Buscas por desaparecidos

Conheça a atuação dos mergulhadores da Marinha no resgate às vítimas da queda de ponte

Atividade é considerada de alto risco e demanda equipamentos, como a câmara hiperbárica para garantir a saúde dos mergulhadores.

Imirante, com informações da Marinha do Brasil

Atualizada em 04/01/2025 às 08h11
Na atividade de mergulho, o espírito de companheirismo e equipe é preponderante. (Foto: SG Carlos)
Na atividade de mergulho, o espírito de companheirismo e equipe é preponderante. (Foto: SG Carlos)

ESTREITO - Devido à sua complexidade, atividades de mergulho demandam pessoal altamente capacitado e uma estrutura de apoio com equipamentos adequados. Os mergulhadores da Marinha do Brasil (MB) são empregados em operações sensíveis, como a busca pelas vítimas do desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que liga as cidades de Estreito, no Maranhão, e Aguiarnópolis, no Tocantins, ocorrido em 22 de dezembro de 2024. 

Segundo o Chefe do Destacamento de mergulhadores, Capitão de Mar e Guerra Albino Manoel Borges Santos, o cenário encontrado pela equipe no Rio Tocantins impôs o uso de duas técnicas: o mergulho autônomo e o mergulho a ar dependente. Enquanto a primeira é utilizada para, inicialmente, identificar e marcar os pontos de interesse, a técnica do mergulho a ar dependente permite que, ao serem localizados os referidos pontos de interesse, a área seja explorada. Isso acontece porque essa modalidade possibilita que o mergulhador permaneça mais tempo em profundidade, potencializando as buscas.

“O mergulho a ar dependente conta com uma série de aparatos próprios, destinados a essa técnica. Por exemplo, a tradicional máscara é substituída por capacete. Com ele, o mergulhador consegue receber o ar que vem da superfície”, detalha o Capitão de Mar e Guerra Albino.

Para o mergulho a ar dependente, é designado um mergulhador principal – também conhecido como “vermelho” – para fazer o trabalho. Além dele, há o chamado mergulhador “amarelo”, responsável pela segurança do principal, caso haja alguma intercorrência embaixo d’água, e, ainda, um terceiro mergulhador, o “verde”, que atua como reserva do resgatista. 

Para o Capitão de Mar e Guerra Albino, na operação no Rio Tocantins, em que as profundidades chegam a superar os 40 metros, as maiores dificuldades dizem respeito aos destroços, como cabos de aço, material de alvenaria, concreto e os próprios veículos encontrados. Para atuar em cenários de tamanha exigência, os mergulhadores da MB passam por um rigoroso treinamento durante sua formação no Centro de Instrução e Adestramento Almirante Átilla Monteiro Aché (CIAMA), no Rio de Janeiro (RJ).

Câmara hiperbárica: equipamento vital à segurança dos mergulhadores 

A equipe de saúde especializada é parte da estrutura essencial às operações de mergulho, a fim de que qualquer evento adverso seja imediatamente tratado. Por ser uma área de atuação com muitas particularidades, na MB há tanto médicos quanto enfermeiros aptos a trabalhar com a câmara hiperbárica, um dos equipamentos fundamentais nesse contexto. 

A câmara hiperbárica, que conta com câmara e antecâmara, precisa de uma equipe de médicos e enfermeiros especializados para operá-la. (Foto: SG Carlos)
A câmara hiperbárica, que conta com câmara e antecâmara, precisa de uma equipe de médicos e enfermeiros especializados para operá-la. (Foto: SG Carlos)

“A câmara hiperbárica serve para fazer o tratamento dos mergulhadores acidentados. Ela é composta de uma antecâmara e uma câmara, e comporta até três militares. É possível entrarmos nela para atender a vítima”, afirma o Capitão de Corveta (Médico) Felipe Silva Rampazzo, também presente na missão de resgate às vítimas do desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, assim como mais um médico e dois enfermeiros hiperbáricos.

Na ação, o posicionamento da câmara em terra foi concebido para, em caso de necessidade, o mergulhador ser conduzido a ela em até 7 minutos, podendo ali permanecer de três a cinco horas, a depender do tratamento que vá ser administrado.

“Nós usamos a câmara para proporcionar um ambiente mais próximo àquele da profundidade em que o mergulhador estava, de atmosfera maior do que a natural. Isso minimiza as lesões. Conseguimos administrar oxigênio para acelerar a saída de nitrogênio residual do organismo e, assim, evitar lesões mais graves”, detalha o Capitão de Corveta Rampazzo.

Um dos acidentes mais comuns em operações de mergulho é a chamada doença descompressiva, causada justamente pelo acúmulo de nitrogênio durante o tempo passado submerso – por isso, há a necessidade do fiel cumprimento das tabelas de descompressão. Essa doença pode afetar o sistema neurológico, bem como lesionar diversos tecidos do organismo. Quanto mais tempo o mergulhador passa em grandes profundidades, mais chances de acontecer uma doença descompressiva, e a câmara hiperbárica permite reduzir e estabilizar a presença de gases, oferecendo o tratamento adequado.

Desde o dia 22 de dezembro, equipes da MB atuam no local do desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira. A equipe de mergulho chegou já na segunda-feira (23). No decorrer dos dias, chegaram à cena mais militares e meios, como o helicóptero UH-15 (Super Cougar), embarcações e viaturas, entre outros.

Nas ações de busca e resgate, além da Marinha, atuam outras entidades do Poder Público, como os Corpos de Bombeiros do Maranhão, do Tocantins, do Pará, do Distrito Federal e São Paulo, e empresas privadas.

Tragédia

A Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira desabou na tarde do domingo, 22 de dezembro de 2024. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do governo federal, o desabamento aconteceu porque o vão central da ponte cedeu. O órgão abriu uma sindicância para apurar as causas e efetivar as responsabilizações pelo desabamento.

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