Luís Alberto Ferreira, mestre em História e professor do Colun/UFMA, nos enviou um relato sobre um trabalho que vem sendo desenvolvido sob sua orientação que trata sobre a qualidade no ensino e qualificação das oportunidades, uma prática da formação integral do cidadão/aluno.
Aqui ele nos conta como foi a experiência de jovens alunos em uma realidade completamente diferente no município de Alcântara. Veja:
‘O Ministério da Educação tem procurado, na gestão do ministro Fernando Haddad, desenvolver uma política educacional pública de qualidade, pois escola de qualidade é condição essencial de inclusão e democratização das oportunidades no Brasil. Qualidade de ensino e qualificação das oportunidades são essenciais para uma aprendizagem significativa, inclusiva e cidadã.
O Colégio Universitário, escola de aplicação da Universidade Federal do Maranhão, tem se empenhado em efetivar as políticas propostas pelo ME sob os aspectos do Ensino e à Extensão. A escola abriu espaço para que os alunos possam experimentar, vivenciar e sentir o processo de ensino/aprendizagem. O homem não é composto, tão somente, de intelecto.
Como exemplo dessa política voltada para a formação integral estamos desenvolvendo um projeto de Ensino e Extensão em que os alunos do segundo ano do Ensino Médio vespertino abarcaram um projeto interdisciplinar e multidisciplinar envolvendo as disciplinas de História, Geografia, Química, Física e Biologia possibilitando um conjunto de experiências e aprendizagem que a sala de aula não conseguiria englobar.
Trata-se do Projeto Alcântara vai para o espaço? coordenado pelo professor de História Luiz Alberto Ferreira e contando com a participação dos professores Jaldyr de Jesus Gomes Varela Júnior (Química), José Ângelo Cordeiro Mendonça (Biologia), José Leôncio Pinto Dominici (Física) e Ulisses Denache Vieira Souza (Geografia), o projeto estabeleceu como espaço/laboratório de estudo o município de Alcântara, área de riquíssima diversidade e possibilidades de estudos.
Naquele município temos um patrimônio histórico tombado pelo IPHAN, território étnico quilombola e as instalações do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).
A presença do CLA a partir dos anos 80 criou uma série de tensões sociais, pois sua instalação depende do relocamento (esvaziamento) das populações tradicionais que ali vivem nas terras de preto, santa e santíssimas. Essa população quilombola foi abruptamente afetada e parte dela relocada para as agrovilas, áreas distantes do mar e do habitat em que viviam e dificultando a reprodução material daquelas comunidades que ainda vivem da chamada “roça de toco”, sistema de plantação em que se não se faz a rotação de culturas, mas a rotação de áreas de plantação, roçando a copeira e depois queimando para plantar a maniva, o arroz, o milho e outros produtos de subsistência.
A implantação da base trouxe um certo desequilíbrio ecológico à região, pois além do relocamento de inúmeras comunidades foi preciso desmatar para construir as instalações do CLA. Isso se deu de forma autoritária, de cima para baixo ainda no final do governo Militar e depois durante o governo do Presidente José Sarney.
Nesse cenário os alunos puderam vivenciar as condições. Após dois meses de leituras e palestras em que foram sensibilizados para os problemas ali existentes, foram até o município coletar os dados, observar a realidade local, contatar como os moradores de uma agrovila (Peru) e uma comunidade tradicional (Mamuna). Durante três dias fizeram uma série de levantamentos sobre os problemas locais, além de conhecerem o CLA, onde tiveram uma palestra sobre o projeto espacial brasileiro e a importância de Alcântara para esse projeto.
Durante os três dias em que ficaram acampados na Pousada do Guarás os alunos estabeleceram novas relações, vivenciaram situações novas e experimentaram múltiplas sensações que lhes ficarão na memória pelo resto de suas vidas. A viagem, que durou oito horas, teve todo um sabor de aventura: foi feita pela baixada. Vários aspectos podem ser ressaltados: a sensação de estar em um lugar estranho interagindo com uma realidade ainda desconhecida, o acampamento, as dificuldades de banho, a fila para almoço e jantar, o acordar com os primeiros raios de sol, o vento fustigando as barracas, o dormir coletivos de meninas e meninos, a sensação de estar livre em um lugar belíssimo e de frente para o mar/mangue, a vista das falésias, o andar em um barquinho a remo pelo mangue, a caminhada pelo centro histórico da sede, a viagem de pau-de-arara até Mamuna, o contato direto com a natureza e as reflexões feitas pelos professores sempre presentes, as broncas quando as regras eram quebradas, o pisar e lama de mangue, o pegar em um pequeno caranguejo, a tomar banho de rio, experimentar, manusear instrumentos na casa de farinha (ver como se faz), entrar nas casas de pessoas muito humildes que recebiam os alunos sempre com um sorriso aberto e dispostos a dar todas informações, correr de um boi que estava amarrado, ouvir história saudosas de um tempo que não volta mais e da saudade de seu antigo lar à beira mar. E não acaba por aí: histórias da luta por qualidade de vida, as entrevistas coletivas debaixo de uma mangueira ou de um cajueiro - todos muito atentos em busca de dados e ao mesmo tempo carinhosos com aqueles que nos recebiam, além do retorno de Ferry (Cujupe/São Luís) na noite de 19 de setembro e depois os pais ansiosos à espera de seus rebentos.
Enfim, foi como se tivéssemos sendo arrastado por um ‘tsunami’ de sensações e experiências que uma vida inteira de escola/sala-de-aula não proporcionariam jamais. A equipe que coordenou os trabalhos e os alunos tem muitas histórias para contar e contar história é parte intrínseca do processo educativo. Os que ficaram ouvem as histórias e perpassa-lhes um desejo de também ter ido. Porque não me esforcei mais para fazer parte dessa experiência maravilhosa que meus colegas vivenciaram?
A volta para casa foi triste e feliz. Eram outros meninos e meninas. Aprenderam e apreenderam tanta coisa em tão poucos dias! Agora vem a parte árdua. Vem a sistematização do que foi coletado e a análise bibliográfica através de textos e imagens – a produção de imagens merece uma tese, pois a principal paisagem para o adolescente é ele mesmo.
Da sistematização das pesquisas resultarão trabalhos com rigor científico que serão apresentados para a comunidade e que resultará em uma publicação. Mas isso tudo é quase nada diante do vendaval de emoções e sensações porque passaram naqueles dias 16, 17, 18 e 19 de setembro de 2009.’
Aqui alguns registros feitos durante a estadia dos alunos em Alcântara:









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