Buracos

Anil: 80 anos de luta por melhorias

O Estado do Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 13h31

SÃO LUÍS - Com mais de 80 anos de existência, o Anil é considerado um dos bairros tradicionais de São Luís. A história da comunidade está diretamente ligada à criação do parque têxtil ludovicense, do começo até meados das décadas de 40 e 50, com destaque para a Fábrica Rio Anil. Habitado, desde o início, por famílias abastadas, o Anil ganhou, com a prosperidade comercial, sua primeira urbanização, quando se formaram, ao lado dos núcleos abastados, vilas habitadas pelos mais pobres. Na segunda urbanização, na década de 70 em diante e mais acelerada que a primeira, o bairro foi englobando outras comunidades como o Pão de Açúcar, Piquizeiro, Aurora e Cruzeiro do Anil, formando o Grande Anil.

Atualmente, com um contingente de cerca de 50 mil pessoas, o Grande Anil lida com os contrastes de todo núcleo urbano que cresce de forma desordenada. As demandas sociais, por saúde, educação, infra-estrutura e outras mostram avanços, mas também muitas distorções a serem corrigidas.

Malha Viária

A precariedade da camada asfáltica é um dos principais problemas do bairro. Ruas como São Geraldo, Cônego Tavares, Antônio Xavier e da Companhia são algumas em pior situação. De acordo com o morador Celso Brandão, os motoristas reclamam muito da situação das ruas. “Um amigo meu teve um prejuízo de R$ 400,00 quando passou como carro em cima de um buraco na rua Antônio Xavier”, contou.

Ainda de acordo com Brandão, um extenso trecho da rua Cônego Tavares não tem asfalto. “O curioso é que a rua consta como toda pavimentada no último orçamento participativo”, comentou o morador. Ele citou também que o trecho entre as ruas da Companhia e São Geraldo tem muitas irregularidades no asfalto. “A qualidade do asfalto é ruim, porque fazem operação tapa-buraco e depois as crateras aparecem de novo”, observou.

Rede de esgotos

A rede de esgotos também é precária. De acordo com o médico Ubirajara Ramos, que tem uma história de vida ligada ao bairro, a principal questão são os esgotos que desembocam no rio Anil. “Os dejetos da Cohab Anil II estão sendo jogados diretamente no rio, contaminado-o e causando risco à saúde das pessoas”, denunciou. Para ele, tudo começou quando a Prefeitura fez, há seis anos, uma obra para abaixar o leito do rio e uma das máquinas quebrou um cano de esgoto.

O esgoto a céu aberto também escorre nas vias. “Perto do colégio Cintra tem um esgoto que vive estourando”, disse a moradora Maria Castro. Ela contou ainda que outro ponto complicado é próximo à rua São Jorge. “Lá, não foi feito o complemento do encanamento que vai da rua Maracajá à da Companhia, e os dejetos correm à mostra pelos quintais de casas. Quando vem a chuva, fica insuportável, porque o mau cheiro se espalha”, complementou Maria Castro. Conforme informou a moradora, já foram feitas solicitações à Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão (Caema) tanto para o caso de esgoto lançado no rio como o das ruas, mas nada foi feito. “Os canos antigos, daquela manilha de barro, não suportam mais a vazão das residências, a tubulação deveria ser trocada”, finalizou.

Policiamento

Na opinião dos moradores do Anil, o policiamento na comunidade é deficiente. “Os lugares mais difíceis são na ponte que fica perto do Cintra, na que divide as ruas São Geraldo e Antônio Xavier e em locais mais interiores, como a rua da Salina e a da Matança”, detalhou o ciclista Mário Fonseca, que mora nas proximidades da rua Cônego Tavares. “A partir de 8h da noite fica complicado andar sozinho por aquelas pontes”, expôs. Mário Barros observou ainda que, nesses locais, acontecem muitos assaltos e que deveria haver presença da Polícia Militar perto do Cintra para garantir a integridade dos estudantes.

Outra reivindicação dos moradores são as delegacias de polícia. “A que existia foi desativada para implantar a CCPJ (Central de Custódia de Presos de Justiça) e temos de ir à Cohab, ao Radional ou ao Cohatrac para registrar uma queixa”, reclamou o morador Afonso Valadares.

Mercados

Em toda a área do Anil existe apenas um mercado, no próprio Anil, e uma feira no Cruzeiro do Anil. Os dois são bem antigos, principalmente o primeiro, que data da administração de Haroldo Tavares, na década de 60. “O mercado do Anil nunca teve uma ampla reforma, como o aumento do número de boxes, melhoria das estruturas e uma maior higienização do local”, disse o pedreiro Marcos Brás, que se desloca do Cruzeiro do Anil para comprar no mercado do Anil. Ainda segundo ele, a feira do bairro onde mora tem péssima infra-estrutura e problemas sanitários.

Trânsito e Transportes

A avenida Casemiro Júnior, que passa pelo Anil, é um dos grandes pontos de engarrafamento da cidade nos horários de pico. Para o morador Onofre Soares, não foi feito um planejamento adequado para o trânsito. “O fluxo do trânsito aumentou com o passar dos anos e o poder municipal não tomava providências”, ressaltou. Em sua opinião, uma solução viável seria unir a avenida Casemiro Júnior e a rua paralela, Cônego Tavares (que vai até o Clube Lítero) numa só via, com duas mãos. “Uma conduziria o tráfego Anil Centro e a outra o trânsito Centro-Anil, desafogando a circulação de veículos”, enfatizou.

Carlos Malheiros defende que as paradas de ônibus deveriam ser melhor sinalizadas e ter abrigos. “Nos postes só existem placas antigas, já desgastadas e nenhuma tem abrigo”, reclamou Carlos Malheiros, defendendo ainda que deveria haver mais um itinerário de coletivo dentro do bairro. “Embora a única linha, Piquizeiro, cubra razoavelmente o bairro, sempre há alguns pontos que ficam desfavorecidos”, lembrou.

Postos de Saúde

Em toda a área do Anil, só existe um posto de saúde. “Desde a década de 60, esse posto recebe gente do Anil e de outros bairros. A demanda aumenta a cada dia”, evidenciou o presidente da União Recreativa e Comunitária Anilense (Ubra), Valdivino Castelo Branco. Para ele, o bairro já deveria ter um grande hospital público e mais postos de saúde. “No único posto do Anil, temos uma razoável atenção básica, que é um dos três níveis do padrão de saúde pública estabelecido pelo SUS, mas o posto não está preparado para a média atenção, pois não tem laboratórios e tratamentos mais especializados têm de ser remetidos para os Socorrões, que já vivem lotados”, afirmou.

Áreas de lazer

Os moradores do Grande Anil também almejam um Viva Cidadão. Conforme Hélio de Sousa Pinto, morador da rua 1º de Maio, o bairro também precisa de mais praças e ponto de lazer. “Não temos um Viva Cidadão, o mais próximo disso é um largo na rua 1º de maio, que está abandonado, assim como as poucas praças existentes”, relatou. Ainda segundo o morador, a estrutura da ponte que divide as ruas São Geraldo e Antônio Xavier tem de ser recuperada. “Os corrimões e parapeitos estão desgastados ou destruídos. Esta ponte é um cartão-postal do bairro e a Prefeitura devia zelar pela imagem dela”, sugeriu. Na travessa São Geraldo, as estruturas de um teleposto comunitário, que nos anos 80 era ponto de encontro da comunidade, está abandonado. “O poder municipal não recupera e nem procura viabilizar outro espaço no local e acaba deixando uma poluição visual para o bairro”, apontou Hélio de Sousa Pinto.

Escolas

Para a comunidade, o Anil é bem servido de escolas, creches e jardins de infância. “Aqui temos colégios com o Sá Valle e o Cintra, muito bons”, elogiou o comerciante Paulo Fontes. Mas, segundo o comerciante, as escolas públicas têm de otimizar a inclusão digital e com o Anil não poderia ser diferente. “Nas escolas que não há laboratório com computador, ele deve ser implantado, já os que possuem e de forma deficiente têm de ser melhorados e isso cabe aos esforços unidos do Estado e do Município”, justificou. Outra questão apontada por Paulo Pontes é o reduzido número de escolas estaduais na área do Anil. “A maioria das escolas públicas daqui é municipal, só tem o Cintra de estadual, que recebe muitos alunos e é um ótimo colégio, mas é necessário mais escolas do Estado para suprir, com folga, a demanda do Grande Anil”, resumiu.

Coleta de lixo

Na opinião geral dos moradores, a coleta de lixo é regular, apesar de, em certas semanas, o caminhão passar apenas uma ou duas vezes. “A programação aqui é para as terças e quintas-feiras e sábados, mas tem semana que só passa um ou duas vezes e o lixo fica amontoado em sacos pelas vias”, resumiu Alberto Pereira.

Com relação aos problemas de infra-estrutura das ruas, a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp) informou que a pavimentação e recuperação das vias estão incluídas num projeto maior de recuperação da malha viária da capital, que aguarda recursos.

A Caema informou que R$ 111 milhões, provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), serão investidos nas obras da primeira etapa do Programa de Ampliação do Sistema de Saneamento e Saúde do Estado do Maranhão, incluindo a revitalização do rio Anil. Essas obras estavam previstas para ser iniciadas dia 5 de maio deste ano, mas, segundo moradores, ainda não viram nenhum benefício no bairro, já que os dejetos continuam sendo jogados no rio Anil.

A Polícia Militar informou que, por causa das limitações do aparelho policial, não há maior cobertura para o bairro, mas que a segurança é feita na medida do possível. A Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) informou que a construção de abrigos nas paradas depende de uma ampla negociação com os proprietários de imóveis próximos aos locais onde são solicitados. Com respeito à falta de uma delegacia no bairro, O Estado não conseguiu entrar em contato com a Secretaria de Segurança do Estado.

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