Entrevista

"Amo meu trabalho, adoro criar, produzir, estar na cena"

Áurea Maranhão fala sobre a carreira, formação, pandemia e planos para o futuro

Carla Melo / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
A atriz Áurea Maranhão ministrará oficina no Festival Guarnicê de Cinema
A atriz Áurea Maranhão ministrará oficina no Festival Guarnicê de Cinema (Áurea Maranhão )

São Luís - Áurea Maranhão é atriz, diretora e performer formada na Escola de Arte Dramática (EAD/ECA/USP). Estreou na Globo na novela A Dona do Pedaço e se prepara para a estreia da série Cidade Invisível, no Netflix. Amazonense criada no Maranhão desde os dois anos de idade, dirigiu o curta-metragem “Carnavalha”, ganhador dos prêmios de melhor filme júri popular, melhor atriz para Áurea Maranhão nos festivais Maranhão na Tela e Guarnicê, entre outros prêmios e festivais. No teatro está ensaiando seu primeiro solo “Mergulho” com direção de Tathy Yazigi, estreia em fevereiro de 2021. Áurea Maranhão também ministra uma oficina nesta edição do Festival Guarnicê de Cinema, que começa quarta-feira (14). Nesta entrevista, a artista fala sobre a carreira e projetos futuros.

Você está na série Cidade Invisível que tem estreia prevista para outubro de 2020 na Netflix. Fale sobre este trabalho e sobre sua participação.

A experiência na série Cidade Invisível foi maravilhosa. Ouso dizer que a Márcia, personagem que eu faço na série, é meu maior papel dentro de uma trama que já fiz, até hoje. É uma personagem linda, cheia de questões. E que é peça fundamental na trama, que é conduzida pelo personagem do Eric, protagonizado por Marco Pigossi, que é um grande amigo e parceiro de cena. Essa série me trouxe grandes amigos e parceiros que vou carregar pra vida.

Você também ministrará uma oficina no Festival Guarnicê de Cinema, que começa esta semana. Para você, qual a importância do festival, um dos mais antigos do país?

Eu acredito que os festivais de cinema têm papel fundamental na formação de muitos profissionais da cadeia produtiva do audiovisual. O Guarnicê é um dos festivais mais antigos do Brasil e fazer parte dessa equipe hoje, me enche de orgulho. Eu sou cria do festival, frequentei durante muitos anos, fiz muitas oficinas, participei de muitas master classes... E hoje, ministrar uma oficina é uma realização, de certo modo uma possibilidade de agradecer por tantos bons encontro que tive durante o festival. Fico na torcida para que os atores gostem e aproveitem os estudos e materiais que vou compartilhar.

Você é atriz, diretora e performer. Em qual destas funções se sente mais à vontade e por quê? E qual mais te desafia?

Eu sou suspeita pra falar... Eu amo meu trabalho, adoro criar, produzir, estar na cena, seja performance ou dirigindo me dá muito prazer e alegria. Mas se eu pudesse escolher, sem dúvida eu estaria cada vez mais na cena sempre como atriz, principalmente nos longas, nas séries, nas novelas... Essa é a minha grande paixão, atuar! E acho que é a que mais me desafia, por que é a que eu tenho menos controle.

Você já ganhou alguns prêmios ao longo de sua carreira. No que eles influenciam seu trabalho?

Acho que os prêmios são consequência do trabalho. Eu confesso que fiquei muito surpresa quando ganhamos os prêmios com ‘Carnavalha’, é um filme absolutamente experimental tanto no que tange o roteiro, quanto a própria cena. Nós nos colocamos em cena como pesquisadores (eu, o Ramusyo Brasil que assinou roteiro e direção comigo; o Taciano Brito que fez a fotografia e assistência de direção e o Beto Pio que montou e finalizou o filme). E tinha muita verdade no que estávamos pesquisando, acho que por isso o filme se destacou. Eu acredito que pra quem vem de um cinema de guerrilha, experimental os prêmios são o alimento, o incentivo para que a gente não desista e pra que a gente continue acreditando, trabalhando, experimentando e estudando... E, sem dúvida, profissionalizando cada vez mais as nossas produções e o nosso fazer! Uma outra grande surpresa foi a homenagem no Festival Maranhão na Tela. Eu trabalho profissionalmente como atriz a quase 17 anos e receber esse reconhecimento da minha cidade, dos meus parceiros de trabalho não tem preço... Foi o maior presente que já recebi na minha vida. Ver um cinema inteiro me aplaudindo, pessoas gritando meu nome, arrepio até hoje só de lembrar...

Na novela A Dona do Pedaço você contracenou com nomes como Fernanda Montenegro, Juliana Paes e outros. Fale sobre esta experiência na sua carreira.

Foi emocionante! Primeiro porque estava na presença de Fernanda Montenegro que sempre admirei e acompanhei. Tive a honra de gravar com Luiz Carlos Vasconcelos, ator que acompanho a anos no cinema. Álamo Facó, grande ator e amigo que vou levar para a vida. Com direção da brilhante e inspiradora Amora Mautner, aprendi muito com ela. E do Luciano Sabino que foi muito cuidadoso na direção dos atores. E toda a equipe da novela, que vou guardar no coração. Não posso deixar de falar dos gigantes Marcos Palmeira, Juliana Paes, Fernando Eiras, Nivea Maria, Cesar Ferrario... Tive muita sorte de estrear numa novela cercada de grandes e admiráveis atores. E sobre a cena que mato a Dona Fernanda Montenegro só posso dizer que foi uma aula e um presente. A cena é simbólica. Quase toda a família Matheus morre nessa noite. Me senti num filme do Tarantino. Quando os efeitos explodiam sangue pra todo lado, era impactante. Ou mesmo numa cena de bang bang, com armas surgindo de coldres secretos. O som, a arma sendo apontada na minha direção, apontando uma arma para a Dona Dulce (Dona Fernanda). Tudo fazia com que a cena fosse real. Mesmo tendo que ensaiar a queda tecnicamente, por conta do enquadramento e do foco. Mesmo tendo que repetir muitas vezes, a cada tiro dentro do set eu arrepiava. E ter a maior atriz do país numa mesma cena que eu, foi uma honra. Um filme passou na minha cabeça, de todas as dificuldades que passei, de toda minha trajetória como atriz, minha formação, minha partida da minha cidade para estudar em São Paulo, tudo para eu chegar a esse momento e contracenar com a maior atriz do cinema, do teatro e da televisão brasileira. Não tenho palavras para descrever. De novo estou arrepiada e agora com os olhos cheios de lágrimas ao recordar e escrever sobre essa experiência linda. Quando estreamos a Dona Fernanda me mandou uma mensagem via whattsapp. Sempre que a coisa aperta e dá aquele nó na garganta ou uma descrença sobre o que estamos vivendo culturalmente e politicamente no país... Eu escuto esse áudio da dona Fernanda Montenegro pra me dar forças e acreditar que vamos conseguir mudar o rumo desse barco e que a cultura ainda será valorizada nesse país.

O que podes adiantar sobre seu primeiro trabalho solo no teatro, “Mergulho”?

‘Mergulho’ é meu primeiro trabalho solo no teatro, se é que posso chamar de peça, acho que ele tá entre a dança, a performance, a cena e experimentos musicais. É libertador e apavorante partir de desejos e estudos pessoais pra construir um espetáculo que não tem uma dramaturgia clássica. Estou louca pra que a vacina venha logo para que eu possa voltar a mergulhar.... Literalmente, cheguei a fechar umas aulas de mergulho, mas a quarentena chegou antes da primeira aula, infelizmente! ‘Mergulho’ é um estudo sobre o tempo, sobre mim, sobre um olhar científico sobre o corpo, sobre os medos, sobre voltar às origens, sobre herança, sobre mergulhar, acalmar e silenciar... Ai que vontade de mergulhar!

Você não nasceu no Maranhão mas tem uma história com o estado… Como você vê o cenário das artes aqui e qual sua ligação com o estado?

Eu amo São Luís do Maranhão. Foi a terra que me criou, que me alimentou, literalmente, de amor, de cultura, de amigos. Eu nasci em Manaus, Amazonas. Sou apaixonada pela minha terra natal, minha família está lá. Minha conexão com a cultura e a comida são muito fortes, herdei da minha mãe Eliane Maria que é de Cruzeiro do Sul, no Acre, mas que viveu muitos anos em Manaus com a família. Como vivi e vivo aqui em São Luís desde os dois anos de idade minha relação afetiva com as pessoas, a família, o clima, com a arquitetura, com a política, com a cultura, com os artistas e profissionais da cidade que hoje são meus parceiros, me fazem voltar sempre pra casa pra me alimentar, pra me nutrir, pra estudar, pra lembrar quem sou, onde estou e onde quero chegar! Sem dúvida estamos vivendo e construindo uma cadeia produtiva, formando muitos profissionais todos os dias, pela Escola de Cinema, pelo Lume Filmes, pelos festivais e muitas produções alternativas e de guerrilha também contribuem para a formação desses novos profissionais... Tem muita gente produzindo e experimentando na cidade nesse momento. Tem também muitos cursos online sendo disponibilizados nessa quarentena. E a galera tá estudando, se instrumentalizando. O que é maravilhoso. Eu mesma já fiz dois cursos de roteiro. Já dei cursos. Acho que estamos crescendo e construindo uma geração de pensadores de cinema. Muitos roteiros estão vindo ai, a segunda edição do edital de cinema vai possibilitar toda uma cadeia produtiva viver de cinema. Eu só desejo que o Estado e o Governo Brasileiro façam seu papel e continue possibilitando que a gente faça o nosso criando e construindo muitas histórias lindas pra colocar o cinema Maranhense no mercado Brasileiro e mundial. E eternizar esse momento histórico e triste que estamos vivendo, para que as próximas gerações não cometam os mesmos erros que cometemos. O cinema é uma das artes que consegue se eternizar, daqui a 100, 300, 500 anos as pessoas terão acesso ao que foi produzido nesse momento, isso é incrível. Estamos dialogando diretamente com o futuro e isso é precioso.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.