Machado de Assis e a liberdade de pensamento
Que a obra de Machado de Assis continue a ser uma eterna inspiração para a plena liberdade de pensamento!
Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu no ano de 1839, na cidade do Rio de Janeiro. Filho de dois ex-escravos mulatos e alforriados, o pai era pintor e a mãe uma lavadeira. Machado ficou órfão cedo e terminou criado pela madrasta Maria Inês. Retratado como um sujeito tímido, padecia com crises de epilepsia e gagueira.
Entretanto, nenhuma das condições adversas que tanto marcaram a sua existência, foram capazes de impedir que Machado alcançasse o patamar de gênio da literatura brasileira e mundial. Não nos referimos aqui a esses gênios caricatos, retratados como abençoados pelas musas e que de maneira quase mágica realizam grandes feitos ao seu bel-prazer. Isso não passa de ilusão. Penso que a genialidade machadiana tem mais raízes mundanas que metafísicas, advém de uma vida inteira dedicada aos livros.
Aos dezesseis anos Machado de Assis começou como tipógrafo aprendiz, revisou textos, colaborou com a publicação de jornais e revistas. Depois de conseguir consolidar-se na carreira burocrática para garantir o ganha-pão, deu início a vasta produção literária que hoje conquista o mundo. Não bastasse tudo isso, ele também foi um dos Fundadores da Academia Brasileira de Letras.
No conto “Teoria do Medalhão”, o autor nos traz um diálogo entre pai e filho, após o jantar comemorativo de aniversário do rapaz que completou 21 anos, idade que representa a plena maioridade na ordem jurídica do século XIX. O texto transborda de críticas ferrenhas às hipocrisias, demagogias e superficialidades dos elevados círculos da sociedade da época.
Poucos textos merecem o título clássico e “Teoria do Medalhão” é um deles. Quando lido nos dias contemporâneos, encaixa-se perfeitamente ao tecido social brasileiro. Acompanhamos o pai ensinar ao filho, os caminhos para que se torne o exemplar perfeito do “homem cordial”, que por baixo do verniz de polidez, esconde um vampiro que se alimenta do sangue alheio e pensa apenas nos interesses mais mesquinhos. Algo que foi tão bem denunciado por Sérgio Buarque de Holanda na obra “Raízes do Brasil”.
Assim como o personagem Janjão ouvindo as maquiavélicas lições do pai, parte significativa da nossa população está sendo induzida a acreditar que a imaginação, a filosofia e o pensamento crítico são inúteis. Infelizmente, tal realidade tende a se agravar cada vez mais, enquanto o número de seguidores nas redes sociais de alguém for mais importante que seu conteúdo e prevalecer a absoluta ausência de critérios éticos.
Por mais absurdo que possa parecer, de quando em quando, surgem vozes contrárias ao ensino da filosofia nas salas de aula. A liberdade de pensamento é sempre a primeira vítima dos governos autoritários e dos que se beneficiam das estruturas de poder. Machado, refiro-me ao autor e não à arma, é um excelente remédio para amenizarmos a ignorância e despertarmos importantes reflexões.
Pegarei emprestado o estilo consagrado do nosso admirado escritor para quebrar a quarta parede e dizer que esta crítica precisa ser finalizada em vista do prazo que me foi dado. Que a obra de Machado de Assis continue a ser uma eterna inspiração para a plena liberdade de pensamento!
As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.
Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.