Projeto cultural

Projeto Pular N’Água promove mergulho artístico em cidades do Maranhão

Com oficinas e residências artísticas, projeto realiza diversas atividades nas cidades de São Luís e Alcântara neste mês de outubro.

Na Mira, com informações da assessoria

Projeto Pular N’Água promove mergulho artístico em cidades do Maranhão.
Projeto Pular N’Água promove mergulho artístico em cidades do Maranhão. (Foto: Divulgação)

MARANHÃO – “Foi um grande momento de troca. Uma experiência muito impactante. Saí muito transformada com essa troca nas comunidades e aprendi muito com as mulheres quilombolas, principalmente em relação à técnica delas de cerâmica e conhecer seus quintais, seus cotidianos. Muito importante a experiência com essas mulheres, em poder ouvir, escutar sobre suas vidas e suas tradições”, destaca a artista goiana Sophia Pinheiro, uma das residentes do projeto Pular N’Água, sobre sua experiência no município de Alcântara, com a realização de oficinas e residência artística.

O projeto, que propõe um mergulho e um trânsito artístico entre artistas nacionais e maranhenses, e é realizado em São Luís e Alcântara ao longo deste mês de outubro, tem patrocínio do Banco do Nordeste Cultural, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Com produção geral do Chão SLZ e da Organik Produções, conta com concepção e curadoria de Paula Signorelli e Samantha Moreira, além de produção executiva da Mariana Cronemberger e apoio da Casa do Sereio, Centro de Produção Cerâmica de Itamatatiua e Museu de Alcântara.

A estreia do projeto no Maranhão ocorreu na capital maranhense no último dia 19 de outubro, com a realização de uma oficina gratuita de Escrita Criativa com Geovani Martins, do Rio de Janeiro, no Chão SLZ – a segunda etapa da ação ocorrerá no dia 26 de outubro, das 15h às 17h (as inscrições estão encerradas).

A partir de alguns contos do livro “O Sol na Cabeça”, de Geovani Martins, a oficina propôs ao público um espaço dedicado à escrita criativa, com foco em destacar os principais fundamentos do texto literário: o argumento, a estrutura e a linguagem – além de investigar os caminhos possíveis para escrever uma história.

Em Alcântara, a artista goiana Sophia Pinheiro apresentou uma oficina artística com ênfase na troca de práticas artísticas, pedagógicas e saberes ancestrais junto às ceramistas da comunidade de Itamatatiua, entre os dias 21 e 22 de outubro.

“Foi minha primeira vez no Maranhão, e minha primeira vez no Quilombo aqui no Maranhão. De cara, pude ouvir e participar dessas trocas para compreender o que estas mulheres quilombolas, de povos indígenas, fazem de diferente, para ver e aprender suas técnicas, e também ver algumas coisas que elas não sabiam. Ofereci uma oficina de pigmentos naturais, de como pintar a cerâmica, com reaproveitamento do próprio barro que elas têm lá. (...) E baseado também no meu trabalho, na minha investigação artística com as máscaras, eu propus para elas pensar máscaras que tenham a ver com elas e se tornou um lugar de força, de autocuidado e de proteção também. Foi uma experiência muito linda e única”, comemorou Sophia Pinheiro sobre o sucesso da oficina

Êxito também registrado na oficina de Poesia/ Escrever a Paisagem, também ofertada para os moradores de Alcântara – desta vez, pelo escritor maranhense Josoaldo Lima Rêgo, no dia 23 de outubro, das 17h às 21h.

A oficina visou a construção de um espaço de criação baseado na escrita e na observação dos lugares e da paisagem de Alcântara. Durante as quatro horas de encontro, que realizado no Museu de Alcântara e em caminhadas no seu entorno, os poemas de Maria Firmina dos Reis (“Itaculumim”) e Manuel Bandeira (“A Onda”) se tornaram os guias – e o elo – entre Josoaldo Lima Rêgo e o público para pensar o poema e a cidade.

Curadora e coordenadora geral do projeto, Paula Signorelli avalia que as oficinas e experiências artísticas oferecidas em São Luís e Alcântara foram muito importantes para o fortalecimento da troca de saberes e para a construção de novos ambientes artísticos.

“A troca não se dá de forma única, mas é construída ao longo do tempo, que também nos aguçou a pensar nesse projeto enquanto residência artística. E junto às artes visuais, temos também a poesia, com escritores do Maranhão e do Rio de Janeiro, para justamente pensar a partir das palavras e no âmbito poético para pensar o lugar que se habita e o lugar que se está, que se circula”, ressaltou Paula Signorelli.

Exposição

Além da residência artística e das oficinas, o Pular N’Água também contará com uma exposição inédita em sua programação. A ação, no caso, é resultado do processo artístico proposto na residência em São Luís e Alcântara, um mergulho nas vivências artísticas dos encontros realizados por meio das demais ações.

A exposição estreia neste sábado (26), a partir das 19h, no Chão SLZ, com uma roda de conversa entre os artistas participantes, curadoria e produção – a visitação poderá ser feita no período de 28 de outubro a 30 de novembro. Produções de Sophia Pinheiro (GO), Romildo Rocha (MA), Josoaldo Lima Rêgo (MA) e Geovani Martins (RJ) estarão em destaque na exposição.

Durante a cerimônia de abertura, será realizada, também, uma roda de conversa com todos os residentes, além da presença da curadoria e da equipe de produção do projeto. As atividades são gratuitas e contarão com intérprete de libras.

Conheça os residentes

Escritor e roteirista, Geovani Martins (Bangu/ Rio de Janeiro, 1991) participou, em 2013 e 2015, das oficinas da Festa Literária das Periferias, a Flup. Seu primeiro livro, a coletânea de contos “O Sol na Cabeça”, foi vencedor do Prêmio Rio de Literatura (2019) e ganhou edições em dez territórios pelo mundo. A coletânea de contos está sendo adaptada como série e ganhou edições em dez territórios, por casas prestigiosas como Farrar, Straus and Giroux, Faber & Faber, Gallimard, Suhrkamp e Mondadori. Seu segundo livro, “Via Ápia”, é o primeiro romance do autor, e conta a história de cinco jovens durante a chegada da UPP na Rocinha. O livro foi vencedor do prêmio APCA (2023) de melhor romance.

Já Sophia Pinheiro (Goiânia, 1990) é pensadora visual: professora, educadora popular, artista visual e cineasta. Doutora em Cinema e Audiovisual (PPGCine-UFF), mestre em Antropologia Social (PPGAS-UFG) e Licenciada e Bacharel em Artes Visuais (FAV-UFG), é professora Titular do Departamento de Cinema do Centro Universitário Armando Álvares Penteado (Faap) e uma das coordenadoras e conselheiras da Katahirine - Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas. Por meio de pinturas, desenhos, perfomances, fotografias e outros suportes audiovisuais, suas proposições artísticas confluem questões sobre mulheridades e ecologias, sendo atravessadas por seu ativismo feminista e em prol dos direitos indígenas. Desde 2015, desenvolve trabalhos de criação colaborativa junto a diferentes artistas indígenas a partir do cinema comunitário e oficinas de formação audiovisual e política, voltadas especialmente para mulheres indígenas.

Outros destaques da programação são a dupla de artistas maranhenses. Um deles é Josoaldo Lima Rêgo (Maranhão, 1979), geógrafo e poeta. Publicou os livros “Paisagens Possíveis” (2010), “Variações do Mar” (2012, finalista do Prêmio Jabuti), “Máquina de Filmar” (2014), “Carcaça” (2016, finalista do Prêmio Jabuti) e “Sapé” (2019), todos pela editora 7Letras. Participou das Coletâneas “É Agora Como Nunca” (organização de Adriana Calcanhotto, Companhia das Letras, 2017) e “Antologia Poética” (Revista Cult, organização de Alberto Pucheu, 2019). É professor universitário, com doutorado em Geografia pela Universidade de São Paulo e estágio no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Também integra o projeto o artista Romildo Rocha (Maranhão, 1989). Profundamente nordestino, o maranhense revela um Brasil pouco conhecido dos grandes centros em uma linguagem visual própria, manifesta em diferentes expressões artísticas. São xilogravuras (entalhes em madeira), pintura, desenho, aquarela e murais que revelam a magia escondida no cotidiano urbano e rural nordestino, memórias afetivas de um povo e o encanto da cultura popular do Maranhão. Após ganhar notoriedade no cenário do graffiti nacional, o trabalho do maranhense entra em uma nova fase que o torna tão singular: os detalhes das vivências no campo e na cidade; a subjetividade cultural e uma arte que carrega a singularidade e diversidade do povo nordestino.

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