Auxílio emergencial para artistas

Profissionais do setor cultural que não foram contemplados reivindicam acesso ao auxílio

Artistas revelam que passam por dificuldades financeiras por ficarem de fora do benefício anunciado pelo Governo do Maranhão no dia 12 de março.

Imirante.com com informações de O Estado MA

Atualizada em 27/03/2022 às 11h03
A medida foi criada após o anúncio das normas restritivas aplicadas dentro dos quatro municípios da Grande Ilha.
A medida foi criada após o anúncio das normas restritivas aplicadas dentro dos quatro municípios da Grande Ilha. (Foto: divulgação)

SÃO LUÍS - O Governo do Maranhão anunciou no dia 12 de março o auxílio emergencial para artistas com o intuito de minimizar os impactos econômicos decorrentes das medidas de restrição para conter a recente escalada do novo coronavírus por causa do fechamento temporário dos serviços presenciais de bares e restaurantes. Por meio da Secretaria de Cultura do Maranhão (Secma), o benefício que consta em uma parcela de R$ 600,00 foi liberado para uma parte do setor artístico da capital maranhense, mas em contato com o Imirante.com, muitos profissionais desse segmentam alegam que foram prejudicados pelo critério imposto pelo governo e relatam passar por dificuldades financeiras.

O critério do auxílio, que está com inscrições abertas até esta segunda-feira (22), é que os trabalhadores e trabalhadoras da cultura, que residem em São Luís, tenham sido anteriormente selecionados em editais da Lei Aldir Blanc ( que correspondem ao Conexão Cultural 3, Oficinas Artísticas, Artesanato, Fomento à Literatura e Renda Básica da Cultura). Porém, diversos artistas relatam em suas redes sociais que ficaram de fora do benefício por terem participado de outros editais do Conexão Cultural, ou até mesmo por não terem se encaixado em nenhum dos editais disponibilizados ao longo de 2020 e 2021, mesmo trabalhando com fomentos culturais e dependendo de bares e restaurantes.

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O produtor cultural Marcony Almeida comenta que muitos músicos que participaram de projetos beneficiados pela Lei Aldir Blanc ficaram sem a assistência do governo. “O que nos causou espanto, quando vimos a portaria que trata do auxílio, é que não existia a questão de que os fomentos culturais tivessem direito ao auxílio. A gente entende que são músicos porque na portaria estava dizendo que seriam contemplados todos os músicos que se inscreveram no Conexão Cultural do ano passado. E a gente entende que os fomentos culturais não deveriam ser todos abrangidos para o auxílio, pois o auxílio é destinado aos músicos pelo período em que os bares ficaram parados pela pandemia, mas dentro dos fomentos culturais nós temos alguns festivais com bandas. Bandas que não participaram do Conexão Cultural 3 por diversos motivos, inclusive a pandemia, pois não poderiam se reunir, mas eles não deixam de ser músicos, são músicos tão quanto os que se inscreveram na época”. relatou Marcorny.

De acordo com Almeida, músicos de mais de 24 bandas tentaram acessar o benefício e foram bloqueados. “Temos mais de cem músicos que participaram com suas bandas no festival que produzi pela Lei Aldir Blanc e não puderam ser contemplados pelo auxílio”, ressaltou o produtor.

Outra situação complexa é revelada por meio dos artistas que precisaram manter o isolamento total e seguem afastados de seus grupos artísticos por causa de comorbidades ou até mesmo para protegerem seus familiares. Nyelson Weber, músico, que está em isolamento social desde o início dos casos de Covid-19 no Maranhão, ressaltou o drama que vem passando por causa do isolamento social e falta de suporte por não poder participar de projetos como o Conexão Cultural e mesmo assim não receber o auxílio emergencial para artistas. “Pelo isolamento, a banda não se reuniu mais desde então, e não pudemos ensaiar e participar dos editais do governo pois haveria o risco de contrair a doença. Tem sido bem difícil tanto financeiramente quanto emocionalmente. Mas continuamos mantendo o isolamento, saindo apenas para coisas indispensáveis como médicos ou suporte a avó da minha mulher que mora sozinha e já tem 75 anos”, disse o músico.

Nyelson também apontou as principais adversidades para a participação dos editais foram os requisitos para inscrição, como a gravação do vídeo. “Para gravar com a banda teríamos que nos reunir em um estúdio pois nosso equipamento fica todo aqui em casa. Não teríamos como gravar cada um em casa e depois editar. Imagino que seja o caso de muitas bandas e grupos que ensaiam em estúdio. No edital 3 chegamos a imaginar uma forma de nos reunirmos onde moro, para gravarmos ao ar livre, com menos risco, mas ainda assim seria arriscado e precisaríamos ter qualidade de áudio e vídeo. Então o recurso do edital tem esse problema, você tem que ter recursos para que o material fique bom. Nós temos uma carreira de 25 anos, não dá para divulgar um material sem qualidade. Geralmente quando tocamos contratamos técnico de som, iluminadores, roadies, fotógrafos. Um outro ponto que não tem sido observado nos editais e agora no auxílio é essas várias classes que são componente essencial no entretenimento. Tenho conversado com amigos dessas áreas e eles não foram contemplados, a maioria dos artistas não contratou esses profissionais nas lives para não gastar o recurso”, finalizou Weber.

Outros segmentos

Não foram apenas os músicos que tiveram dificuldades com editais culturais. Artistas de outros segmentos, que também pararam com suas atividades no início da pandemia, também reivindicam o auxílio. Donny dos Santos, professor e produtor Cultural, é coordenador do Coletivo O Circo Tá na Rua, que conta com uma média de 30 colaboradores diretos. Ele conta que para a maioria do grupo esse período representou uma grande dificuldade financeira e, que mesmo com editais disponibilizados, a grande maioria o Coletivo não se encaixa no pré-requisito.

“Os editais que foram lançados da lei Aldir Blanc no Maranhão foram totalmente limitados, tanto para o quantitativo de artistas quanto para práticas mesmo. Ainda há uma dificuldade desses editais em dialogar com todas as linguagens artísticas. Muitos não têm como fazer um vídeo de 30 minutos e enviar. Tiveram vários artistas que não se inscreveram nos primeiros editais pois os requisitos não contemplavam todas as práticas. Estamos durante uma pandemia, precisamos de auxílio que contemplem todos”, frisou o coordenador.

O Coletivo participou do edital de fomentos culturais e realizou o II Festival de Circo em São Luís, que contou com a participação de mais 50 artista. O grupo também não pode participar do auxílio emergencial para artistas lançado pelo Governo de Estado.

Arrecadações

Diante desse cenário de aumento de casos da Covid-19, suspensão de eventos e a dificuldade de acesso ao auxílio para todos os artistas, grupos se reuniram para arrecadar doações para artistas da ilha de São Luís. “Fiz uma live semana passada para coleta de cestas básicas e consegui 120. Nunca vi tantas lágrimas como vi em rosto de colegas que nunca imaginei que um dia passariam por necessidades. É triste. Essa semana fizemos vaquinha para ajudar um colega que cortaram a luz dele. A música para, mas as contas continuam”, relatou Leo Djow, músico, que também não foi contemplado pelo edital da Lei Aldir Blanc.

Assim como o músico, o grupo UniãoBR, organização que reúne voluntários de todo o Brasil com o objetivo apoiar as comunidades mais vulneráveis aos efeitos da pandemia, tem realizado campanha para arrecadar e distribuir cestas básicas aos trabalhadores da música. A ação teve início em 10 de março e as entregas começaram na última segunda-feira (15). Ao todo, aproximadamente 300 trabalhadores já foram mapeados por meio de um formulário on-line direcionado a profissionais do setor que declararam estado de necessidade.

“O momento é muito delicado, estamos beirando a calamidade e não há solução senão a ação conjunta. Se por um lado, está posta a emergente e inegável necessidade de contenção da pandemia por meio das recomendações científicas, por outro, temos a fome e o desespero batendo na porta de tanta gente. É essencial respeitar as medidas sanitárias e, para quem está em condições, colaborar. Existem muitas iniciativas sociais confiáveis trabalhando”, relatou Wesley Sousa, músico e coordenador da campanha UniãoMA.

As entregas estão acontecendo na Vem Cantar Escola de Canto, localizada na Avenida Jerônimo de Albuquerque, no bairro Angelim. Os trabalhadores são avisados com antecedência para fazer a retirada da sua cesta básica. Aproximadamente, meia tonelada de alimentos já foram distribuídos durante essa semana. As arrecadações estão sendo realizadas por meio de uma vaquinha virtual hospedada no link vaka.me/1889057 ou no próprio local de distribuição.

Diálogo

De acordo com os profissionais de cultura escutados pelo Estado, diálogos e reuniões com a Secretária de Cultura do Maranhão ocorreram ao longo do último ano e de 2021, principalmente em relação ao auxílio anunciado no último dia 12, contudo, nenhum resultado ainda foi alcançado. O Estado entrou em contato com a Secma para pedir um posicionamento a respeito do segmento, porém, até o momento de publicação desta matéria, não houve nenhuma resposta.

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