Pela Unesco

Bumba Meu Boi do Maranhão recebe título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade

O título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade irá contribuir com a preservação da cultura do Bumba Meu Boi, que agora tem reconhecimento mundial.

Imirante.com, com informações do Iphan

Atualizada em 31/03/2022 às 12h13
A expressão cultural representa, também, o sincretismo religioso.

MARANHÃO - É oficial, o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O título foi concedido nessa quarta-feira (11), durante a 14ª Reunião do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Bogotá, Colômbia.

O ministro do turismo, Marcelo Álvaro Antônio, comemorou o reconhecimento da Unesco e destacou que a decisão só reafirma nossa cultura riquíssima, que merece ser conhecida por todo o mundo. Para o ministro, o Maranhão é extremamente rico em atrativos culturais e naturais. “Essa diversidade está organizada em dez polos turísticos, cada um com suas vertentes naturais, culturais e arquitetônicos. E o bumba meu boi retrata toda essa diversidade, pois congrega diversos bens associados em uma única manifestação: performances musicais e teatrais, design e artesanato. É um bem que sintetiza toda a riqueza cultural que o nosso país possui”, afirmou.

A decisão também foi comemorada pelo secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim. “É o Brasil mostrando a força de sua cultura para o mundo. Esse reconhecimento não só fortalece o Bumba meu Boi do Maranhão como expressão cultural, garantindo a preservação deste bem, mas vem para agregar valor a esse imenso e rico repertório cultural que temos no Brasil e que, cada vez mais, tem sido valorizado mundialmente”, disse ele.

Essa riqueza popular foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural do Brasil em 2011 e, agora, tem reconhecimento mundial como uma expressão cultural extraordinária e uma verdadeira obra de arte

O diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI-Iphan), Hermano Queiroz, presente na reunião da Unesco, celebra o resultado. “Foi grande o trabalho e longo o caminho percorrido para se chegar a esse momento. O Complexo Cultural possui criatividade impar, sendo uma das manifestações mais importantes do país e agora também de toda a Humanidade".

Para o Superintendente do Iphan no Maranhão, Maurício Abreu Itapary, o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade para o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão é de grande importância para a cultura do Maranhão e do Brasil.

“Na realidade, o reconhecimento da Unesco é de grande importância para a cultura do Estado e do país. Esse título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade traz uma grande visibilidade para a cultura maranhense”, disse o superintendente do Iphan no Maranhão.

Maurício Itapary ainda destaca a importância de todos que fizeram parte para conquista do título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. “Quero agradecer a todos que ajudaram neste processo de reconhecimento. Viva a comunidade boieira! Viva a cultura do Maranhão!”, disse o superintendente.

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O Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão já é reconhecido nacionalmente como um testemunho da grande capacidade de criatividade humana e uma expressão cultural de alta relevância para memória, diversidade cultural e histórica do Brasil. Essa riqueza popular foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural do Brasil em 2011 e, um ano depois, na solenidade de titulação realizada em São Luís, o Comitê Gestor da Salvaguarda do Bumba-meu-boi entregou ao Iphan o documento solicitando a inscrição na Lista Representativa da Unesco. Agora, o Bumba Meu Boi tem reconhecimento mundial como uma expressão cultural extraordinária e uma verdadeira obra de arte.

Veja o vídeo da candidatura do Bumba meu Boi do Maranhão a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, divulgado pelo Iphan no dia 4 de dezembro de 2019.

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O Bumba-meu-boi do Maranhão é considerado um Complexo Cultural por abranger vários elementos. Ele é apresentado em forma de auto, tem característica de teatro, tem um teor de comédia, religiosidade, artesanato, tem muita musicalidade e coreografia, além de ser um forma de pagar promessas. Outra questão que chama atenção é a diversidade de sotaques do Bumba Meu Boi, os quais são ricos e encantadores, se diferenciando nos instrumentos e indumentárias.

“O Bumba meu boi realizado no Maranhão é considerado um Complexo Cultural por congregar diversos bens associados em uma manifestação. No campo da expressão popular, por exemplo, apresenta performances dramáticas, musicais e coreográficas, destacando-se ainda a riqueza das tramas e personagens. Já no plano material, podem ser apreciados os artesanatos, como os bordados do couro do boi e das indumentárias de seus personagens, os instrumentos musicais confeccionados artesanalmente, entre outros”, destaca o Iphan.

O Bumba-meu-boi do Maranhão é considerado um Complexo Cultural por abranger vários elementos.

O título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade irá contribuir com a preservação da cultura do Bumba Meu Boi, pois esse incentivo a tradição atrai pessoas de todas s partes do Brasil e do Mundo para ver esse espetáculo. Além de ser uma forma de valorizar a cultura, também atrai o turismo, gera renda e emprego, ou seja, melhora a economia local.

Tradição

A tradição do boi vem desde a antiguidade clássica, na Grécia, chega à Península Ibérica e depois vem para o Brasil, onde é ressignificada. É uma manifestação cultural que reúne todas as etnias: índios, negros e brancos europeus.

Diz a lenda que um fazendeiro branco português tinha um touro preferido em sua fazenda. No local, havia ainda um vaqueiro negro cuja mulher, Catilina, estava grávida. A mulher manifesta ao marido o desejo de comer a língua do touro preferido do fazendeiro. Ela convence o marido a matar o boi e tirar sua língua.

O vaqueiro satisfaz o desejo da mulher, mas quando o patrão começa a procurar seu boi de estimação, o vaqueiro se desespera, vai para a floresta e conta o que aconteceu ao pajé. O indígena vai para a fazenda, faz uma pajelança e o boi ressuscita. Com isso, uma grande festa é realizada na fazenda. O auto do boi tem ligação com a questão da morte e da ressurreição.

“Muitas vezes definido como um folguedo popular, o bumba meu boi extrapola o aspecto lúdico da brincadeira para fazer sentido como uma grande celebração em cujo centro gravitacional encontram-se o boi, o seu ciclo vital e o universo místico-religioso. Considerado a mais importante manifestação da cultura popular do Estado, tem seu ciclo festivo dividido em quatro etapas: os ensaios, o batismo, as apresentações públicas ou brincadas, e a morte. É vivenciado pelos brincantes ao longo de todo o ano”, detalha o Iphan.

Outra história ligada ao Bumba Meu Boi diz que o Rei de Portugal, Dom Sebastião, vai lutar na África e desaparece no meio do deserto, mas seu corpo não é encontrado. A lenda diz que durante a batalha, aparece um touro negro, chamado no Maranhão de boi encantado, que abre a barriga e o rei desaparece dentro dela. A história é ligada a religiões de matriz africana.

A expressão cultural representa, também, o sincretismo religioso, por meio da conexão entre os santos juninos da Igreja Católica, São Pedro, São João e São Marçal e os espíritos das florestas dos pajés. A aprovação da Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade é uma prova, também, da autenticidade e da relevância do Bumba Meu Boi para a identidade cultural do país.

“Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, o bumba meu boi envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal, que mobilizam promessas e marcam algumas datas comemorativas. Os cultos religiosos afro-brasileiros do Maranhão, como o Tambor de Mina e o Terecô, também estão presentes nessa celebração, uma vez que ocorre o sincretismo entre os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que requisitam um boi como obrigação espiritual”, explica o Iphan.

Lista de bens

Com esse título da Unesco, o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi é agora o sexto bem brasileiro a integrar a lista internacional. Os demais são: Arte Kusiwa - Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (2003), o Samba de Roda no Recôncavo Baiano (2005), o Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife (2012), o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2013) e a Roda de Capoeira (2014).

De acordo com o Iphan, a seleção de um bem cultural registrado para a Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade deve obedecer os seguintes critérios: o bem cultural é importante para o estabelecimento ou para o fortalecimento do diálogo entre os vários contextos culturais existentes no mundo; é representativo dos processos culturais constitutivos da sociedade brasileira e das várias situações sociais, ambientais e geopolíticas existentes no país; a candidatura do bem cultural contribui para reforçar a imagem culturalmente diversificada do Brasil no exterior; e o bem cultural transcende sua base social originária e possui, atualmente, significado para amplas parcelas da população Brasil.

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