SÃO LUÍS – “Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”, disse certa vez o poeta Mário Quintana. A crítica é dura, mas deve ser levada em consideração, pois a falta de leitura contribui com o subdesenvolvimento intelectual da sociedade brasileira e, consequentemente, com o subdesenvolvimento econômico e político.
O Anuário Brasileiro da Educação Básica (ABEB) 2014 aponta que 8,7% da população brasileira, com 15 anos ou mais, é declaradamente analfabeta. O número é relativamente pequeno, no entanto, o Anuário informa que, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2012, 47% dos brasileiros estão apenas no alfabetismo nível básico e 21% no rudimentar. Esses dados indicam que, 68% dos brasileiros não atingiram o nível de alfabetismo pleno, podendo estar inserido no grupo dos analfabetos funcionais.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o analfabeto funcional é toda pessoa que sabe escrever seu próprio nome, lê e escreve frases simples, sabe fazer cálculos básicos, mas não usa a leitura e a escrita em atividades rotineiras do dia a dia, comprometendo seu desenvolvimento pessoal, profissional, acesso ao mercado globalizado de trabalho.
As regiões Norte e Nordeste são as com menor nível de alfabetização.
E os com renda per capita maior continuam no topo do desenvolvimento intelectual do país.
De acordo com uma pesquisa publicada em 2013, Leitura e escrita no ensino fundamental: qual a situação na escola pública de São Luís-MA?, se o hábito de ler não for desenvolvido desde a educação básica, o aluno chega ao ensino médio com um grande deficit de leitura.
Segundo o professor e consultor de língua portuguesa, Paulo de Tarso, o hábito da leitura deve ser influenciado desde casa. “Os pais devem influenciar seus filhos a lerem. Não apenas dizer para eles lerem, mas ler também. A criança precisa ver os pais, tios ou irmãos mais velhos como referência”, defende.
O professor explica que, a mesma prática deve ser feita na escola. O educador deve induzir o aluno a ler, não apenas obrigando o estudante, mas, também, mostrando que gosta de ler.
A leitura, segundo Paulo de Tarso, é importante, pois amplia o conhecimento de mundo do cidadão, fazendo o mais participativo nas questões sociais e politicamente ativo. Além disso, quem lê com frequência escreve e fala melhor.
Outra pesquisa publicada em 2013, Necessidade da leitura no processo ensino/aprendizagem, destaca que, “a falta de leitura provoca problemas graves na expressão escrita, dificultando o ensino-aprendizagem, por exemplo, da redação”.
O reflexo do analfabetismo funcional no Brasil pode ser visto no desempenho dos alunos do Ensino Médio. O Anuário Brasileiro da Educação Básica aponta que, apesar de ter aumentado o número de jovens cursado o ensino médio – 23,5% em 1995 e 54,4% em 2012 – o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostra que os alunos do 3º ano do ensino médio têm severas limitações no domínio culto do português, ele sabe apenas distinguir o que é fato e o que é opinião em um fragmento de texto e identificar a finalidade básica de um texto simples, e esse nível educacional é muito pouco para atender as exigências do mercado de trabalho.
Segundo o último censo (2010), entre os anos 2000 e 2010, o número de jovens, entre 15 e 29 anos, que não estudam, não trabalham e não procuram emprego aumentou 17,2%.
Outro dado alarmante é que, menos da metade da população entre 18 e 24 anos cursa o ensino superior no Brasil.
A pesquisa Necessidade da leitura no processo ensino/aprendizagem destaca que, para solucionar o problema da baixa qualidade de leitura e interesse pela educação no Brasil, é necessário criar mecanismos de incentivo ao aluno. “O hábito de leitura, contudo, só consegue ter êxito se associado ao prazer, ao jogo e à arte, de modo que o leitor sinta-se motivado em contato com formas de comunicação que caracterizam a arte da palavra”.
A pesquisa conclui que o incentivo à leitura deve começar nos primeiros anos de vida do cidadão, com livros literários interativos e práticas de educação lúdicas. Além disso, as novas tecnologias não podem anular a importância da leitura, mas devem ser usados como aliados no processo educacional.
“Todas as novas tecnologias têm o seu espaço. As crianças são muito receptivas às novidades. Portanto, o livro não deixa, mesmo assim, de ter o seu lugar e sua importância. É sabido que o texto estimula a imaginação, provoca reflexões pessoais, favorece a meditação, enriquece o patrimônio verbal e a cultura geral do leitor”, finaliza.
Saiba Mais
- Selo identificará gestão pública comprometida com a alfabetização
- Demandas para alfabetização devem ser apresentadas por estados e municípios
- Alfabetização de crianças ainda é desafio para o Brasil
- Governo deve investir R$ 3 bilhões para alfabetização na idade certa
- Lula diz que Estado falhou na alfabetização de crianças
Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.