Leitura

Autora desafia conceito de "felizes para sempre" em romance

Em entrevista, Lari Volf explora as complexidades do sentir na literatura juvenil e reflete sobre a coragem de amar sem garantia de permanência.

Evandro Júnior / Na Mira

Escritora Lari Volf
Escritora Lari Volf (Foto: Divulgação)

Em tempos de relações fluidas e uma crescente busca por representações afetivas mais realistas, novos livros juvenis têm se afastado das fórmulas tradicionais do amor idealizado. É nessa trilha que autores contemporâneos encontram espaço para tratar do romance como uma experiência transformadora — mesmo quando ela não dura para sempre. Esse é o caso de ‘Toda Vez Que Eu Me Apaixono’, da escritora Lari Volf.

A trama gira em torno de Ágata, uma jovem que acredita estar presa a uma maldição familiar: todo 1º de agosto, ela se apaixona, mas seis meses depois o amor vai embora. Ao explorar temas como não-monogamia, espiritualidade e as marcas deixadas por antigas relações, a autora propõe um olhar mais generoso — e atual — sobre o que é amar e ser amado.

Na entrevista abaixo, Lari fala sobre o papel da literatura como lugar de cura, expressão e identificação, além dos sentimentos que movem sua escrita.

No seu livro “Toda Vez Que Eu Me Apaixono”, a personagem Ágata acredita estar amaldiçoada, pelo padrão de perder quem ama após seis meses. Essa ideia da “maldição do amor” surgiu de alguma metáfora pessoal ou foi inspirada em outras histórias?

Lari Volf: Eu sempre consumi muito conteúdo sobre o amor: livros, filmes, séries, músicas, enfim... o amor é a base de tudo na minha vida desde que eu era uma menininha. A ideia para “Toda Vez Que Eu Me Apaixono” nasceu numa noite de 2017, quando tive um sonho lindo sobre um casal (Ágata e seu segundo amor), que, embora tenha sido uma das primeiras cenas escritas, nunca fez parte do livro. O TVQEMA ganhou vida própria e seguiu por outros caminhos, mas sempre lembro desse sonho como o estopim para o romance que, inicialmente, chamei de “Seis Meses Para Toda Vida” porque... bom, acho que vocês entendem.

O amor é retratado com muita intensidade no livro, mas também com dor, a partir de memórias e escolhas difíceis. Como foi o processo emocional de escrever sobre esses sentimentos tão profundos?

L.V.: Costumo dizer que, na realidade, não gostamos de sofrer, mas, na arte, esse sofrimento controlado se transforma em poesia. E sofrer na arte, mesmo sendo difícil, é bom. É um sofrer que se transforma em algo bonito, que vai tocar os corações de outras pessoas e gerar identificação. No fundo, acredito que sofreria ainda mais se não escrevesse, deixando as ideias vagarem sozinhas na minha mente sem direção. Escrever sobre esses sentimentos foi uma necessidade, e encaro como uma missão deixar essa mensagem para o mundo.

Você constrói personagens emocionalmente complexos e, ao mesmo tempo, muito humanos. Quais foram as suas inspirações?

L.V.: Cada um dos meus personagens tem um pedacinho de todos os personagens que li e assisti, e de todas as pessoas que conheci e convivi. Construí uma grande colcha de retalhos que acredito ter se tornado uma obra artística agradável aos olhos e ao coração. E não posso deixar de mencionar que Ágata é a minha Alasca (de Quem é Você, Alasca?), com questões emocionais tão complexas quanto, e talvez um pouco mais de cautela e esperança.

“Toda Vez Que Eu Me Apaixono” perpassa por temas como o medo do abandono, não-monogamia e “destino vs. livre-arbítrio”. Como você equilibra essas camadas no livro?

L.V.: Assim como nossa vida não é simples, a mente de Ágata também não é. Ela tem uma espiritualidade ímpar, mesmo que acredite ser amaldiçoada, e ama determinado rapaz como se não houvesse amanhã, mesmo que existam outros três amores que igualmente ocupam seu coração. Se mergulharmos nas profundezas da alma de cada um de nós, não encontraremos normalidade; e são todas as nossas complexidades que tornam a existência bela e única. Ágata é gente como a gente: com dúvidas existenciais e amores infinitos.

Se pudesse deixar uma mensagem para leitores que, como Ágata, acreditam que o amor “nunca é para eles”, o que você diria?

L.V.: Ainda não chegou ao final, porque, no final, tudo tende a se encaixar — e, mesmo que não aconteça, aprecie a jornada. Nós temos uma noção muito simplista do amor, acreditando que só é amor se for correspondido, se durar a vida toda, se estivermos em contato direto com a pessoa. E o amor — amor mesmo — vai muito além disso. O amor não se mede pelo tempo que passamos juntos nem pelo quanto o outro nos amou em troca, mas sim pelo sentimento inabalável que tivemos dentro do peito e como isso nos fez seres humanos melhores. Um amor altruísta, generoso e desinteressado.

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