Homenagens no Largo de São Pedro

Jornal O Estado do Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 14h43

SÃO LUÍS - Pedir a proteção do padroeiro dos pescadores, também conhecido como o guardião das chaves do céu, é o motivo que leva batalhões de bumbas-meu-boi de todos os sotaques a comparecer, a partir de hoje à noite, à capela de São Pedro (Madre Deus). No largo, que também recebe o nome do santo, fé e devoção se mesclam à festa popular mais representativa do Maranhão.

Como manda a tradição, nesta noite/dia as orações são feitas em forma de toadas e o cansaço cede lugar à vontade de externar o amor pelos santos do período. Os batalhões passarão pelo local durante a noite de hoje e dia de amanhã, todos com a finalidade de reverenciar São Pedro.

De acordo com texto assinado pela pesquisadora Izaurina Nunes, a festa de São Pedro teve início com uma programação exclusivamente religiosa, comandada pelos pescadores da Madre Deus. Com o passar dos anos e a consolidação do festejo, o primeiro batalhão de bumba-meu-boi compareceu ao evento.

“Há registros de que o Bumba-meu-boi de Iguaíba tenha sido o primeiro grupo a visitar a Capela de São Pedro, seguido, em anos posteriores, pelos grupos de bumbas-meu-boi da Fé em Deus, Maioba e Vila Passos”, escreveu a pesquisadora em texto publicado no folder da festa de São Pedro em 2000.

O presidente do Boi de Iguaíba, representante do sotaque de matraca, Carlos Alberto da Silva, o Carrinho, confirma a informação. “Fizemos uma pesquisa em 2000 para sabermos a idade do boi. Foi assim que, conversando com os mais antigos, soubemos que o batalhão foi o primeiro a visitar a Capela de São Pedro no dia do santo, em 1930”, salienta o presidente.

Como forma de manter a tradição, o batalhão passará pelo largo às 6h de amanhã. No local, Iguaíba seguirá o mesmo ritual: alguns integrantes do folguedo sobem até a capela, rezam para o santo e tocam cerca de seis toadas. “Somos um boi de promessa, mantemos nossa tradição. É claro que algumas coisas mudaram, mas os boieiros e a comunidade cobram a ida à capela”, destaca Carrinho.

Outro representante do sotaque de matraca que também passa pelo largo é o Boi de Maracanã. O amo Humberto diz que este ano deverá estar no local por volta das 8h30. Ele conta que a primeira vez que acompanhou o batalhão foi em 1955. “Antes disso, o boi já passava pela capela”, frisa o cantador.

Para Humberto, a passagem pelo local faz parte de um ritual que se repete anualmente. “São Pedro, como São João e São Marçal, fazem parte de nossa história”, diz ele, afirmando que a maioria dos bois que costumam visitar a capela neste dia não são originários da Ilha de São Luís. “Poucos grupos de São Luís comparecem, a maioria é de representantes de sotaques de zabumba e pindaré, do interior do estado”.

Promessa

Do sotaque de zabumba, o Boi da Fé em Deus cumprirá sua obrigação de pedir proteção ao santo na madrugada de amanhã. Às 3h30, o novilho deverá chegar à capela. De acordo com Terezinha Jansen, a ida ao local é parte de uma promessa feita pelo antigo amo do boi, seu Laurentino. “Quando ele me passou esta responsabilidade, já fazia este ritual, que, para nós, representa um pedido para que o santo abra as portas para os brincantes”, observa a folclorista. Para ela, a visita é um momento especial, no qual os integrantes do boi deixam de lado suas dificuldades e abrem seus corações para São Pedro.

O mesmo sentimento é nutrido pelo batalhão do Boi Unidos de Santa Fé (sotaque de pindaré), que desde a fundação do grupo, em 1985, tem como obrigação passar pela capela para render graças a São Pedro. “Quando chegamos lá, todos nós entramos, dos batuqueiros aos brincantes, passando pelos cantadores, todos rezamos para o santo”, conta Rogério Lima dos Santos, diretor cultural do boi.

No Boi Unidos de Santa Fé, alguns cazumbás também mantêm promessa de subir de joelhos as escadarias da capela. “Nem todos fazem isso, mas muitos cazumbás cumprem essa obrigação”, destaca o diretor. Este ano, a manifestação deverá chegar ao largo às 8h30.

Bois de orquestra também rendem homenagens ao santo. Leila Naiva, do Boi de Axixá, informa que, embora o boi não seja de promessa, mantém a tradição de visitar ao santo em seu dia. “Passaremos ao amanhecer do dia 29, para agradecer a São Pedro por mais este ano, por termos superado nossas dificuldades e mais uma vez conseguirmos colocar o boi na rua”, adianta ele, que é uma das organizadoras do grupo.

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