RIO - Depois da Cidade do Rock, o Rio vai ganhar uma Cidade do Rap. O Riocentro será transformado, literalmente, na Cidade do Rap. Com um investimento de R$ 4,2 milhões e uma área de 60 mil metros quadrados, o Skol Hip Hop Manifesta será um megafestival que vai acontecer simultaneamente no Rio e em Florianópolis, nos dias 9 e 10 de janeiro. A raplândia carioca vai abrigar o palco principal e mais seis tendas, que vão explicar de forma quase didática a cultura do rap. Em Floripa, a proporção é menor (são esperadas 25 mil pessoas por dia). Lá, o evento vai acontecer dentro e nos arredores da casa de show X Music Hall, no bairro Jurerê Internacional.
Um avião particular modelo Gulf Stream (o mais caro do mundo) à disposição 24 horas por dia foi uma das exigências feitas pelo marrento astro Snoop Dogg para tocar pela primeira vez no Brasil -antes, ele já tinha vindo ao país para gravar um videoclipe. Snoop e seu desafeto Ja Rule, dois dos mais incensados rappers americanos, serão as principais estrelas do festival.
"Estávamos há seis meses esperando a confirmação do produtor do Snoop. É a realização de todos os meus sonhos", diz a produtora Diana Bouth, que, junto com o sócio Primo Preto (irmão de Branco Mello), foi escalada para contratar as atrações do festival.
O evento vai marcar, no Brasil, a absorção do gênero pelo mainstream. Hip-hop não é uma onomatopéia qualquer. Trata-se de um movimento que engloba a música rap, a dança break dos b-boys e a arte dos grafiteiros. Nascido nos guetos e incendiado pelo discurso de justiça social do rap, ele se tornou parte da cultura pop e passou a ser ouvido por jovens de todas as tribos. E é justamente este público (estimado em 80 mil pessoas nos dois dias), que deve lotar os shows de janeiro.
"O hip-hop tem o poder de unir pessoas de todas as classes sociais. Não estamos investindo num modismo, mas numa filosofia de vida em que acreditamos", diz Marcus Buaiz, um dos sócios da Host Entertainment (com Edsá Sampaio e Pedro Paulo Diniz), que, ao lado da Q! Fazz, de Luiz Calainho e Alexandre Accioly, está produzindo o evento.
Uma parceria que vem causando polêmica no meio hip-hop. O fato de que empresários do high society estejam envolvidos num movimento, que vai justamente contra o estilo de vida que "os manos" classificam como de "playboy", deixa muita gente irritada. "Playboy é quem fica na praia o dia inteiro. Acho que não é por aí. Eles têm que ver que estamos ajudando a fortalecer a cultura", defende-se Buaiz.
Para isso, eles se aliaram a quem entende do assunto. Diana Bouth e o quase-irmão Primo Preto (ex-VJ da MTV) são donos da RapSoulFunk, uma das maiores produtoras de rap de São Paulo, que organiza festas e shows há mais de 10 anos. "A união faz a força", comemora Diana.
Apesar de Snoop Dogg ter ficado com fama de antipático em sua vinda para o Rio no início do ano, quando gravou o clipe da música Beautiful, o astro dá sinais de carinho pelo país. "Quero fazer alguma ação social pelo Brasil", disse Snoop aos organizadores.
E é verdade. A sua Hip-Hop Foundation negocia com a produção a doação de um polpudo cheque - uma cifra na casa dos milhões de dólares - de Snoop para projetos sociais em comunidades carentes. O carioca Marcelo D2 (um dos responsáveis pela popularização do gênero) e os paulistas RZO (com seu discurso social afiado), Thaíde (da velha guarda) e SP-Funk (da nova geração) são os grupos nacionais que vão se apresentar no Rio e em Florianópolis em dias alternados. "Cada um representa uma vertente do hip-hop", explica a expert Diana Bouth.
Se por aqui os rappers nacionais se unem para fortalecer o movimento, lá fora a rivalidade é praxe. Ja Rule e Snoop Dogg não se cruzam. Por isso, quando um estiver tocando aqui no Rio, o outro estará em Santa Catarina. A briga entre os dois é antiga. Ja Rule também é inimigo número 1 do rapper 50 Cents (que é parceiro de Snoop em várias composições) e vive usando a mídia e as letras de suas músicas para trocar insultos. Até o líder religioso da Nação do Islã, Louis Farrakhan, já interveio na briga, alegando que, além do próprio hip-hop ser prejudicado, as crianças podem ser influenciadas pelo mau comportamento.
Mas parece que o discurso não teve efeito. No disco mais recente do Ja Rule, Blood in My Eye, o rapper fez uma declaração de guerra no encarte. "Eu provavelmente vou para a cadeia por mandar 50 Cents para o inferno", declarou. Em julho deste ano, um membro da banda de Ja Rule tentou quebrar o pescoço de um DJ em Durban, na África do Sul, só porque ele tocou a música 21 Questions, de 50 Cents, depois que eles saíram do palco.
Se no palco o clima é de guerra, a produção providenciou 400 seguranças para garantir que o Hip Hop Manifesta transcorra na maior paz. A Polícia Militar também irá apoiar o evento e revistar o público na entrada.
Os organizadores do festival, que vem sendo idealizado desde junho, afirmam que desde o início um dos principais objetivos é ajudar a popularizar ainda mais o gênero musical. "Com a programação paralela das tendas, quem não conhece nada de hip-hop terá a oportunidade de sair de lá dominando o assunto. Por isso, pensamos em tudo de forma bem didática", explica Diana.
Os preços variam: a partir deste domingo, mais 10 mil ingressos estão à venda por R$ 45,00 (um dia) e R$ 75,00 (passaporte para os dois dias). Quando este lote acabar, o valor passa a ser de R$ 55,00 (o dia) e R$ 80,00 (o passaporte). Os que se cadastrarem no site oficial do evento (www.hiphopmanifesta.com.br) terão direito a descontos. O festival também contará com um camarote com capacidade para mil pessoas. Ali o convite é mais caro (R$ 150,00), mas sem grandes luxos. O convidado terá direito a cerveja, água e refrigerante a noite toda. O local vai misturar quem pagou pelo ingresso e 50 convidados escolhidos pelo promoter Alex Lerner.
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