Imunização

Sem vacinas, Brasil pode enfrentar mais variantes do coronavírus

Não bastasse a ameaça do novo coronavírus (Sars-Cov-2) por si só, o Brasil corre o risco de lidar com mais problemas em relação à Covid-19. Se o governo não buscar vacinas adicionais contra a doença, apenas uma parcela da população será imunizada

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Brasil precisa de vacinas adicionais contra a Covid-19 e monitoramento adequado
Brasil precisa de vacinas adicionais contra a Covid-19 e monitoramento adequado (Vacinas)

BRASÍLIA - Não bastasse a ameaça do novo coronavírus (Sars-Cov-2) por si só, o Brasil corre o risco de lidar com mais problemas em relação à Covid-19. Se o governo não buscar vacinas adicionais contra a doença, apenas uma parcela da população será imunizada. E mais, os brasileiros poderão ter de lidar com novas variantes do vírus a partir do segundo semestre.

O alerta é da professora Cristiana Toscano, única brasileira membro do Grupo Estratégico Internacional de Experts em Vacinas e Vacinação da Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu Grupo de Trabalho de Vacinas para Covid-19.

Seu aviso vem num momento em que as mutações do vírus se transformaram na maior ameaça para frear a pandemia. Em seu último informe semanal, a OMS indicou que, em Manaus, a variante do vírus já passou a ser predominante.

“Manaus tem o potencial para se tornar um risco global, além de estar enfrentando uma situação epidemiológica que representa um fiasco das ações de saúde pública local e nacional”, avaliou a especialista em entrevista ao Uol .

Ela lembra que a conduta do Brasil diante da identificação da mutação é incorreta e bem diferente de outros países, que passaram a exigir testes para diminuir a velocidade de propagação da nova variante brasileira em seus territórios.

“No Brasil, não há vacinação intensificada em Manaus, não houve restrição de circulação de pessoas em Manaus ou nenhuma outra ação de saúde pública objetivando a contenção da nova variante. Nada. Então as pessoas entram e saem de Manaus e estão circulando no Brasil inteiro. A vacinação chegou a ser suspensa. Tudo o que não deveria ocorrer esta ocorrendo”, advertiu.

Aval da OMS

Cristiana Toscano, esteve diretamente envolvida no aval da OMS para a vacina da AstraZeneca. Ela ainda participou da reunião promovida pela organização para discutir como melhorar globalmente o monitoramento de novas variantes e avaliação de eficácia de vacinas.

Para ela, a vacinação deve ocorrer de forma “rápida e eficiente, e não arrastada.” O argumento é claro: uma imunização lenta abre novas possibilidades para a evolução do vírus e o surgimento de novas variantes. Nesse aspecto, o Brasil vive uma ameaça.

Como impedir

Segundo a especialista, a melhor forma de coibir o surgimento de variantes é reduzir a transmissão viral por meio do distanciamento social e a vacinação. Mas se o vírus continuar a circular em uma população parcialmente imune, trata-se de um “estímulo para o aparecimento de novas variantes”.

“Sabemos vacinar. Mas precisamos de mais doses, de coordenação nacional, de sistemas de informação e monitoramento funcionantes. É só fazer a matemática: teremos vacinas para os grupos de risco para o primeiro semestre”, disse. “Mas isso é apenas um terço para da população. Ou o Brasil vai atrás já por mais vacinas para o restante da população, ou vamos chegar em agosto com o grupo prioritário vacinado lentamente e o resto da população sem nada. O resultado poder ser o enfrentamento de mais uma nova variante e perspectivas mais longínquas para a superação da pandemia”, alertou.

“O mundo sabe que temos capacidade técnica e científica. Mas, por falta total de liderança, coordenação e transparência, o processo está em risco. O Brasil está deixando um vácuo, nacional e internacional. E isso é vergonhoso. E a situação epidemiológica da pandemia no Brasil é o retrato de tudo isso”, completou.

Previsão de Pazuello
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, questionou na sexta-feira,112, a projeção do ministro da Saúde Eduardo Pazuello de imunizar toda a população 'vacinável' do Brasil em 2021. Dimas criticou a indefinição do que seria esse público mencionado por Pazuello e a indisponibilidade de doses suficientes para atingir a chamada "imunidade de rebanho".

Até quinta-feira,11, em torno de 4,5 milhões de pessoas receberam a primeira dose contra a Covid-19, o que representa somente 2,16% dos brasileiros, segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa feito junto às secretarias estaduais de saúde.
"Essa afirmação do ministro precisa ser respaldada em fatos que nesse momento ainda não existem", afirmou o diretor do Instituto Butantan.

A projeção de atingir toda a população 'vacinável' ainda este ano foi colocada pelo ministro durante uma audiência no Senado na quinta-feira,11.

Sem dar detalhes, Pazuello afirmou que 50% desse público receberá imunizantes até junho e que os outros 50% serão vacinados até dezembro, mas não explicou o que considera “população vacinável”. No Brasil, pessoas com a imunidade baixa e menores de 18 anos não estão sendo vacinadas.

Os critérios adotados pelo governo federal e a falta de vacinas também são questionados por representantes de estados como Santa Catarina, Pará e Espírito Santo, que pedem o envio de mais remessas para fazer frente à demanda de vacinação

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