Cinema

Combinando suspense e drama, 'Plano 75' chega aos cinemas brasileiros em abril

Premiado em Cannes e submetido para representar o Japão no Oscar 2023, o longa aborda o preconceito contra idosos num Japão distópico.

Na Mira

'Plano 75' chega aos cinemas brasileiros em abril.
'Plano 75' chega aos cinemas brasileiros em abril. (Foto: Divulgação)

BRASIL - Dirigido pela estreante em longas Chie Hayakawa, 'Plano 75' parte de uma premissa intrigante e futurista para falar das ansiedades e angústias do presente numa sociedade marcada pelo etarismo. O longa, que foi submetido para representar o Japão no Oscar em 2023 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, será lançado no Brasil no dia 25 de abril.

Ganhador de uma Menção Especial no Caméra D’Or do Festival de Cannes 2022, na seção Um Certo Olhar, o filme tem roteiro escrito pela diretora Hayakawa e Jason Gray e se situa num Japão conturbado e distópico. Para conter o envelhecimento da população, a Lei 75 é aprovada, segundo a qual, cidadãos e cidadãs a partir de 75 anos podem se inscrever para uma eutanásia em troca de mil dólares para gastar antes de morrer ou então deixar para a família. O programa se torna um sucesso e uma nova lei começa a ser discutida para baixar a idade do Plano para 65 anos.

“Penso que 'Plano 75' diz respeito à atmosfera de intolerância com as pessoas socialmente fracas, incluindo os idosos. Não temos essa lei de verdade, mas tudo o mais retratado no filme existe, como o fato de que há tantos idosos que precisam trabalhar por causa do sistema previdenciário frágil, que eles têm dificuldade em encontrar um lugar para viver, que se sentem excluídos da sociedade e que tendem a hesitar em procurar ajuda para a previdência por sentimento de vergonha. Existe um clima de pressão sobre os idosos que faz com que se sintam inúteis. A intolerância, a apatia e a falta de sensibilização em relação à dor dos outros são as coisas mais ameaçadoras que quero retratar neste filme”, explica a diretora.

Hayakawa conta que existe na sociedade japonesa, especialmente entre as pessoas de mais idade, a ideia de não querer incomodar aos outros, por isso as personagens, no filme, aceitam com tanta facilidade o Plano 75.

“Além disso, existe uma pressão social invisível que faz com que os idosos se sintam inúteis e um fardo para a sociedade. A mídia também propaga o medo de envelhecer e envelhecer a sociedade, por isso a ansiedade das pessoas está crescendo. Até os jovens se preocupam com as suas vidas após a reforma.”

A diretora também conta que 'A Balada de Narayama', clássico de Shôhei Imamura, serviu como inspiração para seu filme. “Sinto que os japoneses têm uma espécie de espírito de auto-sacrifício. Às vezes é dito como ‘virtude’ e ‘modéstia’. Há uma semelhança no espírito em 'A Balada de Narayama' e no 'Plano 75'. Aqui, quis retratar que o governo que não mostra a sua cara no filme, manipula esse espírito para levar a cabo este sistema desumano.”

Outro elemento que Hayakawa atualiza em seu filme é a noção de laços familiares na sociedade japonesa. Segundo a cineasta, aquela imagem da ligação forte entre os filhos e os pais ou os avós não corresponde mais à realidade contemporânea.

“A falta de vínculo (não só entre familiares, mas também entre outros e parentes não consanguíneos) é um dos motivos para tornar as pessoas apáticas com os outros. Esses dois personagens jovens, Hiromu e Yoko, a princípio não tinham imaginação para a dor dos outros. Mas por terem vínculo afetivo com Michi e Yukio, eles passam a sentir simpatia por eles. Acho que ter compaixão é a chave para lutar contra a intolerância e a apatia. Queria retratar uma esperança na percepção destes dois jovens.”

O elenco traz a veterana atriz Chieko Baishô (“É Triste Ser Homem: O Reencontro com Lily”), e jovens talentos, como Hayato Isomura e Yumi Kawai, além da filipina Stefanie Arianne.

“Este é um drama delicado, [que mostra como] a raiva que permeia momentos agridoces gradualmente se acumula em uma raiva palpável e persistente de como nos tornamos bons em rotular a crueldade como compaixão”, escreve David Ehrlich, na indieWire “O tratamento silenciosamente realista de Hayakawa da premissa distópica torna a visão assustadora”, diz Sara Merican, na revista Sight & Sound. 

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