Cinema

Mostra Ilha em Edição exibe filmes produzidos por jovens de grupos de Bumba Meu Boi

Filmes serão exibidos nesta quarta-feira (27), no Departamento de Assuntos Culturais da UFMA (DAC).

Na Mira, com informações da assessoria

Atualizada em 27/09/2023 às 11h18
Mostra Ilha em Edição exibe filmes produzidos por jovens de grupos de Bumba Meu Boi.
Mostra Ilha em Edição exibe filmes produzidos por jovens de grupos de Bumba Meu Boi.

SÃO LUÍS - A Mostra Ilha em Edição 2, que reúne filmes produzidos por jovens do Quilombo Urbano Liberdade e do Território Maracanã, será exibida nesta quarta-feira (27), a partir das 16h, no Departamento de Assuntos Culturais da UFMA (DAC).

A segunda edição do projeto Ilha em Edição teve início no mês de abril, com o mote: “ É Luz, Câmera, Som, Bumba meu Boi e a Ilha em Edição”. Com foco de atuação no Quilombo Urbano Liberdade e no Maracanã, zona rural de São Luís, a iniciativa uniu a juventude de quatro grupos de Bumba meu Boi (Boi da Floresta, Boi de Leonardo, Boi da Fé em Deus e Boi de Maracanã), além de jovens e adultos moradores destes dois territórios entorno da arte do cinema.

Os integrantes do projeto participaram de um ou mais cursos entre os dez ofertados na área audiovisual: Roteiro; Produção; Direção; Direção de Arte; Direção de Fotografia; Cinema de Animação; Interpretação e Preparação de Atores para Cinema; Documentário Musical; Som Direto no Audiovisual e Edição.

A partir dos conhecimentos dos cursos integrados, foram montadas as equipes para a produção de dois curtas-metragens de ficção, um curta-metragem documentário musical e um curta-metragem de animação. Nesta quarta-feira (27), eles irão assistir junto os filmes produzidos.

Giselle Bossard, coordenadora geral do Ilha em Edição, destaca que o projeto é bem mais que uma iniciativa de formação de jovens entre 16 e 30 anos na área audiovisual. De caráter coletivo e agregador, a ação é uma porta de ingresso ao mercado de trabalho audiovisual no Estado e para além dele.

“Na primeira edição do projeto, alguns jovens nem bem concluíram os cursos e já estavam atuando no setor audiovisual como atores, assinando a fotografia, som direto, entre outras funções. Nesta edição, não vem sendo diferente. Alguns deles são egressos da Escola de Cinema do Maranhão – IEMA e já se conheciam, mas outros não tinham nenhuma experiência, porém logo se integraram a turma jovem que produz audiovisual e vêm também participando dos mais diversos cursos na área de cinema ofertados no estado”, compartilha Giselle.

O projeto prevê ainda um Núcleo Popular Audiovisual em que os jovens egressos do Ilha em Edição terão disponíveis todos os equipamentos profissionais de som e vídeo adquiridos para a produção de seus filmes autorais ou coletivos. Boa parte deles já vem organizando, inclusive, seus projetos para as Leis de Incentivo como a Paulo Gustavo e Aldir Blanc.

Mostra Ilha em Edição exibe filmes produzidos por jovens de grupos de Bumba Meu Boi.
Mostra Ilha em Edição exibe filmes produzidos por jovens de grupos de Bumba Meu Boi.

Mostra Ilha em Edição: Bumba-Boi, Fé, Territorialidade, Ancestralidade e Aceitação

O processo de produção dos filmes parte das ideias originais dos jovens e demais participantes do projeto que a partir das realidades vivenciadas produzem os argumentos e roteiros. Cinco produções compõem a Mostra e transitam pelo universo do Bumba meu Boi trazendo temas como o amor entre a juventude LGBTQI+; juventude e ancestralidade; devoção e fé; e a importância da cultura popular, especialmente dos mestres e mestras, na construção de cidadania de crianças, adolescentes e jovens em seus territórios.

O documentário musical “Nosso Terreiro” foi produzido por uma turma mista, formada por jovens dos dois territórios (Maracanã e Quilombo Urbano Liberdade), adultos e idosos que se inscreveram para participar do curso Documentário Musical, com a diretora carioca Ana Rieper. O curta foi todo filmado no Maracanã durante o batizado do Boi de Maracanã e dia de São João. Com a temática Bumba-Boi, música e fé, o filme apresenta o terreiro de Maracanã, caboclos e encantados brincantes em festa comemorando o dia de São João. O caboclo de pena e sua dança, e o cantador e suas toadas reverenciam as forças da natureza que abençoam a brincadeira. As vivências desses dois jovens nos apresentam as nuances de seu sincretismo religioso.

O curta de ficção “Mar.Ina”, produzido no Quilombo Urbano Liberdade, é uma paródia-crítica da pequena sereia, vivida por uma menina trans. Marina, que é cazumba, personagem do bumba-boi que também é de entremundos. Um menino da percussão, Nicolas, observa Marina dançando e se interessa. Pega de surpresa, Marina foge sem revelar sua identidade. No outro dia, eles se cruzam, mas Nicolas pensa que a cazumba é outra menina, uma cis. Marina começa a se questionar sobre sua imagem de trans não binária e, como a pequena sereia, "muda de forma". Suas amigues e seu cazumba (seu alterego) a ajudam a reencontrar suas essências. O filme é dedicado ao Mestre Abel Teixeira, fazedor de caretas e Cazumba do Boi da Floresta, recém-falecido.

Matraquinha”, o curta de animação, também produzido pelo núcleo do Quilombo Liberdade, apresenta a criança e o bumba meu boi, e como a cultura popular abraça a infância, é aquela mão estendida, amiga, que apresenta novos caminhos e oportunidades. A animação é uma homenagem aos três grupos de bumba-boi daquele território (Boi da Floresta, Boi de Leonardo e Boi da Fé em Deus) e uma homenagem às suas presidentes: Nadir Cruz, Regina Avelar e Ana Keyla Ribeiro. O curta foi selecionado para a mostra de filmes produzidos por crianças e adolescentes do Festival do Rio. Matraquinha contou com a participação de dois estudantes pré-adolescentes da rede pública de São José de Ribamar.

Já o curta-metragem Formação Roots foi produzido a partir de uma atividade prática do curso de Edição, produzido pelos jovens do Território Maracanã e editado por eles e a turma do Quilombo Liberdade. O filme acompanhou as comemorações do dia internacional do Reggae no Maranhão.

Uma quinta produção ainda será rodada com os participantes do IFMA-Maracanã, que ingressaram posteriormente aos cursos no território. Ela também é inspirada na realidade de dois jovens brincantes de bumba-boi.

Caíque Carlos, protagonista do filme Mar.Ina e também coautor do roteiro, soube do projeto e não perdeu a oportunidade participar. Natural de Coroatá, ela interpreta uma jovem trans gênero Cazumba de bumba meu boi. Estudante de Artes Cênicas na Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Caíque participou do curso de Intepretação e Preparação de Ator para Cinema ministrado pelo ator e professor Al Danúzio.

“A narrativa que propomos com Mar.Ina em prol da identidade Trans/não-binária em contraste com o Bumba Meu Boi é extremamente rica. Parte de meu local de fala que vem em construção desde que me entendo como um corpo de possibilidades, e acima de tudo um corpo humano (que infelizmente é desumanizado/marginalizado). Nesse processo falamos de retratos, pinturas, reencontros, desencontros, abraçar partes de nós, brincadeira, cultura e caminhos para liberdade”, afirma Caíque.

Após a circulação nos territórios, os filmes irão seguir carreira participando de festivais locais, no Brasil e no exterior. Eles também serão disponibilizados na TV Formação, Canal do Instituto Formação no YouTube.

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