Pergentino Holanda: Pazes com o público
E mais: Uma noite serena
Pazes com o público
O Oscar fez as pazes com o público ao consagrar Oppenheimer (2023), que recebeu sete estatuetas na 96ª premiação, domingo, no Teatro Dolby, em Los Angeles: melhor filme, direção (Christopher Nolan), ator (Cillian Murphy), ator coadjuvante (Robert Downey Jr.), fotografia, edição e trilha sonora original.
Fazia muito tempo – exatos 20 anos – que a Academia de Hollywood não entregava seu principal troféu a um título efetivamente abraçado pelos espectadores, um legítimo campeão de bilheteria.
O último havia sido o bilionário O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003). De lá para cá, nenhum ganhador bateu a marca do meio bilhão – o que chegou mais perto, US$ 423,9 milhões, foi O Discurso do Rei (2010).
Oppenheimer, US$ 957,8 milhões, tem sozinho uma arrecadação quase igual à soma dos seis vencedores anteriores: A Forma da Água (2017), Green Book (2018), Parasita (2019), Nomadland (2020), No Ritmo do Coração (2021) e Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022).
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É importante destacar que Oppenheimer não foi sucesso só de audiência. Conquistou a crítica e a indústria: recebeu praticamente todos os chamados prêmios prévios do Oscar, como o Globo de Ouro, o Critics Choice, o Bafta, os troféus da Associação dos Produtores dos EUA e dos sindicatos dos diretores e dos atores.
Oppenheimer era tudo o que a Academia precisava: um vencedor com engajamento do público, respaldo da crítica e sintonia com o contexto político. Tanto com o dos EUA, sacudidos pela tradicional polarização que antecede as eleições presidenciais, quanto o do mundo, assustado pelas guerras como Rússia contra Ucrânia e Israel versus Hamas.
A trama sobre o físico considerado o pai da bomba atômica reconstitui um capítulo doloroso da história norte-americana: o bombardeio de Hiroshima, no Japão, em 6 de agosto de 1945, nos estertores da Segunda Guerra Mundial.
Estima-se que morreram entre 90 mil e 166 mil pessoas, a maioria civis, no ato da explosão ou por causa do efeito de queimaduras e do envenenamento radioativo.
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Que uma obra sobre um tema tão sério tenha atingido perto de US$ 1 bilhão nas bilheterias é mais um feito na carreira de Christopher Nolan, hábil na capacidade de propor algo a mais no cinema de entretenimento – vide A Origem (2010), um filme de ação para psicanalistas.
O triunfo de Oppenheimer no Oscar, porém, não se deu de imediato. Com 13 indicações no total, perdeu as cinco primeiras categorias que disputava, três delas (design de produção, figurinos e maquiagem e cabelos) para o mesmo filme, Pobres Criaturas, que no final da noite teve Emma Stone merecidamente premiada como melhor atriz, fechando como o segundo título mais laureado.
A partir do troféu de ator coadjuvante, a cinebiografia passou a confirmar seu favoritismo, primeiro com Robert Downey Jr. (um lobo em pele de cordeiro no seu papel), depois com a editora Jennifer Lame (outra conquista justíssima: seu trabalho ajuda o espectador a entrar na mente do protagonista), o diretor de fotografia Hoyte van Hoytema e o compositor Ludwig Göransson.
Quando Cillian Murphy foi anunciado como melhor ator, ficou claro que a noite seria de Oppenheimer.
Ponto em comum
A guerra é um ponto em comum entre quatro dos principais ganhadores. O longa de animação O Menino e a Garça se passa em 1943 e tem como protagonista um garoto traumatizado pela morte da mãe após o bombardeio de um hospital de Tóquio.
Melhor filme internacional, representando o Reino Unido (mas falado em alemão), Zona de Interesse acompanha o cotidiano familiar do nazista comandante do campo de extermínio de Auschwitz.
No discurso, o diretor Jonathan Glazer, que é judeu, uniu passado e presente: disse que sua obra mostra o pior da mesma “desumanização” que fez vítimas tanto no ato terrorista do Hamas em Israel no dia 7 de outubro de 2023 quanto no ataque em curso das forças israelenses aos palestinos de Gaza.
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Já o ucraniano Mstyslav Chernov, diretor do Oscar de melhor documentário, 20 Dias em Mariupol, desejou poder reescrever o passado:
– Este é o primeiro Oscar da história da Ucrânia. E estou honrado. Mas provavelmente serei o primeiro diretor neste palco a dizer que gostaria de nunca ter feito este filme. Desejo poder trocar isto pelo fato de a Rússia nunca atacar a Ucrânia, nunca ocupar as nossas cidades. Os russos estão matando dezenas de milhares de meus compatriotas.
Uma noite serena
Verdade seja dita: a cerimônia do Oscar deste ano, que pouco diferiu da do ano passado ou da de há dois anos (que premiou dois filmes inesquecíveis de que já ninguém se lembra, respectivamente Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo e Coda, e fazendo o favor de não ir três anos atrás e lembrar um filme tão absolutamente marcante na história do cinema como Nomadland), foi uma coisa tão morna, tão robótica, tão burocraticamente ritualista, que até custa a perceber que há bem poucos anos se tenha lançado o alarme porque as transmissões televisivas dos Óscares (que é o que a cerimônia é, um espetáculo de televisão) estavam perdendo audiência.
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É com esta coisa amorfa, pacífica como a distribuição de diplomas de participação num festival de grupos de teatro de liceu, que as audiências se recuperam? Impossível, o grau de codificação (no sentido que a palavra tem na informática) subjacente a isto é a negação do espetáculo, já nem o happening é possível, sabemos que Marlon Brando não vai se fazer representar por uma nativa-americana, que Bert Schneider não vai ler uma saudação dos vietcongs ao povo americano em plena guerra do Vietnan, que Roberto Benigni não vai lançar o caos saltando por cima das cadeiras, que Elia Kazan não vai ser homenageado e dividir em sala em dois, entre os que aplaudem o cineasta e os que se lembram da sua cedência à caça às bruxas do senador McCarthy.
O mundo não está menos tenso, mas a cerimônia quer ser higiênica, fraternal, sem sobressaltos, a tensão fica à porta – uma referência a Israel e à Palestina, uma referência à Ucrânia (ambas a cargo de premiados), uma piada a desfazer Donald Trump, mas tudo integrado, facilmente digerível, apagado pela salva de palmas seguinte. À falta de o show tem que continuar.
DE RELANCE
O bruxo e o robô
Deu o que falar aquele totem com o avatar digital de Machado de Assis colocado na entrada da Academia Brasileira de Letras para interagir com os visitantes.
Nem bem a poeira do primeiro espanto baixou e já começaram as críticas, que vão da cor da pele do escritor aos seus posicionamentos póstumos.
Nada de novo no front da polarização nacional. Porém, se o debate estimular a leitura ou a releitura de suas obras, a inovação já terá sido válida.
Mas o que mais chama a atenção de intelectuais como Nilson Souza nessa polêmica é a evidência de que parte expressiva da nossa intelectualidade continua resistindo à inteligência artificial.
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Já parece até uma nova forma de negacionismo. Ora, o mundo não vai girar para trás. Os algoritmos, os robôs falantes e os avatares que incorporam rostos e vozes de pessoas vivas e mortas chegaram para ficar.
Assim como Elis Regina foi reanimada para cantar com a filha naquele anúncio da fábrica de veículos, é praticamente certo que outros famosos (e até muitos anônimos) voltarão do país da saudade para nos visitar de vez em quando.
De minha parte, confesso, fiquei bem impressionado com a versão digital de Machado de Assis, embora um tanto decepcionado com a sua resposta sobre a suposta traição de Capitu.
Como Bentinho, teremos que levar a dúvida para a eternidade. Porém, é possível que em algum ponto futuro também tenhamos a chance de voltar de lá para rediscutir o assunto.
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O curioso do ludismo digital é que a maior resistência à inteligência artificial parte de pessoas que poderiam tirar melhor proveito da tecnologia, exatamente aquelas que detêm maior bagagem cultural.
Como se sabe, os robôs são ‘treinados’ por humanos. E obedecem com mais precisão às orientações daqueles que melhor se comunicam com eles.
Com todo o respeito aos jovens que já nasceram digitando com os polegares, são os leitores experientes que possuem maior vocabulário e informações mais consistentes para interagir produtivamente com os emissários da inteligência artificial.
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Nilson Souza dá um exemplo prático: poucos adolescentes saberiam o que perguntar para o Bruxo do Cosme Velho recém-ressuscitado.
O apelido, como sabem os que já leram sobre o patrono da ABL, lhe foi dado pelos vizinhos de rua depois de vê-lo queimando cartas em um caldeirão, no pátio de sua residência.
Em compensação, até para não acirrar o conflito de gerações, cabe reconhecer que os jovens recebem com muito mais naturalidade inovações tecnológicas como o totem falante da ABL.
Coisa Mineira
Hoje é dia de festa na Coisa Mineira, um empório e cafeteria na avenida Sambaquis, no Calhau, que serve delicias inspiradas na mais tradicional culinária mineira.
A casa vai receber às 19h30, o jornalista e especialista em queijos, Eduardo Girão, para uma degustação de queijos e outras delícias mineiras.
Será um percurso de degustação de diversos queijos, harmonizados com charcutaria, mel, geleias e algumas surpresas.
Eduardo Tristão Girão é jornalista gastronômico graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Foi repórter do jornal Estado de Minas de 2004 a 2016. Já colaborou com o jornal Estado de São Paulo e as revistas Prazeres da Mesa, Gula, Encontro e do Supermercado Verdemar, além de ter integrado o júri da lista anual The World’s 50 Best (50 Melhores Restaurantes do Mundo) da revista inglesa Restaurant entre 2010 e 2012.
Fez viagens gastronômicas para Portugal, Chile e Espanha e cobriu a maioria das edições do Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes, além de eventos como Mesa Tendências (São Paulo; 2008 e 2014) e Madrid Fusión (Espanha; 2013). Avaliou bares e restaurantes para o Guia Unibanco Minas Gerais (editora Bei, 2005). Atua como mediador e jurado em competições, debates e demais eventos do setor gastronômico. Desde 2016, promove degustações harmonizadas de queijos artesanais mineiros.
Motorista de aplicativo e o IR
Além da contribuição previdenciária, o projeto de lei do governo para regulamentar o transporte de passageiros por aplicativos estabelece novas regras sobre o Imposto de Renda (IR) da categoria.
Um dos responsáveis pela elaboração da proposta, o secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Francisco Macena, assegurou que a maioria dos motoristas deverá ser enquadrada na faixa de isenção.
O governo vai considerar 25% do faturamento bruto como renda final.
Pelas regras atuais, ficam isentos de contribuição do IR os trabalhadores com rendimentos de até dois salários mínimos, o que soma R$ 2.824 mensais.
Mas a situação será diferente para motoristas que possuem mais de uma fonte de renda. Mesmo os profissionais que fazem viagens eventuais serão obrigados a informar esta renda, e contribuir à Previdência.
Viagem e traduções
Tecnologia auxilia turistas que desconhecem idioma nativo, sendo possível obter traduções para o português em tempo real.
Muitos viajantes se veem em apuros quando aterrissam em outro país sem saber se comunicar no idioma local. Com auxílio da inteligência artificial (IA), é possível acessar aplicativos, em sua maioria gratuitos, que fazem traduções em tempo real a partir do próprio celular do visitante.
Entre os recursos, estão a possibilidade de tirar uma foto de uma imagem que contenha frases em uma língua qualquer e traduzi-la. Também é possível transpor para o português, quase simultaneamente, o que é conversado naquele momento. Estas tecnologias podem ajudar o viajante em diversas situações do cotidiano.
Para escrever na pedra:
“Acredite em si e chegará um dia em que os outros não terão outra escolha senão acreditar com você”. De Cynthia Kersey.
TRIVIAL VARIADO
Insegurança alimentar: o número de brasileiros que passam fome caiu de 33 milhões em 2022 para 20 milhões em 2023, aponta o Instituto Fome Zero.
Negras na mira: são negras 68,3% das mulheres executadas com armas de fogo no Brasil, de acordo com levantamento do Instituto Sou da Paz.
Nesta data, em 1930, Mahatma Ghandi e seus discípulos começaram a marcha de cerca de 400km, protestando contra as imposições de mercado da Inglaterra. O evento ficou conhecido como a Marcha do Sal.
O executivo empresarial Benjamin Franklin Alves foi nocauteado por uma virose que está grassando na cidade e está na UTI do UDI Hospital.
Na noite de segunda-feira foram vistos no jantar da Cabana do Sol, o deputado federal Márcio Jerry, com amigos políticos, e o empresário Daniel Aragão de Albuquerque Filho.
Saiba Mais
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