110 anos de nascimento

Ocupação homenageia Grande Othelo

Exposição é dedicada ao artista que resistiu a apagamentos estruturais e contribuiu com o teatro, cinema, literatura e música.

Evandro Júnior / Na Mira

Exposição é dedicada a esse artista brasileiro multifacetado
Exposição é dedicada a esse artista brasileiro multifacetado (Foto: Divulgação)

Nos anos de 1980, o cineasta alemão Werner Herzog dirigiu Fitzcarraldo, filme em que levou uma ópera à Amazônia e se tornou um clássico do cinema mundial. No elenco, estavam o ator alemão Klaus Kinski, os atores brasileiros José Lewgoy e Grande Othelo e o cantor e compositor Milton Nascimento, que fez uma ponta. Algumas décadas depois, em nova visita ao Brasil, o diretor contou como Othelo o encantou: “Havia tanta vida naquele pequeno homem! Simplesmente maravilhoso!”

É esta personalidade marcante nacional e internacionalmente, irrequieta, icônica e fundamental para a cultura brasileira que encerra as exposições da série ‘Ocupação Itaú Cultural’ de 2025. A partir das 11h do sábado 6 de dezembro, ‘Ocupação Grande Othelo’ reúne no piso 1 do Itaú Cultural (IC) mais de 160 peças desse icônico artista. A mostra permanece em cartaz até 8 de março de 2026.

O espaço expositivo apresenta rascunhos de poemas ou outros concluídos – como Cadê você, Gonzagão? que ele escreveu em homenagem a Luiz Gonzaga –, partituras originais dos anos 1940, roteiros, objetos, cartas, fotografias, indumentárias, suas agendas para recados e outros cadernos pessoais, documentos históricos como um contrato com a Rede Globo, de 1967, ou um diploma de cidadão paulistano, de 1978, e troféus como o Velho Guerreiro, que Chacrinha lhe ofereceu em seu programa dominical.

Há ainda livros, objetos táteis, depoimentos em vídeos – como o de um de seus filhos, o ator José Antonio Souza Prata, conhecido como Pratinha –, capturados pela equipe IC, que também confeccionou uma publicação nos formatos impresso e digital e um site com outros conteúdos inéditos (CLIQUE AQUI).

A maioria dos objetos em exposição faz parte do acervo de Othelo guardado no Centro de Documentação e Pesquisa da Fundação Nacional de Artes (Cedoc/Funarte) – parceiro do Itaú Cultural nesta mostra –, que se insere no Programa Funarte Memória das Artes, o qual, desde 2008, visa reconhecer, valorizar e preservar a memória das artes no Brasil.

Outros itens presentes na mostra têm origem nos arquivos da TV Cultura e da TV Globo. A concepção, realização, curadoria e projeto de acessibilidade são do Itaú Cultural, com consultoria da pesquisadora Deise de Brito, projeto expográfico de Kleber Montanheiro e desenho técnico de Lígia Zilbersztejn.

“Esta Ocupação reconhece a relevância da memória na consolidação do direito às artes neste país”, diz Maria Marighella, presidenta da Funarte. “É por meio da difusão de acervos que instituições e agentes podem promover o acesso à cultura e se comprometer, de maneira compartilhada, com a reconstituição da história de todos nós”, conclui.

“As exposições que compõem a série Ocupação Itaú Cultural têm justamente esse papel de difundir – e assim preservar – a memória dos nossos artistas cuja influência atravessa gerações”, conta Galiana Brasil, gerente do Núcleo de Curadorias e Programação Artística do Itaú Cultural, que assina esta mostra. “A trajetória de Grande Othelo é marcada pelo racismo, que mantém sua estrutura perversa inclusive nos espaços em que a equidade deveria prevalecer”, observa ela, concluindo: “Apesar disso sua genialidade predominou e ele se tornou uma das figuras mais emblemáticas no imaginário cultural brasileiro, com reconhecimento dentro e fora do país. Estamos muito felizes em oferecer esta Ocupação ao público."

A mostra

De nome de batismo Sebastião Bernardes de Souza Prata, nascido em Uberlândia (MG), em 1915 (ou 1917, de acordo com alguns registros), ele adotou primeiro o nome Pequeno Otelo e depois Grande Othelo – ele mesmo acrescentou o “h” no nome e assim está registrado em sua lápide. Morreu aos 78 anos no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, França, em 1993, vítima de um ataque cardíaco fulminante quando se preparava para seguir para o Festival de Nantes, onde receberia uma homenagem. 

Othelo deixou um vasto legado artístico, iniciado em um circo, em 1923, quando ainda era pequeno: 103 atuações nos palcos, mais de 100 filmes e 42 gravações em discos. Vale lembrar que ele atuou no teatro de revista – gênero popular que combinava música, humor, crítica social e números de variedades – entre as décadas de 1930 e 1950. Quando criança, ingressou na Companhia de Comédia e Variedades Sarah Bernhardt e, depois, para a Companhia Negra de Revistas pautada pela crítica social e o humor. 

Assim, abriu o caminho nesse tipo de arte cênica para artistas e talentos negros no cenário artístico nacional.  Ele também participou da fase áurea do Cinema Novo e do Cinema Marginal. Orson Welles, para quem Othelo atuou em It's All True, que nunca chegou a ser finalizado, o considerou o maior ator da América Latina.

 

 

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