Ancestralidade, saberes e vivência

Zahy Guajajara afirma que o fato de estar na cidade não arranca dela a ancestralidade

Pertencente a Aldeia Colônia, na reserva indígena Cana Brava, no Maranhão, a multiartista Zahy Guajajara é uma das convidadas neste domingo (30/1), às 19h, do Palco Virtual de Cênicas do Itaú Cultural.

Pedro Sobrinho/Jornalista

Atualizada em 27/03/2022 às 10h56
Zahy Guajajara na sala virtual do Plugado, na Mirante FM. Foto: Tânia Rêgo/agência Brasil
Zahy Guajajara na sala virtual do Plugado, na Mirante FM. Foto: Tânia Rêgo/agência Brasil (Zahy Guajajara)

Trocar uma ideia rápida com EUZILENE PREXEDE DO NASCIMENTO GUAJAJARA, conhecida por ZAHY GUAJAJARA, pertencente a Aldeia Colônia, da reserva indígena Cana Brava, no Maranhão, foi um privilégio enorme. Descobri que empoderamento, seja masculino ou feminino, é feito com verdade, espiritualidade, ancestralidade, superação, fé e determinação. Estas são as melhores traduções para esta indígena que representa o Maranhão no Palco Virtual de Cênicas no sábado (29/1) e domingo (30/1) - Travessias – Como Permanecemos Vivas? Vasta e multifacetada. Participam do projeto artistas das artes visuais, da dança, da música, do teatro e da literatura, representatividades negras e indígenas, para mostrar como utilizaram da criação para enfrentar os desafios provocados pelo isolamento social. Em outras palavras: como fizeram da arte um instrumento de cura e de sobrevivência, diante do caos sanitário e político que assola o Brasil ? Livres para criarem roteiros e apresentações em cima dessa temática, os convidados e convidadas acabam compartilhando com a plateia um pouco de suas trajetórias, oferecendo um leque diverso de linguagens e experiências, vivências e percursos de suas travessias nos últimos dois anos.

Indagada por mim sobre a performance que iria apresentar no domingo (30/1), às 19h, com transmissão on-line, a multiartista maranhense Zahy Guajajara. pede licença e troca a palavra "performance" por "ritual de passagem". Artista e experimentadora da voz e do corpo na perspectiva da arte, saúde e autoconhecimento, ela expande sua atuação a diferentes linguagens, além de estudar a relação estreita entre vida e arte. Ela usufrui ao máximo das expressões artísticas para compartilhar seus conhecimentos ancestrais, adquiridos em uma trajetória iniciada na aldeia Colônia, localizada na reserva indígena Cana Brava, onde nasceu.

- Embora as pessoas conheçam mais este termo performance eu ouso a dizer que irei fazer um ritual de passagem baseada na minha ancestralidade, na minha vivência na minha reserva, na minha aldeia, no meu povo. Mais do que isso o meu ritual (ele) quer dizer que não importa onde eu esteja, que passei. Posso atravessar mundos, já fui para outros países, já convivi com pessoas de diversas culturas e formas de pensar, eu fui atravessada por muitas culturas, muitos pontos de vista diferentes. Mas a minha ancestralidade está dentro de mim e não acaba porque fui para outro país. O fato de estar na cidade não arranca de mim a ancestralidade. A minha ancestralidade está comigo e não importa onde eu estiver. Ela está presente em primeiro lugar em mim - assegura.

Superação

A índígena Zahy, que teve de superar desafios e perdas da mãe, irmãos, sobrinhos, para a Covid-19, na Pandemia, decidiu sair do Maranhão rumo ao Rio de Janeiro aos 19 anos, quando conversou pelo Orkut com primos que já moravam lá, na Aldeia Maracanã, prédio ao lado do estádio onde ficava o Museu do Índio, que havia sido ocupado por indígenas.

- Entrei no ônibus e desatei a chorar – era uma decisão muito louca, eu era muito matuta, nunca tinha saído daquela região. Ao chegar, três dias de viagem depois, foi um deslumbramento total, fiquei encantada com tudo. Comecei a me envolver com o ativismo indígena, ia para escolas falar sobre nossa cultura, participava de manifestações contra a demolição da Aldeia Maracanã. Foi por causa da divulgação de fotos e vídeos dos protestos na internet que me viram e me chamaram para fazer teste para Dois Irmãos. Eu nunca tinha feito nada como atriz - conta.

Depois de Dois Irmãos, ela gravou um longa do Felipe Bragança, Não Devore Meu Coração, que passou pelo Festival de Sundance e foi exibido no Festival de Berlim, e um média-metragem, Sociedade da Natureza, do português Pedro Neves Marques, em 2017. Também participou da peça de teatro, Jamais ou Calabar, do Jorge Farjalla.

- Com o dinheiro dos trabalhos, pude ajudar a minha família. Eu vivo pelo meu povo, quero mostrar que os índios também podem fazer tudo - destaca.

Palco Virtual

O Itaú Cultural retoma o Palco Virtual de Cênicas nos sábados e domingos de janeiro (dias 22, 23, 29 e 30/1) com Travessias – Como Permanecemos Vivas? Vasta e multifacetada, esta programação idealizada pelo ator, produtor e diretor Aury Porto e realizada pelo IC, convida o público a refletir, por meio da arte, sobre as transformações enfrentadas pelo universo artístico nos últimos anos. Em quatro noites, oito artistas de diferentes linguagens vão realizar performances híbridas – entre gravações e momentos ao vivo – de até 30 minutos, sobre como enfrentaram os desafios impostos pela pandemia de Covid 19.

Gratuito, como toda a programação do Itaú Cultural, o Palco Virtual é transmitido pela plataforma Zoom. Nos sábados, os encontros são às 20h, e nos domingos, às 19h, com a apresentação de duas performances por dia, sempre seguidas de uma conversa entre artistas e plateia. Os bate-papos são mediados pela dramaturga e psicanalista Cláudia Barral e por Aury Porto. Os ingressos devem ser reservados pela Sympla. Mais informações no site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br.

Travessias se propõe a investigar como as linguagens artísticas funcionaram como instrumento de cura do indivíduo e da sociedade durante a pandemia. Dentro desse conceito, a cura é entendida de forma abrangente, como força de transformação e autoconhecimento, ressignifição, comunicação, empatia, expressão e imaginação.

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