Pandemia

Quatro meses de restrições, medo e de vivência com a Covid-19 no MA

Em meio à flexibilização, está ocorrendo a reaceleração da transmissão da Covid-19 em São Luís, dentro do contexto do "efeito platô"; aulas devem ser retomadas de maneira gradual

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Nível de testagem está em 2,1, quando o ideal seria mais de 10 exames por caso
Nível de testagem está em 2,1, quando o ideal seria mais de 10 exames por caso (coronavírus)

São Luís - A situação do novo coronavírus no Maranhão é de estabilização, segundo anunciado constantemente pelo Governo do Estado em suas transmissões nas redes sociais. Isso está acontecendo apesar da flexibilização do distanciamento social, com a reabertura do comércio e liberação de outras atividades, conforme o contexto de confirmação de novos casos ou de decréscimo da curva de contaminação. Mas o “efeito platô”, que ocorre quando o número de casos ativos da doença permanece o mesmo ao longo do tempo em um determinado local, parece demonstrar que a curva precisa decair.

Desde o início da pandemia da Covid-19 no Maranhão, a realidade de restrições completou quatro meses no estado. De lá para cá, outras medidas foram tomadas para flexibilizar as atividades. Isso começou pelo Decreto nº 35.831, que promoveu a reabertura do comércio, mas de forma parcial. Conforme o documento, só poderiam funcionar nesse período, além dos serviços essenciais, os estabelecimentos comerciais de pequeno porte, no qual somente trabalhavam, antes da disseminação do novo coronavírus, e continuariam a trabalhar, exclusivamente o proprietário e seu grupo familiar.

Pelo decreto, esses grupos familiares incluíam cônjuges, companheiros, pais, irmãos, filhos ou enteados. No último dia 27 de junho, bares e restaurantes reabriram as portas após três meses fechados por causa da pandemia da Covid-19 no Maranhão. Antes disso, houve a flexibilização para shoppings center e academias de ginástica. Todos esses estabelecimentos, no entanto, devem adotar medidas sanitárias, como o distanciamento físico entre os clientes e disponibilidade de álcool em gel/água e sabão em vários compartimentos.

“Efeito Platô” e reaceleração
Em meio à flexibilização, estudos estão sendo conduzidos acerca do assunto. Um que se destaca é feito pelo Grupo de Modelagem Covid-19 da Universidade Federal do Maranhão está apurando a reaceleração da transmissão em São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. A pesquisa tem como um de seus autores o professor doutor e médico epidemiologista Antônio Augusto de Moura da Silva, do Departamento de Saúde Pública da UFMA. Segundo ele, junho foi relativamente tranquilo com relação à doença, mas, no final daquele mês e início de julho, o aumento no contágio do novo coronavírus foi registrado.

Conforme o pesquisador em sua última live no Instagram, o risco de transmissão continua elevado e os casos ativos interromperam a tendência de queda. Além disso, o nível de testagem está em 2,1. O ideal seria mais de 10 exames por caso. O professor Antônio Augusto de Moura observou que o índice R, que é calculado por dia, continua acima de 1 na Grande Ilha. No dia 18 de junho, essa taxa estava em 0,6%, mas, a partir daquela data, a situação foi modificada. Nas palavras do médico infectologista, a epidemia está ganhando tração, o que seria um reflexo da redução do distanciamento social e o desleixo da população com relação ao uso da máscara.

Na live, o pesquisador explicou que o índice R é chamado de R0 para se referir ao começo, quando não há medidas de contenção. E de Rt, para os dias subsequentes, quando ocorre a velocidade de tração, assim que o cenário é marcado por mais de 100 casos de infecção. De acordo com o professor, quando o Rt é abaixo de 1, significa que cada cidadão já não consegue contaminar nem uma pessoa sequer. Para o autor do estudo, essa reaceleração aconteceu mais ou menos entre quatro a cinco semanas após o início da reabertura dos comércios, quando houve a flexibilização do distanciamento social.

Uma das consequências e causas dessa situação de flexibilização seria o “efeito platô”, que é uma fase específica da curva epidemiológica da Covid-19. Esse fenômeno geográfico resulta na formação de uma linha praticamente horizontal com relação ao número de casos do novo coronavírus. De acordo com pesquisadores, quando isso acontece, o contágio se estabiliza, ou seja, não sobe de maneira exponencial. Esse contexto deveria ser uma forma de as autoridades atuarem no sentido de reduzir ainda mais a quantidade de contaminações.

Porém, na prática, o que está acontecendo é uma espécie de “acomodação”, pois as ações deveriam ser realizadas ou planejadas para que os índices de contaminações caíssem. O “efeito platô” seria uma necessidade de impedir a reaceleração da transmissão.

Suspensão das aulas
Desde o dia 17 de março deste ano, as aulas presenciais nas escolas e universidades, tanto públicas como particulares, estão suspensas no Maranhão. Um decreto foi publicado pelo Governo do Estado. Inicialmente, seriam apenas 15 dias, mas o prazo foi estendido. Enquanto isso, pesquisas indicam que está ocorrendo a reaceleração da transmissão na Grande Ilha – São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa.

A suspensão das aulas presenciais começou no dia 17 de março, como parte da integração de um conjunto de esforços que foram realizados para conter a disseminação do novo coronavírus. No dia anterior, algumas escolas já haviam cancelado as atividades esportivas e dos turnos regular e integral, a fim de garantir a segurança e o bem-estar de alunos e educadores. Além disso, as famílias foram orientadas a não levarem aos estabelecimentos de ensino os filhos que estavam gripados ou com sintomas típicos do coronavírus.

Nesse intervalo, de março em diante, o Governo do Estado prorrogou a suspensão das aulas presenciais, após análise da realidade de contágio da doença no Maranhão. Os pais dos alunos também estavam com receio de levar seus filhos às escolas, temendo que as crianças contraíssem o novo coronavírus. Muitas unidades de ensino anteciparam as férias escolares de julho para abril, como estratégia de combate à propagação da Covid-19. Algumas deram 15 dias, enquanto outras estabeleceram um período de 30 dias.

Durante esse período, as instituições de ensino estão oferecendo aulas virtuais, o que resultou em uma readaptação de plataformas para o processo de aprendizagem. O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Maranhão (Sinepe/MA), inclusive, aguardou deliberação dos Conselhos Municipal e Estadual de Educação acerca da sistemática recomendada para retomada das aulas presenciais.

SAIBA MAIS

Retomada das aulas

O Governo do Estado publicou o Decreto nº 35.897, que prorrogou a suspensão das aulas presenciais nas instituições de ensino, para a retomada das atividades educacionais no Maranhão. O documento levou em consideração a Portaria nº 188, do dia 3 de fevereiro, do Ministério da Saúde, que declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, em decorrência da infecção pelo novo coronavírus. E, ainda, a declaração do estado de pandemia da Covid-19, feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para identificação dessas etiologias.

Pelo decreto, a suspensão das aulas presenciais fica prorrogada até o dia 2 de agosto, nas unidades de ensino da Rede Estadual de Educação e nas instituições de Ensino Superior, tanto privadas como públicas. De forma excepcional, podem ser realizadas, em julho, aulas práticas do último período dos cursos de universidades, especialmente as da área da saúde, a fim de garantir aos estudantes a conclusão da graduação e possível inserção no mercado de trabalho. E, também, aulas nos cursos de pré-vestibular e de idiomas, desde que cumpridas as medidas de distanciamento social.

A partir do dia 3 de agosto, fica autorizada a retomada das aulas presenciais. No que se refere à rede privada, o termo inicial do retorno e o estabelecimento dos protocolos pedagógicos serão definidos em instrumento a ser firmado pela respectiva instituição de ensino, mas de forma conjunta com pais/responsáveis, ou, quando maiores de idade, pelos próprios estudantes.

Escolas municipais

A Câmara Municipal de São Luís realizou, na quarta-feira (15), sessão extraordinária remota com o secretário municipal de Educação, Moacir Feitosa, para debater o retorno das aulas presenciais na rede municipal de ensino. O gestor anunciou que as aulas presenciais deverão ser retomadas de maneira gradual somente em setembro. Os alunos do 9º e 8º anos serão os primeiros a retornar.

A proposta apresentada por Moacir Feitosa aos vereadores prevê o retorno gradual dos mais de 85 mil estudantes mediante a adoção de medidas sanitárias rígidas, tais como distribuição de kits individuais com máscara, disponibilização de álcool em gel em todas as unidades, controle de temperatura e demarcação de lugares visando o distanciamento.

“Fizemos uma parceria com infectologistas da UFMA para elaborar os protocolos sanitários para ser implantados na rede de ensino municipal, que atinge direto as 98 escolas da educação infantil, 201 escolas de ensino fundamental e 56 anexos”, afirmou o secretário.

A Secretaria Municipal de Educação (Semed) está também com uma equipe pedagógica organizando o redomínio, que nada mais é que reorganizar o cronograma de aulas dentro a realidade de perdas em conteúdo devido a pandemia do novo coronavírus.

De acordo com Gleise Sales, representante do Sindicato dos Profissionais do Magistério de São Luís, a entidade defende que as aulas não tenham início em setembro, mas que a Prefeitura invista na formação continuada dos professores e que as aulas sejam feitas de forma remota para preservar a saúde dos docentes, alunos e os servidores das escolas.

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