Entrevista

Astro de Avatar, Sam Worthington, fala um pouco de si

Paoula Abou-Jaoude, G1

Atualizada em 27/03/2022 às 13h03

Diante das câmeras de James Cameron, Sam Worthington, o protagonista de “Avatar”, alterna os papéis de um ex-fuzileiro amargo do Exército, metido para sempre em uma cadeira de rodas, e o de um gigante azul de 3 m de altura que tenta conquistar o respeito da tribo Na’vi com feitos heroicos. Mas a grande fonte de inspiração para encarnar o personagem Jake Sully foi o sobrinho do ator: “você diz a ele para fazer algo e ele vai fazer completamente o oposto”.

“Eu sou uma criança de 9 anos presa no corpo de um homem de 33”, brincou Worthington em uma entrevista em Los Angeles da qual o G1 participou poucos dias antes da estreia mundial de “Avatar” nos cinemas, marcada para esta sexta-feira. Confira a seguir trechos da conversa.

Pergunta – Como se preparou para interpretar Jake?

Sam Worthington – Jim [James Cameron] me perguntou se eu queria fazer pesquisa de campo como na maioria dos filmes de guerra. E eu disse, bem, o personagem é um ex-fuzileiro, acho que eles têm um modo diferente de ver o mundo. Por isso, fiz duas coisas: passei um tempo com o irmão de Jim e um bando de ex-fuzileiros. E leva um bom tempo até que eles se abram, o que me deu a base para Jake, que é um cara que obviamente tem muito dentro dele, mas para conseguir extrair seus sentimentos, você precisa ser alguém especial. Foi isso que entendi ao passar um tempo com esses caras. Levou vários dias para que me contassem uma única história que tivessem experimentado. E a segunda parte de Jake é meu sobrinho. Basicamente, eu fiz o papel dele.

Pergunta – Qual foi a sua abordagem para o personagem?

Worthington – Eu tenho um sobrinho que estava com sete anos na época das filmagens. Aí pensei, aqui está um cara durão, um fuzileiro. Mas como uma criança vai se identificar com ele se você o fizer como um fuzileiro do tipo “Falcão Negro em perigo”? Então olhei para o meu sobrinho, com seus olhos cheios de brilho e suas bochechas rosadas, e quando você diz a ele para fazer algo, ele vai fazer completamente o oposto. Pensei que esse é um tipo de sentimento que, em primeiro lugar, seria mais divertido para eu incorporar e, em segundo, que uma criança que vá ver esse filme, de olhos bem abertos para essa experiência mágica, agora poderá ter um herói para se enxergar na tela. Foi assim que abordei o personagem de Jake: essencialmente como uma criança que cresce tentando impedir que outras crianças sejam vítimas de agressões. O irmão de Jim foi o ponto de partida para que o personagem pudesse desabrochar da mesma forma que [o planeta fantastic] de Pandora se abre para todos.

Pergunta – Na vida real, você é mais um soldado ou um explorador? Worthington – Sou mais como uma criança, para ser honesto. Sou uma criança de 9 anos presa no corpo de um homem de 33 [risos]. Olhe só para o meu trabalho. Eu luto contra monstros e sou perseguido por robôs e combato diferentes tipos de alienígenas. Para que eu faça meu trabalho, preciso ter a alma de um explorador e ser corajoso como um soldado, mas a parte de mergulhar na experiência é que sou eu. Há um diálogo no filme em que digo que “eu passo por qualquer prova que um homem possa passar”. Bem, foi isso o que eu disse a Jim. Não importasse o que ele lançasse para mim, eu diria: eu faço, por que não? Essa é a parte divertida do trabalho.

Pergunta – Você tinha uma ideia clara de como o filme iria se parecer durante as filmagens ou foi tudo uma surpresa no final?

Worthington – Jim tinha uma câmera virtual, um conjunto de dez telas de plasma onde você vê os volumes e enxerga diretamente o mundo e a progressão gradual ao longo dos anos. Nós vimos a progressão dos nossos avatares [os personagens de animação] até estarem 100% completos. Então não foi uma surpresa. Além disso, você se submete a milhares e milhares de varreduras faciais e corporais, e Jim sempre quis que eu e Zoe [Saldana, que faz a heroína do filme] fôssemos parte do processo. Nunca foi algo como, faça o seu filme, te vejo mais tarde, nos vemos na noite de abertura. Do início em 2006 até o fim, Jim sempre me segurou pela mão e me mostrou todo tipo de processo e de envolvimento gradual não só com o meu avatar mas com o mundo [fantastico de Pandora]. É isso que o torna maravilhoso. Ele investe em você o mesmo que ele próprio investe no filme.

Pergunta – Tecnicamente, como foi filmar a cena do beijo de avatares em que você e Zoe interagem tão próximos?

Worthington – Foi engraçado, porque tínhamos câmeras sobre as nossas cabeças que nos pegavam como dois adolescents abraçados para tentar encontrar a melhor forma para Jim determinar o enquadramento. Foi provavelmente uma das cenas mais desafiadoras porque nenhum de nós sabia como fazer, mas quando se trabalha com Zoe Saldana, você sabe, eu poderia beijá-la todo dia, cara. Para mim não foi difícil [risos].

Pergunta – Como ator, o quanto você precisou se adaptar por conta da tecnologia?

Worthington – Quando você está fazendo um filme como este, você aprende todo dia. Descobri que trabalhar com captura de movimento pode ser completamente libertador. Você não se preocupa com um close-up ou com uma tomada aberta ou com a iluminação. É só você e outro ator, e essa é a essência da verdadeira interpretação, conseguir tirar algo de outra pessoa. Para mim, portanto, o limite é apenas a sua imaginação e o quanto você está dispoto a arriscar no outro. E quando você faz um filme normal, ou em “Avatar”, nas cenas com atores reais em um set de filmagens tradicional, você volta ao território familiar, reagindo a pessoas ou situações. Então percebi que mesmo que esteja fazendo um filme com as tecnologias de criação mais caras do mundo, no fundo é o mesmo. Ainda que meio bizarro.

Pergunta – Você acha que um dia a tecnologia vai substituir os atores?

Worthington – Não. A performance que você vê quando sou um gigante azul de 3 m de altura é ainda assim a minha performance. Minha principal preocupação era que sou um ator sutil. E perguntei a Jim se essa sutileza iria aparecer na tela, porque nunca tinha visto isso acontecendo em um filme feito com captura de movimento. E acho que aparece. Acho que [a computação] é capaz de traduzir meus movimentos mais sutis e até o modo como eu ando. Então, não acho que [a tecnologia] vá substituir [os atores], porque sem eles seria algo sem alma, e tudo o que estamos sempre buscando na captura de performance ou de movimentos é a alma. Se você tirar o ator, você irá tirar a alma, estaríamos regredindo, acredito.

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