Arteiro, vendendo diversos livros que pertenceram ao saudoso e grande poeta José Chagas. Todos estão na Estante Virtual. É ocioso pedir os meus dois ou três leitores que se barafustem nos seus acervos. O viciado acalenta outros viciados para a obra comum de destruição do mundo. Não posso deixar de recordar do meu caro amigo Givaldo Santos, “O Buquineiro”, residente em São Paulo, cujo acervo de ouro, recheado de raridades, também pode ser visto na Estante Virtual.

O velho Eduardo Freiro — grande escritor do país das Minas Gerais, romancista e ensaísta, ironista modelar, autor do impudico Os livros nossos amigos (Belo Horizonte: Livraria Inconfidência, 1945), sem vírgula mesmo, e do não menos impudico O diabo na livraria do cônego (Belo Horizonte: Livraria Cultura Brasileira, 1945), livro quase venerado por Otto Maria Carpeaux, que lhe dedicou algumas páginas luminosas de boa literatura — já dizia que “há uma idade para ler e outra para reler”. Os leitores impenitentes cada vez mais releem por não terem mais o que ler. É o fim da jornada. Tenho dos Livros nossos amigos a edição egrégia da Confraria dos Bibliófilos do Brasil, veneranda instituição que não cessa de exultar o espírito dos seus membros, graças a esse mestre inexcedível que é o José Salles Neto. Uma beleza de livro para — “biblioficamente” — se ter, ler e reler, sobretudo reler. Voltarei, agora, à leitura do Caetés, na bela 7ª edição da Livraria Martins de 1965, exemplar pertencente ao Zé Chagas e comprado ao Arteiro.

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