RIO DE JANEIRO - Novo diretor de futebol do Flamengo, o português José Boto concedeu sua primeira entrevista coletiva à imprensa, no Centro de Treinamento George Helal, o Ninho do Urubu. O executivo falou sobre as primeiras impressões do Flamengo, contratações, DNA do time, estrutura do departamento, categorias de base e satisfação com o técnico da equipe profissional, Filipe Luís.
Com dois anos de contrato pela frente, o novo diretor técnico do futebol rubro-negro chegou ao Brasil no sábado (28) e já foi conhecer as instalações do estádio do Maracanã e ganhou a bênção de Zico, anfitrião do Jogo das Estrelas, que teve sua 20ª edição na mesma data. No domingo (29), o português conheceu o Ninho do Urubu, ao lado do presidente Luiz Eduardo Baptista, o Bap.
Confira os principais trechos da entrevista:
Primeiras impressões
Dizer que é um orgulho muito grande representar um clube como o Flamengo, mas, ao mesmo tempo, uma responsabilidade enorme. Nesses dias muito corridos, tive um encontro com Zico, que para mim é um ídolo de infância. Depois, conheci o CT, que já tinha algumas referências de que era muito moderno, mas, sinceramente, não esperava que fosse tão bom. Foram as duas coisas (primeiras impressões) que retive mais.
Qual é a prioridade, qual será o primeiro ato de sua gestão?
Tenho que ser responsável e não posso chegar aqui, sem conhecer as pessoas, sem conhecer o ambiente, e começar a fazer as coisas. O primeiro ato será conhecer todas as pessoas da estrutura do futebol, ver quem se adapta à nossa forma de trabalhar e cuidarmos da equipe profissional de futebol.
É uma fase de transição, com mudança de diretoria, mas as coisas seguem acontecendo no clube, como fim de contrato de jogadores. Um deles foi David Luiz. Como vocês estão olhando para quem está em fim de contrato?
O David sempre teve o agrado da torcida, de quem trabalhava com ele, tenho respeito enorme pela carreira dele. O que se passou foi algo profissional. Quando quero contratar um jogador, não falo direto com o jogador. O que se passou com David, até porque tenho relação e conheço as pessoas que trabalham com ele desde o Benfica foi que me pediram que lhes comunicasse assim que tivesse uma definição. David foi comunicado pela manhã, muito cedo aqui no Brasil, através das pessoas competentes. Desejo toda sorte, ele é um grande atleta e excelente ser humano. Que seja muito feliz como sempre foi por onde passou. Este é um assunto encerrado.
Elenco e reforços
Tenho conversado todos os dias com o Filipe Luís. Temos bem claro que o elenco tem uma qualidade enorme, sabemos que temos que fazer alguns ajustes. E esses ajustes serão feitos com tempo, no tempo que nós queremos, e não para agradar torcida ou imprensa. Faremos aquilo que nós achamos que deve ser o ideal para o Flamengo. Queremos a torcida contente em dezembro, não em janeiro.
Contratação de atacante
Lassina Traoré é um jogador que conheço muito bem do Shakhtar, está em análise, como muitos outros estão. A posição de atacante é realmente a prioritária, mas não queremos falhar. Como não queremos falhar, queremos encontrar o perfil que interessa ao nosso treinador e ao Flamengo. Queremos alguém que entregue rendimento. Isso que estamos a procurar.
Nas conversas com Bap e Filipe Luís, já definiram DNA do time?
Essa é uma questão bastante necessária e terei todo gosto em responder. O DNA do Flamengo é Zico, Junior Maestro, essa gente toda que passou pelo Flamengo. Um futebol ofensivo, dominante. Temos que dominar. E tudo vai ser feito para respeitar esse DNA. A escolha do Filipe foi de minha responsabilidade. O Filipe foi uma escolha minha e, se falhar, a culpa é minha. Isto é profissionalização. Alguém tem que ser responsável pelo treinador, não só ele. Mas, agora, toda gente deste clube vai ter que trabalhar como nós queremos. Quem não trabalha como queremos, sai. Depois, se as coisas correrem mal, o responsável sou eu.
Filipe Luís
Tive carta branca para mudar, analisei, vi muita coisa que gostei, muita entrevista coletiva dele. Depois, o contato diário com ele tem confirmado tudo que eu pensava. O Filipe vai ser um treinador top mundial. Vi os jogos do Filipe à frente do Flamengo duas vezes: uma da perspectiva de analisar o elenco e outra de analisar o trabalho do Filipe. Consegui perceber algumas nuances táticas no jogo do Filipe que me agradaram muito. São coisas que não são muito visíveis a olhos “normais”, mas sim ao olhar clínico. Me agradou muito a forma como ele se comunica. E depois, quando entrei em contato com ele, percebi a ambição, a vontade de aprender, de evoluir todos os dias. Quando nós achamos que sabemos tudo é o primeiro passo para estarmos mortos.
O que pretende trazer novidade
Profissionalismo é o Flamengo ser a coisa mais importante de toda gente que trabalha aqui. Mais importante que a família, que tudo. Existem 50 milhões de pessoas lá fora que fazem muito sacrifício para acompanhar o Flamengo. Toda gente passa por mim e tem que perceber a responsabilidade que têm, que isso é a coisa mais importante da vida deles. Comissão técnica, jogadores e todos que têm que trabalhar 100% para que tudo corra bem.
Como se aplica o profissionalismo ao futebol de base e ao futebol feminino?
O futebol feminino não é minha área, não conheço treinadores e jogadoras. Já a base é minha área. Temos que passar esse DNA, criar jogadores talentosos e responsáveis. Tenho uma ideia que aqui no Brasil se busca muita coisa que se faz na Europa. No profissional, a chegada de técnicos estrangeiros trouxe mais rigor tático. Mas replicar isso na base é um erro tremendo, querer fazer jogadores no Brasil como fazem na Europa. Temos que voltar aos fundamentos brasileiros, dar liberdade a eles de errar, experimentar. Depois, a partir de certa altura, (os jogadores) terão oportunidade para isso (tática com inspirações na Europa). Os brasileiros foram copiar a Europa (na base) e hoje não produzem tantos talentos. Vocês (brasileiros) faziam bem, vamos continuar como faziam antes.
Janela de transferência e valores
A minha leitura e a leitura do Filipe é de que o elenco é muito bom e pode render ainda mais do que tem rendido nos últimos tempos. O que temos é muito bom e agora vamos reforçar, mas tentando minimizar o erro. Vamos esperar o que queremos, quando tivermos certeza de que é isso que queremos. Uma parte da profissionalização é não discutir em público assuntos internos e não vou falar de valores, mas é suficiente para o que achamos necessário para que o elenco seja ainda melhor.
Estrutura do departamento de Futebol
Trarei uma ou duas pessoas de minha confiança, não falarei nomes porque ainda não discutimos contrato. Mas pessoas que vão agregar conhecimento em várias áreas. O futebol é talvez o único negócio em que as pessoas fazem investimento e não cuidam dele. Se render, rendeu, se não, vai se comprar outro. Precisamos cuidar do ponto de vista médico, emocional. Quantos jogadores vocês conhecem que não rendem em um lugar e depois rendem muito no outro? Há profissionais competentes para ajudar nisso e é algo que vamos tentar montar aqui também.
Como blindar o futebol e o elenco
Uma das coisas que discuti com o Bap é fechar aqui o CT. Acabou a visita de gente que não tem nada a ver com o trabalho diário. Eu sei que as pessoas gostam de conviver, mas isso vai acabar. Nas viagens também vai acabar, de irem no mesmo avião, de estarem no mesmo hotel, pessoas que não tem nada a ver com o futebol. Estas foram as primeiras medidas que tomei. Depois, se começarem a vazar coisas das pessoas que estão aqui, vamos averiguar.
Prioridade de campeonatos
Dos lugares que venho, o campeonato nacional é a coisa mais importante. Talvez a Champions League esteja no mesmo nível. Nós, no Flamengo, temos que pensar que entramos em tudo para ganhar. Temos que ter um elenco e uma mentalidade de que vamos entrar para ganhar tudo. Se por um motivo qualquer tivermos que priorizar algo, vai ser sempre o campeonato (brasileiro).
Erick Pulgar e Cleiton em fim de contrato
Esses jogadores têm contrato com o Flamengo, que deve ser cumprido e respeitado. Ainda vamos analisar com calma, perceber se vale a pena, da nossa parte, Flamengo, renovar esses contratos, e se os jogadores têm a visão de renovar ou não. Eu tenho uma visão muito pragmática da coisa. Se o jogador tem contrato, não é porque faltam poucos meses para encerrar que o treinador não vai usar. Ee vamos renovar todos ou só um, vamos analisar ainda. Cheguei há dois dias, ainda não parei para trabalhar. Espero que agora, a partir de hoje, eu tenha um pouquinho mais de paz para conseguir ter mais horas de trabalho.
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