Brasília aplaude filme sobre memória da ditadura de Frei Betto

G1

Atualizada em 27/03/2022 às 14h12

BRASÍLIA - "Batismo de Sangue", aguardado retrato sobre a ditadura pelas memórias do religioso e escritor mineiro Frei Betto, foi muito aplaudido no sábado (26), no Festival de Brasília. O filme, do também mineiro Helvécio Ratton, deixou no ar a expectativa de uma premiação para seus atores, entre eles Daniel Oliveira e Caio Blat, respectivamente nos papéis de Frei Betto e Frei Tito de Alencar.

Mas todo o panorama pode mudar na competição do festival justamente na noite de domingo, quando será exibido outro concorrente muito esperado, "O Baixio das Bestas", do pernambucano Cláudio Assis, que estreou em Brasília em 2002 com "Amarelo Manga".

Exibindo cenas de tortura com uma franqueza que o cinema nacional não registrava há muito tempo, em filmes como "Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia" (1977), de Hector Babenco, e "Pra Frente Brasil" (1982), de Roberto Farias, "Batismo de Sangue" aborda um período que começa em 1968. Na época, um grupo de jovens frades dominicanos adere à luta armada, fazendo contatos e dando apoio à fuga de seus integrantes, em plena ditadura militar, governo do general Emílio Garrastazu Médici.

Entre eles, Frei Betto (como é conhecido o frade, jornalista e escritor Carlos Alberto Libânio Christo, ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva) e Frei Tito de Alencar. Frei Tito acabou suicidando-se na França, em 1973, depois de sofrer um longo processo de depressão, causado pelas torturas sofridas nas mãos do delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Ao apresentar seu filme, o diretor Helvécio Ratton elogiou Brasília como "um festival onde o que importa são os filmes". Ele relembrou que sua carreira começou a decolar aqui mesmo, 20 anos atrás, quando foi premiado neste festival pelo filme "A Dança dos Bonecos".

Sobre "Batismo de Sangue", Ratton contou que o projeto desta filmagem começou em 2002, quando Frei Betto lhe enviou o livro "Batismo de Sangue" com uma dedicatória: "Coragem! A realidade extrapola a ficção."

Agora, com o filme terminado, o cineasta acha que pode dizer que "se apropriou dessa realidade". Também o ajudou o fato de ter, ele mesmo, militando na luta armada nos anos 70. Ratton chegou a viver exilado no Chile por alguns anos. Ao voltar ao Brasil em 1973, foi preso e passou alguns meses em celas escuras, isolado e, às vezes, completamente nu e encapuzado, como ele relata no livro "Helvécio Ratton -- O Cinema Além das Montanhas", de Pablo Villaça, da Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

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