ESPECIALISTA AFIRMA QUE...

Especialista afirma que Reservatório do Batatã pode secar em 15 anos

A área, que antes era de seis mil hectares, fora reduzida para três mil hectares.

Heider Matos/Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h48

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SÃO LUÍS – A grande quantidade de invasões que se instalaram no Parque Florestal do Sacavém, ameaça o Reservatório do Batatã, em São Luís. Em 15 anos, casas, indústrias, fazendas e até empreendimentos do programa Minha Casa, Minha Vida, ocuparam, indevidamente, parte da reserva florestal.

Um estudo feito pela Secretária Estadual de Meio Ambiente (Sema) detectou que a área, que antes era de seis mil hectares, fora reduzida para três mil hectares. O principal rio que abastecia o reservatório, chamado Batatã, foi praticamente engolido por duas invasões. A quantidade de água que existe no reservatório é de apenas 5%, do volume de 4 600 000 m³ (quatro milhões e seiscentos mil metros cúbicos), segundo levantamento da Ômega Consultoria.

De acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental, este é o quarto ano consecutivo que a barragem está seca. O que chama a atenção é que boa parte das invasões possuem cinco anos e impactam diretamente a barragem, como explica José Ribamar Rodrigues Fernandes, diretor de engenharia e meio ambiente da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema). “Nós temos dois problemas. O primeiro é que estas invasões prejudicam o escoamento da água para dentro da barragem. O outro é a poluição que é gerada por estas ocupações. Os rios e pequenos riachos que contribuíam para este reservatório tiveram suas vazões reduzidas. As ocupações tiraram a vegetação e impermeabilizou a área”, explicou.

 Reservatório do Batatã. Foto: Franklim Cunha/O Estado.
Reservatório do Batatã. Foto: Franklim Cunha/O Estado.

As invasões e, posteriormente, a criação dos residenciais Batatã e Shalom transformaram o rio Batatã, em apenas um córrego. No local, casebres deram lugar, ao que antes era a mata ciliar do rio. Algumas pessoas da região aproveitaram o solo e escavaram açudes para a criação de peixes. O Imirante.com esteve no local e ouviu o relato de moradores, que sem se dar conta da gravidade do problema, celebram a conquista da moradia, que para alguns, é a primeira, como é o caso de Conceição, de 26 anos, moradora do Residencial Batatã. “Estou feliz aqui. Com muita luta e muita garra, conquistei a minha casa”, disse sorridente. Ela relata que quando chegou ao local, ainda era possível ver o rio. “O rio batia na minha porta”, lembra.

As ocupações residenciais não são as únicas ameaças. A retirada de pedra e barro, e o uso do solo como pasto para animais, também contribuíram para a perda gradativa do Parque Florestal e a seca do reservatório. Além disso, uma grande quantidade de lixo, produzido pelas ocupações, são jogados diariamente no reservatório. Segundo a Caema, mais de uma tonelada de lixo foi retirado do reservatório. Dentre os quais: garrafas pets, sacos plásticos, pedaços de isopor, cofos, pedaços de tábuas, restos de calçados, pneus e até frascos de medicamentos. Em entrevista ao Imirante.com, Lucio Macedo, especialista em meio ambiente e diretor da Ômega Consultoria, disse que tais atos precisam ser coibidos e alertou: “Se soluções não forem tomadas, em 15 anos vamos perder essa barragem”, alertou.

 Rio Batatã, atualmente. Foto: Heider Matos/Imirante.com.
Rio Batatã, atualmente. Foto: Heider Matos/Imirante.com.

Segundo o especialista, outros reservatórios desapareceram devido ao crescimento de ocupações residenciais. Até meados de 1980 e 1990, São Luís possuía sete mananciais que funcionavam como reservatórios. Devido a invasões e criação de conjuntos residenciais, pouco a pouco, os reservatórios secaram e desapareceram. “Esse sistema de sete reservatórios, é que abastecia a cidade. Somando todos, o Batatã é o maior. O São Raimundo desapareceu antes dos anos 90, com o início do conjunto São Raimundo. Zé Cearense, Veloso, Maracanã que ficavam no parque Sacavém, no entorno do Batatã, também secaram. O Cujupe desapareceu quando surgiu o Cruzeiro de Santa Bárbara. E outros dois, também sumiram. O Pururuca, em Paço do Lumiar e o Jaguarema, onde hoje é UPA do Araçagi, também secaram”, explicou Lúcio.

Uma solução imediata para a seca do Batatã seria o desvio de um de seus afluentes, o rio Bacanguinha. “Hoje poderia ser um alimentador do reservatório do Batatã. Durante o verão, o principal alimentador da barragem é o rio Batatã. A outra parte é bombeada do rio da Prata que não secou. Só que lá, tem todo tipo de uso”, informou Lúcio Macedo.

A outra solução seria a construção de um muro de contenção, com fortes de vigilância em toda a extensão do reservatório e a retirada de algumas ocupações. Segundo o diretor, já há orçamento e previsão de início das obras. “Já está no período de licitação. A obra terá oito meses de duração. As ocupações que estão impactando diretamente a represa têm de ser retiradas. E isso não é uma coisa fácil”, alertou.

Histórico do Batatã

A história do reservatório, ou barragem, começou nos anos de 1950, com a restauração da Reserva Florestal do Sacavém. À época, a reserva fora objeto de avaliação de engenheiros norte-americanos que perceberam o potencial de uso dessas águas para a futura expansão da cidade de São Luís. Nesse período, a capital maranhense tinha em torno de 100 mil habitantes. Em 1964, foi construída uma barragem no rio, chamado Batatã, e que posteriormente deu origem ao Reservatório. Até o início no ano, era responsável pelo abastecimento de 25 bairros, que corresponde a 10% da população de São Luís, entre eles: Centro, Madre Deus, Goiabal, Codozinho, Vila Bessa, Belira, Lira, parte da Areinha, Macaúba, Apicum Camboa, Vila Bangu, Diamante, Vila Passo, Corea de Baixo e Corea de Cima, Sítio do Meio, Alto de Boa Vista, Retiro Natal, Liberdade, Tomé de Sousa, Fé em Deus, Floresta e parte do Monte Castelo. Entretanto, segundo a Caema, devido à seca no reservatório, o Batatã passou a abastecer somente 4% da população de São Luís.

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