Capacitação

Curso abordará aspectos de projetos para audiovisual

Produtora Monica Mello ministrará curso "Elaboração de projetos audiovisual"; iniciativa é da Cinemateca Maranhense Lume Guarnicê por meio da Lei Aldir Blanc

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Monica Mello é produtora e ministrará o curso
Monica Mello é produtora e ministrará o curso (monica mello)

São Luís - Com o objetivo de fornecer as ferramentas necessárias de uma das mais importantes etapas do audiovisual, ocorre amanhã, das 14h às 18h, o curso “Elaboração de projetos audiovisual”. A capacitação teve inscrições gratuitas, é uma realização da Cinemateca Maranhense Lume Guarnicê por meio de projeto aprovado pela Lei Aldir Blanc e integra um pacote de seis capacitações.
A oficina será minstrada pela produtora Monica Mello que é advogada por formação, especialista em contratos. Em 2012 migrou para o audiovisual. Foi contratada pela produtora piauiense Framme em 2014. Em 2015, a Framme foi selecionada pela primeira vez em um edital da Ancine, Prodav das Tvs Públicas Nordeste, com projeto "Tá na Hora de Brincar", de autoria e roteiro de Monica. Produziu os longas metragens "Boi de Lágrimas" e "As Órbitas da Água". Dirigiu o braço audiovisual do projeto transmídia "Dolores e os Remédios para Dormir". Atualmente está produzindo para a Lume Filmes a série de tv "Punga" e o longa-metragem "O Miolo da Estória", este último em co-produção com a Gritos Filmes, ambos por meio de editais da Ancine. Na entrevista abaixo a produtora fala sobre o curso e o setor do audiovisual.

Você ministrará o curso “Elaboração de projetos Audiovisual” pela Cinemateca Maranhense Lume Guarnicê. Fale um pouco sobre a proposta desta capacitação.

A proposta do curso de "Elaboração de projetos audiovisuais" é justamente democratizar e desmistificar o conhecimento acerca dessa que é uma etapa determinante (se não a mais importante) para o nascimento de um produto audiovisual. Através da apresentação de um bom projeto podemos obter financiamento para que a obra seja produzida. Nesse mercado tão competitivo é necessário mais que uma boa ideia. Irei assim dividir com os participantes o que aprendi através de cursos, workshops e, especialmente, através da prática, sobre como desenvolver do zero um projeto audiovisual consistente, para que todos que se interessam pela área (vários dos inscritos são profissionais com outras expertises) possam ampliar suas oportunidades neste momento tão difícil que estamos enfrentando. O curso irá detalhar bastante os elementos criativos necessários, que considero a alma do projeto, mas abordará também os elementos financeiros e os elementos estratégicos.

Em sua opinião, quais os principais gargalos neste setor? e o que se pode fazer para minimizá-los?
O setor audiovisual brasileiro, mesmo nos anos de maior crescimento, tinha suas muitas limitações. A maior parte das produtoras e dos profissionais estavam na região Sudeste. Imagina, um filme sendo rodado no Maranhão com equipe toda de fora! Nesse contexto, as políticas regionais da Ancine foram extremamente importantes para o desenvolvimento do setor nas demais regiões do Brasil. Em um mercado mundial tão competitivo, é patente que precisamos de mais capacitação. Precisamos da manutenção das políticas públicas de incentivo. Precisamos rever a tributação que faz o ingresso de cinema no Brasil ser tão caro. No momento, acredito que o mais importante é reerguer e fortalecer o setor.

Qual sua relação com o cinema feito no Maranhão?
Atuo no mercado audiovisual maranhense desde o segundo semestre de 2016, o que me motivou a me mudar para São Luís em janeiro de 2017. Atuei em várias funções desde que comecei na área, inclusive como roteirista e crítica de cinema, mas, na atualidade, exerço principalmente as funções de produção executiva e elaboração de projetos audiovisuais. O que o Maranhão fez no setor audiovisual é fantástico. Um exemplo para outros estados nordestinos. Houve investimento em capacitação técnica, que, de forma simplista, é o que mais falta no Brasil e o retorno está aí: profissionais qualificados no mercado, um boom de empresas produtoras e distribuidoras, muitos filmes sendo produzidos e lançados todos os anos, obras e profissionais sendo premiados país afora. Minha visão de "forasteira" é que o maranhense é naturalmente vocacionado para arte. Faltava esse empurrãozinho.

Neste momento de pandemia, no qual o setor cultural foi tão afetado, como você vê o futuro do cinema brasileiro, em especial o feito fora dos grandes eixos?
A pandemia gerou uma grande comoção no setor, mas não apenas por termos sido obrigados a parar todas as produções em andamento e adiar as que iriam iniciar. Essa paralisação gerou situações nunca dantes vistas, como novelas e programas de televisão das tvs abertas e fechadas sendo subitamente tirados do ar, filmes já finalizados e que em tese já poderiam ser comercializados por todo o mundo, porém, impedidos diante da necessidade de dublagem e legendagem, cancelamento dos lançamentos que seriam feitos nos cinemas, festivais sendo cancelados e o fechamento das salas de exibição. Tudo isso representa muito mais que investimentos financeiros sem retorno, representa postos de trabalho que seriam gerados e não foram, impostos que seriam coletados e não foram, vários trabalhadores e profissionais autônomos sem nenhuma perspectiva de trabalho e, claro, falências e demissões. Não apenas não houve crescimento, houve retração. Só saberemos de fato os efeitos da pandemia no nosso setor a partir de um estudo amplo sobre o impacto da pandemia do mercado audiovisual.

Qual o papel do poder público neste sentido?
O papel do Poder Público em momentos como esse, em que por força maior a economia teve que ser colocada em segundo plano, deveria ser de abertura, diálogo, busca de soluções a curto, médio e longo prazo. Esperávamos isso da Ancine, o que não ocorreu. Os editais estaduais da Lei Aldir Blanc foram muito esperados, porém, vieram meses após a pandemia parar nossas atividades. Nesse interregno, muitos profissionais foram compelidos a migrar para outras áreas, para sobreviverem. Isso é muito triste. A Netflix e o ICAB criaram um fundo emergencial, porém, sendo bem realista, foi uma ajuda muito modesta, apesar de ter sido uma iniciativa louvável.

Você integrou a equipe do filme “As Órbitas da Água” e da série “Punga”, de Frederico Machado. Fale sobre estas experiências.
Com a Lume Filmes produzi os longas "Boi de Lágrimas, "As Órbitas da Água" e a série de TV "Punga". Foram experiências únicas, cada qual com seus desafios, mas que me ajudaram a conhecer melhor o Maranhão e o maranhense. Eu nunca havia feito filmes de forma tão independente como Frederico Machado faz, então, foi um grande aprendizado. Atuei ainda na produção do lançamento comercial de "Lamparina da Aurora", de Frederico Machado, "Os Pobres Diabos" do grande Rosemberg Cariri, e "Viver Lá”, da cineasta chilena Javiera Veliz Fajardo. A parceria com a Lume Filmes começou em meados de 2016, eu tinha acabado de sair da produtora Framme, ocasião em que eu passei a elaborar os projetos audiovisuais da empresa maranhense que, felizmente, se concretizaram. Mas na nossa carteira ainda existem uns tantos bons projetos para os quais ainda estamos buscando financiamento, o que indica que a parceria irá continuar. E o mais interessante, em todos, o Maranhão é mais que locação: é personagem!

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