Educação

Para debater o racismo

Alunos da CE Lúcia Chaves, zona rural de São Luís, desenvolveram uma revista em quadrinhos e um ensaio fotográfico sobre a temática para as aulas de inglês

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
Estudantes visitaram o Cafua das Mercês
Estudantes visitaram o Cafua das Mercês (projeto racismo)

São Luís - Diversidade e empoderamento são palavras de ordem nos dias de hoje. Mas apesar de a sociedade passar por um contexto de mudanças, o preconceito ainda está presente em muitos lugares e na sala de aula não poderia ser diferente. Foi com esse intuito, de debater o tema do racismo e promover mudanças significativas nas relações sociais que a professora Marcélia Leal e seus alunos do Centro de Ensino Lúcia Chaves (Vila Esperança) desenvolveram o projeto “Black lives matter”, em tradução livre: Vidas negras importam.

Marcélia Leal é professora de Língua Inglesa e sentia dificuldade de trabalhar a língua estrangeira em escolas de comunidades rurais, como a que trabalha, porque os alunos acreditam que aprender um idioma diferente não teria serventia alguma no futuro deles. “Para muitos, a língua é só um conteúdo gramatical. Pensei em fazer com que a disciplina fosse algo interessante e que surgisse com mais naturalidade, para que eles entendessem a importância de uma língua estrangeira para a formação profissional e de sua identidade”, explica.

Com um grande número de alunos negros, a professora achou por bem tratar da temática do racismo, já que muitos deles convivem com a discriminação velada ou explícita em seu cotidiano. “Como negros, eles não sabiam o que era preconceito, discriminação, nem sabem dos direitos que os amparam”, afirmou. Segundo ela, a escola silencia para essas questões, naturalizando o preconceito. “É preciso falar sobre isso”, continuou.

Atividades
Apesar da pandemia, o projeto se desenvolveu com algumas atividades que pudessem ser realizadas de casa e algumas outras presencialmente, com todo o cuidado em relação à contaminação e à propagação do vírus.

A visita à Cafua das Mercês – Museu do Negro (Desterro) foi uma dela. Lá puderam conhecer um pouco mais sobre a história dos africanos que foram comercializados como escravos no Maranhão e também fizeram um ensaio fotográfico em que imprimiam seu sentimento diante a situação de sofrimento vivida por aqueles homens e mulheres negros. “O momento no museu foi uma vivência única, onde pude conhecer a história daquele local, as pessoas que passaram por lá. Foi um momento que me marcou muito”, contou Luma Costa, 15 anos.

Depois de pesquisarem sobre personalidades negras e também de personagens em quadrinhos, os alunos, com auxílio do professor, elaboraram sua própria HQ, que relata o dia a dia de uma estudante e como ele enfrenta o preconceito. Além disso, o grupo de alunos produziram jogos de tabuleiro que abordam o tema e promoveram uma pequena manifestação nas proximidades da escola com cartazes com palavras de ordem. Quadrinhos, jogos e cartazes, tudo foi escrito em inglês.

O estudante Gustavo Garcês, 15 anos, se sente muito representado com o projeto. “Vejo com muita alegria esse trabalho, principalmente aqui na escola, um local onde o racismo é muito frequente. O projeto faz com que eu tenha esperança de uma sociedade melhor, com mais respeito e igualdade. Me fez sentir acolhido e amado”, ressaltou.

Conversas
Segundo a professora, defensores públicos e advogados que trabalham com o tema também deram suas contribuições, participando de rodas de conversa em salas virtuais partilhando sua vivência e servindo de exemplo para os alunos de como uma pessoa negra com estudo e dedicação pode alcançar importantes cargos profissionais na sociedade.

“O que percebi foi que havia uma grande necessidade de se aprofundar nessa temática, contribuir na construção de uma sociedade antirracista e promover um espaço pedagógico livre de preconceitos. Meu sentimento é de satisfação, de certa forma realizada no trabalho que propus e planejei para eles, aliando língua inglesa e tema social”, contou Marcélia Leal.

Para ela, foi um momento de aprendizagem, já que como os alunos, pouco conhecia sobre o tema. “Aprendi junto com eles, através de pesquisas, lives, muita leitura e discussões. Comprovei que não somos detentores do saber e que nossas aulas precisam de abordagens diferenciadas e contextualizadas”, finalizou. l

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