Música proibida

Artistas contestam decisão da Justiça de suspender músicas em bares

Suspensão de apresentações musicais e som mecânico entre os dias 12 a 18 de fevereiro deixou artistas apreensivos, alguns estão preocupados em como irão honrar compromissos financeiros

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
(Microfone)

São Luís- Na última quinta-feira (11), a Justiça, em conjunto com representantes do Sindicato de Bares e Restaurantes (Sindibares) decidiu novas medidas de prevenção ao coronavírus durante o período de carnaval e uma das medidas que chamou atenção foi a suspensão de apresentações musicais e som mecânico em bares e restaurantes no período que vai desta sexta-feira (12) ao dia 18 de fevereiro. A decisão foi tomada em reunião ministral com o juiz Douglas Martins que decidiu pela medida, mas negou um novo lockdown, pedido que tinha sido feito pela Defensoria Pública do Maranhão.

A justificativa foi que as músicas atraírem um grande número de pessoas e, consequentemente, poderiam causar aglomerações. Outra medida, foi uma restrição, também apenas durante o período carnavalesco, na Portaria 055, que permite a realização de eventos de pequeno porte com até 150 pessoas. No entanto, os bares e restaurantes tem permissão para funcionar, seguindo recomendações como distanciamento entre as mesas, disponibilização de álcool em gel e limitar o número de pessoas.

Indignação

Para a classe artística, a decisão causou revolta, eles argumentam que impacto financeiro será grande, na paralisação total de mais uma semana. Segundo cantor Victor Hugo, do Grupo Argumento, essa decisão afeta bastante a classe artística, apesar de a mesma não ser favorável a realização de grandes eventos no atual momento pandêmico. “Essa proibição de uma semana, ela já vem após uma paralisação quase que total nas últimas duas semanas. Essa decisão de agora não conta com a nossa concordância logicamente, mas a gente quer deixar bem claro que a classe musical não é a favor de eventos grandes e nem a favor do Carnaval. O que a gente defendia era só poder continuar tocando nos barzinhos e eventos pequenos. Só em tocar nos barzinhos muita gente já consegue pagar as contas da semana, eu não estou falando somente do Argumento, eu consigo passar meses sem poder tocar, mas a maioria não é assim, passa a semana trabalhando para poder pagar as contas na segunda-feira. Então essa decisão que o juiz chamou de ponderada é a mais extremada possível, porque corta o trabalho. A conta quem vai pagar?”, argumentou.

Victor Hugo relembra ainda que a classe artística foi a primeira a ter as atividades paralisadas com o início da pandemia no ano passado. “Nós paramos no final de fevereiro, fomos os primeiros a parar, retornamos no começo de setembro. Fomos os últimos a voltar. Então está sendo cerca de seis meses sem trabalhar. Desde setembro quando a atividade musical voltou, os números continuaram sob controle. Neste momento que os números estão piorando não é justo atribuir o ônus a apenas uma classe. A gente é ciente e sensível ao que tem acontecido, queremos ceder, não queremos em hipótese folia e grandes eventos, mas eliminar totalmente a música, inclusive mecânica, voz e violão no barzinho, achamos uma medida muito extrema. Aos que dizem que só vai durar uma semana, não necessariamente, se na semana que vem a Defensoria Pública entender que as condições são as mesmas dessa semana, ela vai propor novamente a mesma ação, a própria defensora disse isso e se o juiz for coerente com a decisão que ele deu ontem vai reafirmar e manter a decisão. Então, não é tão simples como a maioria pensa”, preocupa-se.

Impacto

A mesma opinião é compartilhada pelo cantor Franco, da dupla Fernando e Franco, ele fala dos impactos das apresentações canceladas no período. “Nós tínhamos vários shows marcados para este período de Carnaval, sem a banda. Mas agora, foi proibido até voz e violão, e isso prejudica os artistas, pois temos muitas contas para pagar. É complicado, pois, na realidade, o que é mais importante é respeitar os protocolos e esse desrespeito está ocorrendo em várias outras áreas”, disse.

O músico Wesley Sousa também avaliou o cenário, ressaltando que a classe artística está ciente da importância de protocolos de segurança. “A classe musical é ciente que estamos em uma pandemia que estamos em uma situação delicadíssima, mas aí tenho algumas coisas para pontuar. Nós fomos a única classe trabalhadora que restrições numéricas durante tanto tempo. Foi mais ou menos seis meses sem a possibilidade de trabalhar. A volta ao trabalho se deu de forma progressiva, primeiro eram permitidos dois músicos, depois quatro, depois sem limitações, mas isso demandou muita negociação, proposição. A nossa revolta é com a seguinte coisa: o Ministério Público vem há algumas semanas empreendendo uma fiscalização que, na minha opinião, até ultrapassa os limites da lei, ocorreram prisões flagrantemente ilegais, abuso de autoridade, contudo, essa fiscalização é direcionada somente a esse setor quando existem diversos outros setores que demandam essa fiscalização por ter um potencial de aglomerar muita gente, as igrejas, os supermercados, o transporte público, não existe um aumento da frota de ônibus, por exemplo para os horários de picos e diminuir as aglomerações. Não existe limitações nos supermercados, as igrejas continuam funcionando, inclusive com música. Então assim, o que parece é que a música se tornou um bode espiatório para fazer acenos para a população. É um entendimento equivocado por parte da Defensoria de qual é o potencial da música. Existem perfis muitos diferentes de eventos. Tem eventos de mil pessoas e isso está terminantemente proibido pelo decreto, mas tem eventos familiares, tem o bar e restaurante, então há uma diversidade muito grande e quando você coloca tudo no mesmo rol, você comete muitos equívocos e fora o impacto financeiro. As pessoas estão impossibilitadas de trabalhar, a partir desse decreto, mas a fiscalização que o Ministério Público vinha empreendendo gerou uma insegurança, pelo menos duas ou três semanas , a grande maioria dos contratantes deixou de fazer eventos porque eles não sabem se eles podem ser presos ou ter alvará suspenso”, avalia.

O cantor Leo Djow, que teve oito shows cancelados no período, tem duas filhas e a música a única forma de sustentar sua família, também criticou a decisão. "Totalmente equivocada e sem fundamento! Os bares aonde eu estou tocando estão seguindo todos os protocolos exigidos pelos órgãos de saúde estaduais e municipais , e mesmo que tenham tirado a música dos bares por esses dias , os bares continuarão recebendo seus clientes e na mesma proporção, uma atitude sem fundamento e autoritária", disse e acrescentou a preocupação com os músicos neste momento. "Os músicos não tem carteira assinada e muito menos são garantidos de algum tipo de salário , então vivemos do que recebemos nos dias que tocamos. Os dias que tocamos , são os dias que temos nosso retorno financeiro", observa.

Djow, que no ano passado, teve dificuldades em pagar algumas contas, por causa da suspensão das atividades está apreensivo em não conseguir honrar os compromissos. "Ainda tenho contas de água atrasadas e estão prestes a cortar, foram sete meses sem apresentações, não me recuperei disso ainda. Mês passado que consegui colocar em dia as contas de luz com a ajuda de amigos. Não estamos negando que existe um vírus ou coisa parecida. Só não entendo porquê estão usando dele pra prejudicar somente uma classe , que são músicos, produtores , técnicos entre outros que vivem do entretenimento. Só queremos o direito de trabalhar e sustentar nossas famílias com dignidade", lamenta.

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