RECIFE - Um acidente ocorrido na madrugada de ontem, no município de Machados, distante 99 quilômetros do Recife, deixou dois integrantes da Banda Metade mortos. O ônibus, que levava o grupo da cidade para o Recife, onde estavam previstas duas apresentações, perdeu o controle, por volta de 1h, na rodovia PE-89, e caiu de uma ribanceira de aproximadamente 50 metros de altura. Ivanira Melo de Souza, 24 anos, e Usiel Barbosa de Moura, 34, não resistiram aos ferimentos e morreram na hora. Outras 21 pessoas ficaram feridas.

Ivanira, conhecida no meio artístico como Dani, era vocalista da banda desde a quinta-feira da semana passada. Já Usiel, chamado pelos amigos de Moura, era um dos donos do grupo, que completará quatro anos de existência no início de 2005. A primeira foi encontrada com as pernas dilaceradas, enquanto que o corpo do homem apresentava sinais de esmagamento na face e no tórax.

Cinco pessoas ficaram gravemente feridas. Alcidésia Fonseca da Silva, 37 anos; Roberta Sampaio, 15; Abmael Silva, 32; Dioneres Santana, 23, e Celso José Dias, 32, foram levados para o Hospital Edison Alvares, em Machados, e depois transferidos para o Hospital da Restauração (HR). Os outros 16 integrantes do grupo, apresentando apenas pequenas escoriações pelo corpo, receberam alta, depois de serem atendidos na unidade hospitalar da cidade interiorana. “Foi muita agonia, mas a gente já esperava porque um motoqueiro passou e avisou à gente do acidente”, contou uma enfermeira do Edison Alvares.

Os primeiros socorros às vítimas do acidente foram prestados por uma equipe da Polícia Militar de Machados, que foi interceptada na estrada por algumas das vítimas. “Nós encontramos na pista umas pessoas, que eram componentes do grupo, pedindo ajuda. Fomos até o local e conseguimos tirar de dentro do ônibus as que não estavam conseguindo sair sozinhas”, recordou o policial militar Antônio Maciel.

Essa mesma equipe da PM começou a levar, aos poucos, os feridos para o hospital, que fica a cerca de cinco quilômetros do local do acidente. O Corpo de Bombeiros chegou por volta das 3h30. Somente às 4h os corpos foram retirados do local e encaminhados para o Instituto de Medicina Legal (IML). De acordo com os bombeiros, Dani estava embaixo do ônibus, enquanto que Usiel foi localizado dentro do veículo, porém sem estar preso às ferragens. O enterro de Dani está marcado para hoje, no Cemitério de Santo Amaro. Usiel foi sepultado ainda ontem, no mesmo sepulcrário.

O acidente que deixou duas pessoas da Banda Metade mortas e outras 21 feridas pode ter sido ocasionado por uma falha mecânica no ônibus que transportava o grupo. Algumas vítimas contaram que ouviram o motorista, José Martins da Silva, gritar, momentos antes do veículo perder a direção, que “estava sem freio”. O local onde o veículo caiu do barranco fica numa curva, no lado direito da pista, no sentido Interior-Recife, logo depois de uma ladeira.

Segundo a versão de alguns integrantes do grupo, o ônibus estava percorrendo esse trecho em baixa velocidade, até o momento em que o freio teria falhado. “A gente vinha a 50 quilômetros por hora, porque estava chovendo. De repente, o motorista gritou: “Faltou freio!”. Como a gente estava em uma ladeira, o ônibus começou a ganhar velocidade, até que ele saiu da pista e capotou”, contou Melquisedeque Lopes, 26 anos, que é dançarino da banda.

A reportagem da Folha de Pernambuco tentou entrar em contato com o motorista do ônibus, mas, até o fechamento desta edição, às 20h, ele estava em repouso, sem poder falar com a imprensa. Entretanto, os depoimentos de outras pessoas ressaltam a possibilidade de ter havido falha mecânica. “Eu estava dormindo. Acordei quando o ônibus deu uma rabiada, aí eu segurei na poltrona. Foi tudo muito rápido”, destacou o produtor da banda e sobrinho de Usiel, Adriano de Souza.

Paralelo às especulações em torno do motivo do desastre, alguns moradores da cidade de Machados recordaram uma triste coincidência envolvendo o acidente fatal que vitimou dois integrantes da Banda Metade. O local onde o ônibus despencou fica numa área onde diversos acidentes já ocorreram, deixando várias pessoas mortas.

O ônibus da Metade bateu em uma capela que foi construída em memória a um jovem morto durante um acidente de carro. No mato ao lado do acostamento, distante menos de um metro da parte da proteção de alumínio que foi arrancada pelo veículo, uma cruz indicava que outra pessoa já morreu naquele local.

Há quem diga que esse trecho da pista é maldito. “Muitos acidentes já aconteceram, nesse mesmo lugar. A capela foi construída por causa disso”, disse o funcionário público Nildo Marcolino Filho, 49 anos, que mora em Machados, enquanto olhava o ônibus virado.

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