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COLUNA
Sexo com Nexo
Sexo com Nexo por Mônica Moura, sexologia clínica e Educação sexual.
Sexo com Nexo

Fast f*da não é pra mim!

(Mas se faz sentido pra você, tudo bem!)

Dra Mônica Moura/ Sexologia clínica e Educação sexual

Atualizada em 02/05/2023 às 23h39
Dra Mônica Moura/ Sexologia clínica e Educação sexual.
Dra Mônica Moura/ Sexologia clínica e Educação sexual. (Divulgação)

Não começo com preconceito, discriminação ou julgamento. Sempre vou defender que todo mundo é livre pra fazer o que quiser com os seus orifícios. E é na defesa dessa fala que afirmo: nem todo mundo nasceu pra fast f*da! E tá tudo bem! 

A aceleração dos áudios, a Tiktokzação da vida, a falta de paciência para conhecer o outro e principalmente a urgência no resultado final de tudo, vai reverberar nas relações humanas presenciais e também (é óbvio) na vida sexual. Sentir atração sexual nesses períodos pode ser muito mais fácil para algumas pessoas, mas também precisamos considerar que está sendo extremamente difícil para outras. 

Aos urgentes, tudo muito mais simples. E sem sair de casa. Parece o iFood. Abre o app, escolhe. Difícil escolher. Tudo é muito atrativo. Decide. Chama. Chega. Come. Foi. 

Aos não urgentes, a busca começa pelo vínculo (algo intelectual ou que represente segurança). Sem vínculo é impossível ter atração sexual. Sem atração não tem sexo. Já era. 

Quem não nasceu para fast f*da valoriza o diálogo, por exemplo. É preciso enxergar no outro algo além do que o espelho reflete. Não é sobre beleza, riqueza ou sobrenome. É sobre um diálogo aberto, amplo, envolvente. Pessoas interessantes e interessadas pedem tempo. Pedem restaurante. Pedem entrada, prato principal e sobremesa. Percebe a diferença?

Quem não nasceu para fast f*da precisa de uma conexão antes de ir pra cama, por isso quando solteiros evoluem com certa dificuldade nos apps de relacionamento. São muitos matchs e pouca conversa. E a frustração só aumenta a cada novo match. É que depois do “oi”, as mensagens já vem aquecidas, pedindo nudes, uma conversa de áudio picante, ou uma chamada de vídeo criativa. Quase um padrão. 

Quem não nasceu para fast f*da ainda se vê na dúvida entre sair da conversa ignorando o assédio (sim, quando lhe causa desconforto e você não é sequer questionado se está de acordo, isso é assédio), se denuncia o fato (o que poucos fazem), ou se educa o indivíduo sobre a falta de respeito e desconforto provocado (sabendo que vem a retaliação, com expressões do tipo “é muita frescura”, “é c* doce”, “está se fazendo de difícil”)

Quem não nasceu para fast f*da carece de um espaço para exercer a sua sexualidade dentro dos seus traços. Buscar compatibilidade de preferências além do signo e países já visitados. Ativar um on/off para quem aceita e gosta de iniciar a conversa a partir da página 50 daquele livro de 60 páginas, por exemplo. Exigir um espaço blindado dessas abordagens sexuais diretas e urgentes seria pedir muito? 

Quem não nasceu para fast f*da precisa que a relação faça sentido. Sem sentido, o sexo até pode acontecer, mas a sensação depois é de vazio existencial, de sofrimento emocional. E isso não vale ou pelo menos não deveria valer a pena.

Mas se você que lê até aqui percebe que sim, você nasceu para fast f*da, está tudo bem TAMBÉM. 

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