Saúde

Teste para diagnóstico precoce da hanseníase deve ficar pronto em 2 anos

Objetivo é interromper a transmissão da doença, que ainda afeta 25 mil pacientes por ano no Brasil.

Akemi Nitahara / Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 11h23
Segundo o chefe do laboratório, Milton Moraes, a ideia é colocar o produto disponível em laboratórios de referência.
Segundo o chefe do laboratório, Milton Moraes, a ideia é colocar o produto disponível em laboratórios de referência. (Foto: Reprodução)

RIO DE JANEIRO - Dentro de dois anos, o Brasil pode ter disponível, na rede pública de saúde, o teste molecular para diagnóstico precoce da hanseníase, doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae. O protótipo, desenvolvido pelo laboratório de Hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), com apoio do laboratório Carlos Chagas, da Fiocruz no Paraná, já está em fase de validação e registro.

Segundo o chefe do laboratório, Milton Moraes, a ideia é colocar o produto disponível em laboratórios de referência em todo o país. “Nos últimos 10 anos, o Laboratório de Hanseníase da Fiocruz tem investido em um exame para diagnóstico baseado na detecção da micobactéria que causa a doença. Estes projetos hoje estão desenvolvidos em um ponto que já podemos oferecer ao paciente – em um centro de referência como o nosso – o diagnóstico preciso para que ele possa ser tratado adequadamente”.

O objetivo é fazer o diagnóstico precoce e interromper a transmissão da doença, que ainda afeta 25 mil pacientes por ano no Brasil. Moraes afirmou que o teste atual, sorológico, é menos sensível para detectar a doença quando o paciente tem poucos bacilos. “O teste molecular é feito com a biópsia de pele ou o raspado dérmico do lóbulo auricular. Coloca-se em um tubo, recupera-se o DNA do material e ele é testado para o DNA da micobactéria. Pode ser uma lesão precoce, ainda sem a deformidade, que é um dos problemas maiores da doença quando ocorre o diagnóstico tardio”.

Seminário

Milton Moraes foi um dos participantes do seminário Estratégias para Detectar e Interromper a Transmissão Global da Hanseníase, promovido pela Fundação Novartis, que ocorre hoje (30) e amanhã na Fiocruz. O evento debate com especialistas internacionais as inovações e os casos de sucesso na área.

A diretora da Fundação Novartis, Ann Arts, mostrou a estratégia de levar o serviço para fora da rede de saúde. No Brasil, o trabalho é feito com a Carreta da Saúde, que percorre o país desde 2011fazendo diagnósticos da hanseníase nos municípios e já atendeu mais de 20 mil pessoas, encontrando 2 mil pacientes com a doença.

“Temos que levar os serviços para fora da rede de saúde, as pessoas não podem esperar horas para medir a pressão ou conseguir uma prescrição. O Brasil tem um dos melhores sistemas de informações em saúde do mundo, com o mapeamento das doenças, então podemos dirigir os cuidados específicos para cada área. O diagnóstico móvel funciona no seu país!”

Ann destacou que, apesar do número de novos casos ter diminuído muito, desde o ano 2000, ainda são registrados mais de 200 mil novos casos por ano no mundo.

A coordenadora-geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação do Ministério da Saúde, Carmelita Filha, afirmou que o Brasil ainda precisa avançar muito para combater a doença, sendo atualmente o segundo país em número de casos, atrás apenas da Índia. Ela disse que a estratégia do governo segue as metas e metodologia de trabalho da Organização Mundial de Saúde (OMS), de reduzir a zero o número de crianças e menores de 15 anos diagnosticadas já com alguma incapacidade física.

“Hoje temos [uma média anual de] 52 crianças que, quando recebem o diagnóstico de hanseníase têm incapacidade física, que é carro-chefe para o preconceito, mesmo sabendo que a hanseníase tem cura, tem tratamento. Então, nosso foco são as crianças, mas temos a meta também de reduzir a incapacidade física na população em geral. Por ano, de 25 mil casos em 2016, 7,5% são pessoas que tem uma incapacidade física. Se não tratar, vai ser uma limitação para essas pessoas para o resto da vida”.

Diagnóstico e tratamento

O tratamento da hanseníase é feito na rede de atenção primária de saúde e está disponível em todos os municípios do Brasil, segundo o Ministério da Saúde. A recomendação é que os familiares e pessoas que tiveram contato frequente com o paciente nos últimos cinco anos façam o exame de contato, pois são as que têm mais possibilidade de contrair a doença. No Brasil, a concentração de casos está na Região Norte, parte do Nordeste e do Centro Oeste, nas áreas centrais do país.

De acordo com o coordenador nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Mohan), Artur Custódio, o Brasil está muito atrasado na eliminação da doença.

“O Brasil é o primeiro lugar em índice de hanseníase, a Índia é o primeiro em número absoluto, mas tem a população muito maior [cerca de 1,2 bilhão de habitantes]. Somos o único país que não atingiu a meta da OMS, que é de um caso para cada 2 mil habitantes. O mundo todo está propondo a erradicação, que é chegar a zero, o Brasil ainda está lutando pela eliminação, que é chegar num índice aceitável de 1 a cada 10 mil. Esse é o desafio.”

Os principais sintomas iniciais da hanseníase são dormência, manchas esbranquiçadas com perda de sensibilidade e nódulos avermelhados. O Mohan oferece um serviço telefônico para tirar dúvidas sobre a doença, o Tele-Hansen, pelo número 0800 026 2001.

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