Resenha

Uma poética de sutilezas

Livro "Delações", de Daniel Blume, se propõe a ser uma coletânea, não um poemário encerrado numa unidade temática

Salgado Maranhão / Especial para o Alternativo*

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Poeta Daniel Blume  em noite de  autógrafo
Poeta Daniel Blume em noite de autógrafo (Daniel Blume)

São Luís - Seguindo sua remota vocação para o exercício da poesia, o Maranhão é hoje um portento de possibilidades literárias em curso. Uma safra de bons poetas se espalha por todo o Estado, beneficiada pelo fácil acesso às obras dos grandes autores, decorrente das bênçãos da comunicação atual.
Da segunda metade do Século XX para cá, numa única geração, quatro dos grandes nomes da moderna poesia nacional surgiram em solo maranhense: Ferreira Gullar, Nauro Machado, Bandeira Tribuzi e José Chagas, que, embora sendo natural da Paraíba, construiu sua obra no Maranhão.
Na esteira desse legado, cresce agora essa leva de novos talentos, entre os quais Daniel Blume, que, em seu livro mais recente - Delações -, pratica uma poética de sutilezas, espelhada em múltiplos temas e abordagens sintáticas, que vão das querelas da vida cotidiana ao amor conflitante; do existencial à atmosfera zen do hai kai: "Sob camadas de silêncio/houve um amor/cuja ausência/lhe faz companhia." Ou ainda, no poema "Poliglota", captando o excesso na deficiência de ser, onde o ato de comunicar-se esbarra na mudez: "Escapa dos verbos/na solidão./ Em todas/as línguas/ é fluente em silêncio."
O livro de Daniel Blume se propõe a ser uma coletânea, não um poemário encerrado numa unidade temática. Assim, o leitor encontrará desde os poemas de viagens - motivados por suas andanças em Portugal (‘nas ruelas do Bairro Alto/das noites vivas de Lisboa.’) - aos inspirados na sua própria São Luís.
Noutro viés, o poeta, ancorado em sua vivência no mundo jurídico, infere sobre os interstícios do poder: "Nas conjecturas políticas/tudo pode escorrer/inclusive nada".
Enfim, o que nos arrasta ao vício da poesia, é seu carisma intrínseco de dar ordem ao caos, de nos converter à sinergia dos contrários; porque, “Mesmo na água/tudo é fogo".
*Salgado Maranhão é poeta

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