PARIS - Respirar fundo. Correr 25 metros. Pegar impulso em um trampolim e em uma mesa, que tem 1,25m de altura. Girar e girar e girar mais um pouco no ar. Cair de pé. Saudar os jurados. Parece simples, não?
Não, realmente parece tão complicado quanto soa. O salto é uma das provas mais emocionantes da ginástica artística, justamente pela execução de movimentos tão difíceis em poucos segundos. Para a felicidade da torcida brasileira, uma das melhores do mundo nesse aparelho é Rebeca Andrade.
Todo salto tem duas notas: a de partida, ou de dificuldade, que é um valor previamente determinado pelo código de pontos, de acordo com quão difícil de acertar um salto é. O Biles II, por exemplo, atualmente é o maior nesse quesito no feminino, com 6.4 de dificuldade.
A esta nota é somada a de execução, que vai até 10 pontos e sofre descontos de acordo com erros da ginasta, como altura baixa, pés não alinhados, chegada com tronco baixo ou passos na aterrisagem.
Campeã Olímpica e bicampeã mundial no aparelho, Rebeca tentará subir ao pódio mais uma vez em Paris 2024. Para isso, ela precisará acertar alguns dos saltos a seguir ou introduzir uma novidade.
Se você quer saber um pouco mais sobre os saltos das principais ginastas, continue lendo. Lembre-se de que, na final deste aparelho, dois saltos são apresentados - necessariamente de 'grupos' diferentes - e a média deles é o que conta para o resultado final.
Como é o salto Cheng, o preferido de Rebeca Andrade
Símbolo da conquista de Tóquio, o salto criado pela chinesa Cheng Fei separa as boas das grandes neste aparelho. Rebeca é uma das poucas que consegue acertá-lo com maestria. No Pan de 2023, por exemplo, a brasileira alcançou a raríssima nota de execução de 9.733 com ele.
Veja as fases do Cheng:
- Nota de partida: 5.6
- Na aproximação à mesa, a ginasta dá uma meia volta (180º) e chega à mesa encarando-a de frente
- Na segunda fase, após soltar a mesa, a ginasta faz uma pirueta e meia (540º) na posição esticada no ar
- Na chegada, a ginasta encara a mesa de frente
Como é o ‘temido’ salto Amanar
O Amanar, também conhecido como Yurchenko com dupla pirueta e meia, já foi o salto do momento entre as ginastas, mas sua chegada 'cega', em que a ginasta não enxerga quando seus pés atingem o colchão, fez com que ele ficasse mais raro de se ver.
Foi neste salto em Tóquio 2020 que Simone Biles sentiu os ‘twisties’, perdendo a noção de onde estava durante o movimento. Rebeca usou o Amanar na decisão no Japão, voltou a mostrá-lo no treino de pódio de Paris e talvez o traga de volta oficialmente para esta final.
Em todos os saltos da família Yurchenko, você vera a expressão “rondada flic-flac”, que é o movimento de aproximação da ginasta até a mesa, consistindo em uma ‘estrela' com os pés juntos seguido de um salto para trás. Entenda o salto:
- Nota de partida: 5.4
- Rondada flic-flac para a mesa, com a ginasta entrando de costas no aparelho
- Na segunda fase, após soltar a mesa, a ginasta completa duas piruetas e meia (900º) na posição esticada no ar
- Na chegada, a ginasta fica de costas para a mesa
Tanto o Amanar quanto o Cheng são saltos de altíssimo nível, capazes de decidir medalhas Olímpicas.
Como é o DTY, salto mais usado na elite da ginástica
Provavelmente o salto que será mais visto nesta final será o DTY, sigla em inglês para Yurchenko com dupla pirueta, também nomeado como Baitova. Ele é igual ao Amanar, mas sem a última meia volta, portanto é uma opção mais segura de segundo salto para as principais ginastas do mundo.
- Nota de partida: 5.0
- Rondada flic-flac para a mesa, com a ginasta entrando de costas no aparelho
- Na segunda fase, após soltar a mesa, a ginasta completa duas piruetas (720º) na posição esticada no ar
- Na chegada, a ginasta fica de frente para a mesa
Como é o salto Biles I, um upgrade do Cheng
A ginasta americana registrou em seu nome uma evolução do Cheng, com uma meia pirueta a mais. Até a publicação deste artigo, Biles é a única a ter apresentado este salto em competições oficiais.
- Nota de partida: 6.0
- Na aproximação à mesa, a ginasta dá uma meia volta (180º) e chega à mesa encarando-a de frente
- Na segunda fase, após soltar a mesa, a ginasta faz duas piruetas (720º) na posição esticada no ar
- Na chegada, a ginasta fica de costas para a mesa
Como é o salto Biles II, o mais difícil de todos
Grande trunfo de Biles para Paris 2024, o Yurchenko duplo carpado é com relativa folga o salto mais difícil da ginástica feminina. A própria americana costumava fazê-lo nas primeiras competições com um ‘spotter’, pessoa que fica ao lado do colchão para interferir caso algo dê errado. No Mundial de 2023, ela caiu de costas após a aterrisagem e mesmo assim ficou com a medalha de prata por pouca diferença. Entenda as particularidades do salto:
- Nota de partida: 6.4
- Rondada flic-flac para a mesa, com a ginasta entrando de costas no aparelho
- Na segunda fase, após soltar a mesa, a ginasta completa dois giros para trás na posição carpada no ar
- Na chegada, a ginasta fica de frente para a mesa
O grande diferencial do Biles II para os outros saltos é a posição carpada, em que a ginasta traz as pernas esticadas em direção ao peito. Em vez de fazer piruetas, ela gira para trás a poucos metros do chão.
A arma (não tão) secreta de Rebeca: o Yurchenko com tripla pirueta
Por muito tempo, especulou-se um novo salto que teria o nome de Rebeca Andrade. Um vídeo de treinamento mostrou que ela estava tentando a evolução do DTY e do Amanar, ou seja, o TTY - Yurchenko com tripla pirueta.
O mundo da ginástica comemorou quando a FIG confirmou que Rebeca submeteu um vídeo do salto para análise. Desta forma, se ela apresentá-lo em Paris, o elemento receberá o nome dela. Entenda:
- Nota de partida: 6.0
- Rondada flic-flac para a mesa, com a ginasta entrando de costas no aparelho
- Na segunda fase, após soltar a mesa, a ginasta completa três piruetas (1080º) na posição esticada no ar
- Na chegada, a ginasta fica de frente para a mesa
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