Festival

Todas as expectativas foram superadas no 9º Lençóis Jazz e Blues Festival

Um balanço possível dos três dias de programação em São Luís.

Na Mira, com informações da Assessoria

Atualizada em 27/03/2022 às 11h21
Foto: divulgação
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SÃO LUÍS - Pergunte-se a quem perguntar: o circuito São Luís da 9ª. edição do Lençóis Jazz e Blues Festival superou todas as expectativas. Qualquer pessoa que tenha prestigiado quaisquer das atividades realizadas confirmará, de membros da equipe de produção, do público, que lotou as três noites do festival, de alunos matriculados nas oficinas, a comerciantes na feirinha gourmet e de artesanato montada no entorno da Concha Acústica Reinaldo Faray, na Lagoa da Jansen.

O festival começou em clima de festa, na quinta-feira (9), com o lançamento da biografia “Belchior: apenas um rapaz latino-americano” (Editora Todavia, 2017), do jornalista Jotabê Medeiros. A Fanzine Rock Bar, na Praça Manoel Beckman (Av. Beira-Mar, Centro), foi o palco escolhido para uma noite de celebração. Celebração do jornalismo musical, da vida e obra de Belchior e da boa música, personificada nos cantos de Milla Camões, Tássia Campos, Marconi Rezende e Tutuca Viana, que passearam por clássicos do repertório do bardo cearense, de Jefferson Gonçalves e Kléber Dias, que deram uma canja com uma pequena demonstração do que aprontariam nos dois dias seguintes na Tenda do Blues, e da banda Calabar, que passeou com talento e desenvoltura pelo repertório do mítico “Transa” , de Caetano Veloso, entre outros clássicos do baiano.

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Na manhã de quinta-feira (9), o auditório da Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo (Emem), já havia sido palco de uma aula-espetáculo do contrabaixista Nema Antunes, que além de trocar experiências com aqueles que se inscreveram procurando aprimorar seus conhecimentos, formou uma banda com músicos locais, divertindo-se fazendo o que gosta enquanto dava os exemplos que sua oficina pedia.

No segundo dia de festival, quem ministrou oficina no mesmo local foi o lendário Robertinho Silva. Revezando-se entre a bateria e diversos instrumentos de percussão, fez a plateia gargalhar em vários momentos da conversa, em que ia de exímio percussionista que é – seu show em São Luís integra uma turnê comemorativa de seus 60 anos dedicados à música – a hilariante contador de causos, quase sempre relacionados à música. É, como se diz, um grande tirador de onda.

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O entorno da Concha Acústica Reinaldo Faray, na Lagoa da Jansen, foi potencializado como palco de encontros: casais, famílias, amigos, gente que foi curtir um som, às vezes aventurando-se em descobrir novidades, podia presenciar o mesmo clima vivido em grandes festivais do gênero no mundo. Uma feirinha gourmet dava opções para quem quisesse matar a fome, artesanatos para quem quisesse levar uma lembrança a quem não pode estar presente – há notícias de vários músicos que levaram um pedaço de São Luís entre os instrumentos na bagagem –, além, é claro, de músicos preparando o espírito do público, e a ambiência propícia para os shows no palco principal.

Eram Jefferson Gonçalves e Kleber Dias, na Tenda do Blues, em que voz, violão e gaita passeavam por temas do gênero americano, mas também por folk, rock e baião, sem preconceitos. O mesmo em relação aos buskers [músicos de rua] da Lençóis Street Band, com seu banjo, tarol, trompete, trombone e tuba, passeando por standards do jazz e tornando jazz – “tudo é jazz”, alguém já disse – o clássico “Bela mocidade”, de Donato Alves, do Boi de Axixá.

Na noite de sexta-feira (10), um bom público se fez presente à Concha. O DJ Pedro Sobrinho apresentou uma boa trilha sonora de abertura da noite, atrelado aos gêneros que dão nome ao festival, patrocinado pelo Banco do Nordeste, Potiguar, Cantinho Doce, Fribal, Grupo Entreposto, Atacadão Menezes, Sesc e Prefeitura de São Luís, com recursos captados através das Leis Rouanet (Governo Federal, Ministério da Cultura) e Estadual de Incentivo à Cultura (Governo do Maranhão, Secretaria de Estado da Cultura e Turismo) e realizado pela Tutuca Viana Produções, com o apoio de Concha Acústica Reinaldo Faray, Clara Comunicação e Tory Brindes.

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Na sequência era a vez da Orquestra Filarmônia Sesc Musicar, que reuniu no palco 30 músicos oriundos de um projeto social desenvolvido pelo Serviço Social do Comércio em comunidades da Ilha de São Luís, cujo repertório incluiu temas de trilhas sonoras de cinema e clássicos do cancioneiro popular maranhense, a exemplo de “Ilha bela”, de Carlinhos Veloz. Aliás, questões sociais foram uma marca desta edição do Lençóis Jazz e Blues Festival: merece destaque também a arrecadação de alimentos não perecíveis para doação à Escola de Cegos do Maranhão, além da interpretação em Libras no palco principal e a garantia de acessibilidade a pessoas com deficiência que prestigiaram o evento.

Arlindo Pipiu (violão), Eliézio do Acordeom e Roquinho (bandolim), acompanhados de Antonio Paiva (contrabaixo) e Wanderson Silva (pandeiro) fizeram um show memorável. Era um inédito encontro de grandes nomes da música do Maranhão, com repertório passeando com desenvoltura por temas diversos como “Lamento sertanejo” (Dominguinhos/ Gilberto Gil), “Czardas” (Victorio Monti) e “Brasileirinho” (Waldir Azevedo), entre outras.

Robertinho Silva levou ao palco da Concha Acústica Reinaldo Faray o mesmo sorriso franco que apresentou durante a oficina que ministrou na Emem. Acompanhado de Luiz Alves (contrabaixo) e pelo tecladista argentino Lisandro Massa, ele recebeu como convidado especial o saxofonista Nivaldo Ornelas. O repertório foi além, mas é como se o show fosse uma versão instrumental do Clube da Esquina, já que todos eles (à exceção do jovem hermano) ajudaram a consagrar a sonoridade de Milton Nascimento e a turma de Minas.

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Encerrando a segunda noite do 9º. Lençóis Jazz e Blues Festival, Andrea Dawson fez um show que literalmente tirou a plateia do chão. “Obrigado, Brasil”, arriscou em português, enquanto emendava souls e blues de arrepiar, em sua primeira passagem pelo Brasil. “Adorei o país”, afirmou.

Dizer que sábado (11) o clima se repetiu poderia ser um modo de falar: cada dia é único na programação de um festival como o Lençóis Jazz e Blues Festival. Na noite anterior o saxofonista Nivaldo Ornelas já havia declarado que, em termos de estrutura e organização, “não deixa nada a dever a qualquer evento do gênero no Rio ou em São Paulo”, elogiou. Os buskers preparavam o terreno, o público circulava entre as feiras gourmet e de artesanato, enquanto a DJ Vanessa Serra passava a flanela nos vinis, demonstrando na prática a sensibilidade que qualquer um percebe ao vê-la e ouvi-la discotecando. Ousada, levou ao festival de jazz o samba e o baião, arriscando uns passinhos que encorajavam o público a cair na dança, sem deixar de prestar atenção ao sempre bom conteúdo.

Há sete anos radicado em Brasília, o percussionista maranhense Carlos Pial fez um show de enorme interação com a plateia, que embarcou numa aventura rumo ao desconhecido: a ousadia também foi uma marca deste vianense do mundo. Tocou repertório instrumental autoral, fez a plateia cantar, numa batalha de “eh” de um lado e “oh” do outro. Ao elogiar os músicos que o acompanharam – um contrabaixista e um tecladista, além da participação especial do maranhense Thales do Vale (trompete) – tocou, bem humorado, em questão séria: “a gente pensa que em Brasília só tem ladrão. Mas tem bons músicos também”, disse, para depois saudar velhos companheiros de estrada, entre o ótimo público que superlotou a Concha Acústica Reinaldo Faray.

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Os cearenses Cainã Cavalcante e Michael Pipoquinha, num duo de violão e contrabaixo, mostraram por que são considerados dois fenômenos em seus respectivos instrumentos. A pouca idade é inversamente proporcional ao talento, o que eles demonstraram em um repertório que passeou por nomes como Dominguinhos (“Abri a porta”, parceria com Gilberto Gil), Targino Gondim (“Esperando na janela”) e temais autorais, compostos ora por um, ora por outro, ou em parceria.

A atração mais esperada da noite era a paulista Tulipa Ruiz e o público, que a Concha Acústica já não comportava, esparramava-se pelas encostas ao redor e detrás. “Muito obrigado à galera da árvore, valeu demais também”, a cantora incluiu alguns que subiram em árvores para ver o show, em que ela passeou pelo repertório de seus três discos, além de apresentar música inédita – ela havia acabado de voltar dos Estados Unidos, onde gravou seu quarto disco, a ser lançado em breve.

A plateia vibrou, cantou junto, se emocionou e fez selfies. Pudera: Tulipa desceu do palco ao cantar “Efêmera” e franqueou o microfone ao público. Ninguém errou a letra de seu primeiro hit, de 2010. Foi um show de entrega e sintonia entre artista e plateia. “Eu estava com saudades de cantar aqui”, disse. “Sou sempre muito bem recebida. Obrigado, São Luís!”, agradeceu.

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O 9º. Lençóis Jazz e Blues Festival nem havia acabado, mas já deixava saudades. Para ano que vem a expectativa é de uma grande festa, em torno das comemorações das 10 edições de uma iniciativa que só vem crescendo em tamanho e qualidade.

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