SÃO LUÍS - Um dos mais atuantes e emblemáticos compositores maranhenses, Luís Henrique de Nazaré Bulcão é como um patrimônio tombado da cultura maranhense e não se cansa de compor. No auge de seus 75 anos bem vividos, as inspirações dormem e acordam com ele, sempre o instigando a escrever poesias e músicas que exaltam sua terra, sua gente, as estrelas e o céu que cobre a Ilha do Amor.
Dono de um vasto e consistente currículo, que perpassa experiências como professor e gestor público, Bulcão sempre diz que é aluno de José Pereira Godão na poesia e de Herberth de Jesus Santos na prosa. Do primeiro é parceiro até hoje. Ele seria um João do Vale urbano, das margens do Bacanga, inspirado nas luas da vida, com anel de doutor e bacharelado, como diria Godão, referindo-se ao amigo poeta.
Sempre atuante e fiel ao grupo da Madre Deus, Bulcão é o autor da nova música do Bicho Terra, ‘Ôla do Bicho’, que já está sendo executada nas apresentações e cortejos do grupo cultural neste pré-Carnaval em São Luís.
Ex-secretário de Estado da Cultura no governo de Roseana Sarney, Bulcão é bastante conhecido por criar letras que fazem conexão e exaltam a Madre Deus, berço cultural da Ilha do Amor. Com ‘Ôla do Bicho’, ele afirma que a ideia foi convocar os foliões a entrarem na onda do Bicho. A canção é mais uma preciosidade do poeta que escreveu verdadeiros hinos do Carnaval maranhense.
“A gente sempre busca inspiração na Madre Deus e naquilo que aprendemos com os velhos poetas. Acho que é isso que faz com que as músicas da Companhia Barrica caiam no gosto popular. Não nos afastamos muito da Madre Deus. Na verdade, a gente não sai da Madre Deus”, diz Luís Bulcão, revelando a importância de sua fonte de inspiração.
Este ano, Bulcão, ao lado de José Pereira Godão, diretor artístico da Companhia Barrica, receberá uma merecida homenagem no desfile da escola de samba Turma do Quinto, da Madre Deus, bairro onde ele cresceu e foi criada a Companhia Barrica, que idealizou o Boizinho Barrica, o Bicho Terra e a Natalina da Paixão. O samba-enredo é intitulado ‘Na peleja e folia dos seus poetas de estrelas e luas’.
Composições
O artista de primeira grandeza e criativo compositor já perdeu as contas de quantas músicas compôs para a Companhia Barrica, entre letras para o lírico Boizinho Barrica, para o esfuziante Bicho Terra ou para o tocante musical Natalina da Paixão, que ganha espaço na Quaresma e no Natal.
“O Bicho Terra, por exemplo, é um termômetro na minha cabeça. Às vezes, estou dormindo e me levanto com alguma ideia na cabeça. O mesmo digo do Boizinho Barrica. Acredito que já tenho feito mais de 150 composições. Gosto de todas, pois música é como mãe em relação aos seus filhos: ela sempre gosta de todos”, frisa Bulcão.
O compositor destaca uma das canções. Trata-se de “É Gostosa”, do Bicho Terra, composta em um momento em que o Carnaval maranhense estava inaugurando uma nova fase. Ele também assina composições como ‘Fogo de Amor’, ‘Bicicleta’, ‘Me Leva’, ‘Eu sou o bicho’, ‘Não me belisque’ (com Roberto Brandão), entre diversas outras.
Luís Bulcão conta que compõe a qualquer hora do dia, basta vir o estalo, mas o horário em que os insights ocorrem com mais frequência é na calada da noite, nas madrugadas, sempre com a “ajuda dos espíritos benfazejos”.
O compositor já escreveu letras para vários grupos culturais, entre blocos tradicionais, como Os Foliões, Os Feras, Príncipe de Roma, e, também, Fuzileiros da Fuzarca e escolas de samba como Turma do Quinto, para citar alguns. Ele começou compondo para o bloco URTA (Unidos do Regional Tocado a Álcool).
“Na verdade, sou um compositor de músicas de blocos de sujo. Quem me colocou no São João foi José Pereira Godão, a partir dos festivais, levando aos palcos o sotaque de orquestra, com a música ‘Estrela do Mar’”, relembra.
Carnaval de rua
Quando perguntado sobre o Carnaval de rua de São Luís, Luís Bulcão diz que da década de 1980 para cá muita coisa mudou. Ele cita a contribuição de personalidades da cultura como Américo Azevedo Neto e Zelinda Lima e diz que as letras das composições se tornaram mais efusivas, surgindo muitos compositores temáticos.
“Já estive no comando do Carnaval de rua e conheço bem as dificuldades. Aliás, fomos nós que renovamos o Carnaval de rua de São Luís, já que tínhamos, também, a intenção de movimentar o setor do turismo. Não tem como fazer Carnaval sem alimentar o turismo da região”, enfatiza.
Carreira
Luís Bulcão é contador formado pela Academia de Comércio. Foi professor do SENAC e das escolas Centro Caixeiral e Cardoso Amorim, bem como de cursos pré-vestibulares e de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Ele trabalhou na Prefeitura de São Luís, tendo sido diretor de vários departamentos, e na Superintendência de Patrimônio da União. Foi, ainda, agente fiscal de tributos municipais, fiscal de contribuições previdenciárias federal e auditor fiscal federal, atividade após a qual se aposentou. No entanto, não vai pendurar as chuteiras do intelecto e da criatividade, que tem de sobra.
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