SÃO LUÍS – Um dos principais objetivos do atleta é se tornar campeão. Algo errado nisso? Não. Mas nem sempre ser campeão significa subir no lugar mais alto do pódio. Se tornar um vencedor ultrapassa aquele momento em que se recebe uma medalha de ouro. Ser campeão, neste caso, não é ser o melhor atleta. Não é exibir inúmeros troféus e medalhas. Às vezes, para ser um campeão, basta ser alguém que se preocupe pelo bem do outro, que esteja sempre disposto a ajudar, mesmo que não haja remuneração financeira. Talvez, ser campeão é ser como o professor e ex-atleta José Ribamar Soares Ribeiro, o Riba. Por quê? Porque ele se dedica a transformar as vidas de pessoas com deficiência por meio do esporte. Por isso, o agora professor conduzirá a tocha olímpica em São Luís neste domingo (12).
Para quem não conhece Riba, o Imirante Esporte trata de apresentá-lo. Aos 49 anos, ele ganhou destaque nas provas de atletismo ainda na adolescência. Conquistou títulos e mais títulos. Mas ser campeão na pista não se compara com o trabalho que o ex-atleta realiza fora dela. José Ribamar Soares Ribeiro é professor da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e trabalha com pessoas com deficiência intelectual. Muitos dos alunos de Riba costumam representar o Maranhão em competições nacionais e internacionais, sempre trazendo bons resultados.
“O trabalho que eu comecei foi despretensioso porque quando a gente começa a trabalhar com esporte, a gente não vê a dimensão, o fenômeno que é o esporte. Não pensei em formar campeões a princípio. Como atleta, ganhei vários títulos, mas as minhas maiores conquistas foram minhas amizades, o respeito que as pessoas tinham por mim. Isso me marca muito”, disse.
Mas o professor não se limita ao trabalho na Apae. Sabe aquele sujeito que parece um “paizão”? Pois é, Riba é tipo assim. Ele desenvolve, por conta própria, um trabalho voluntário fora da Apae, dando aulas gratuitas de atletismo para pessoas com deficiências visuais e físicas.
“A pessoa com deficiência é uma pessoa como qualquer outra. E pessoas têm dificuldades e habilidades. Nós, como professor, instrutor, como alguém mais experiente, temos que aprender a lidar e fazer com que as pessoas lidem com as suas dificuldades e habilidades. Ninguém é vazio de habilidades físicas, intelectuais, sociais. Falta o estímulo e a gente saber aproveitar o melhor de cada pessoa”, explicou.
O exemplo de “Chuchu”
É claro que ninguém se propõe a desenvolver um trabalho sem querer algo em troca. Para alguns, dinheiro, bens, status são fundamentais. Para outros, basta que seus “pupilos” se tornem cidadãos que, a cada dia, se superem.
“Não tem nada que pague. Nada paga a superação de uma pessoa. O sentimento do professor é o dever cumprido. Se você conseguir melhorar, você já está me pagando. Por isso, estamos de portas abertas para quem quiser treinar com ou sem deficiência. A gente tem que dar oportunidade. O esporte te direciona para um lugar bom, agrega valores”, revela Riba.
E, uma das maiores recompensas do professor José Ribamar Soares Ribeiro no atletismo, foi ver que, por meio do esporte, a vida de uma família pôde ser mudada para melhor. Riba recorda de seu aluno Carlos Denilson, conhecido como “Chuchu”. Aos 14 anos e com deficiência intelectual, “Chuchu” começou no atletismo sem conseguir dar uma volta completa na pista.
No entanto, o trabalho do professor, aliado ao esforço do garoto e ao apoio de sua família, transformaram aquele jovem em um campeão no esporte e na vida. Aos poucos, a mãe, o pai e o irmão de “Chuchu” foram cativados a praticar o atletismo.
E, hoje, aos 28 anos, aquele garoto, que mal conseguia dar uma volta na pista, corre 21 km e já contabiliza muitos títulos em meias-maratonas. “Fico feliz ao ver que o esporte e uma pessoa com deficiência conseguiu mudar a história de toda uma família. Isso é uma coisa que me marca. O esporte mudou a vida de uma pessoa com deficiência intelectual e conseguiu direcionar a família para um caminho bom. O campeão é para uma equipe. Já o cidadão é para toda a sociedade”, concluiu.
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