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Número de crianças vivendo na pobreza pode aumentar em até 86 milhões até o final do ano

Nova análise de Save the Children e UNICEF revela que, sem ação urgente, o número de crianças que vivem em famílias pobres em países de baixa e média renda poderia aumentar em 15%, atingindo 672 milhões

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Infância sofre prejuízos na pandemia
Infância sofre prejuízos na pandemia (brinquedo de criança)

Nova Iorque – As consequências econômicas da pandemia de Covid-19 podem levar até 86 milhões a mais de crianças à pobreza domiciliar até o final de 2020, um aumento de 15%, de acordo com uma nova análise divulgada pela Save the Children e pelo UNICEF (disponível somente em inglês).

A análise baseia-se em projeções econômicas do FMI e do Banco Mundial, evidências históricas sobre mudanças na distribuição de renda passada da UNU WIDER e dados demográficos de MICS e DHS. Os dados por país cobrem mais de 100 países de baixa e média renda.

análise destaca que, sem ações urgentes para proteger as famílias das dificuldades financeiras causadas pela pandemia, o número total de crianças vivendo abaixo da linha de pobreza nacional nos países de baixa e média renda poderia chegar a 672 milhões no final do ano. Quase dois terços dessas crianças vivem na África ao sul do Saara e na Ásia Meridional.

Países da Europa e Ásia Central poderiam ver o aumento mais significativo, até 44% em toda a região. A América Latina e o Caribe poderiam ver um aumento de 22%.

"A pandemia de coronavírus desencadeou uma crise socioeconômica sem precedentes que está esgotando recursos de famílias em todo o mundo", disse Henrietta Fore, diretora executiva do UNICEF. "A escala e a profundidade das dificuldades financeiras das famílias ameaçam reverter anos de progresso na redução da pobreza infantil e deixar as crianças privadas de serviços essenciais. Sem uma ação combinada, as famílias que mal conseguiam sobreviver poderiam ser empurradas para a pobreza, e as famílias mais pobres poderiam enfrentar níveis de privação que não têm sido vistos há décadas".

A Save the Children e o UNICEF alertam que o impacto da crise econômica global causada pela pandemia e pelas políticas de contenção relacionadas a ela é duplo. A perda imediata de renda significa que as famílias têm mais dificuldade de adquirir o básico, incluindo comida e água, estão menos propensas a acessar cuidados de saúde ou educação e correm mais riscos de casamento infantil, violência, exploração e abuso. Quando ocorre contração fiscal, o alcance e a qualidade dos serviços dos quais as famílias dependem também podem diminuir.

Para as famílias mais pobres, a falta de acesso a serviços de assistência social ou medidas compensatórias limita ainda mais sua capacidade de obedecer as medidas de contenção e o distanciamento físico e, portanto, aumenta ainda mais sua exposição a infecções.

"Os chocantes impactos da pobreza na pandemia de Covid-19 afetarão duramente as crianças. As crianças são altamente vulneráveis a períodos curtos de fome e desnutrição, que as afetam potencialmente por toda a vida. Se agirmos agora e de maneira decisiva, podemos prevenir e conter a ameaça de pandemia que os países mais pobres e algumas das crianças mais vulneráveis enfrentam. Este relatório deve ser um alerta para o mundo. A pobreza não é inevitável para as crianças", disse Inger Ashing, CEO da Save the Children International.

Antes da pandemia, dois terços das crianças do mundo não tinham acesso a nenhuma forma de proteção social, tornando impossível às famílias suportar crises financeiras e perpetuando o ciclo vicioso da pobreza entre gerações. Apenas 16% das crianças na África têm proteção social.

Centenas de milhões de crianças vivem em pobreza multidimensional – o que significa que elas não têm acesso a cuidados de saúde, educação, nutrição apropriada ou moradia adequada –, geralmente um reflexo de investimentos desiguais por parte dos governos em serviços sociais.

Para as crianças que vivem em países já afetados por conflitos e violência, o impacto desta crise aumentará ainda mais o risco de instabilidade e de famílias em situação de pobreza. A região do Oriente Médio e Norte da África, lar do maior número de crianças vulneráveis devido a conflitos, tem a maior taxa de desemprego entre os jovens, enquanto quase metade de todas as crianças da região vive em pobreza multidimensional.

Para abordar e mitigar o impacto da Covid-19 nas crianças de famílias pobres, a Save the Children e o UNICEF pedem a expansão rápida e em larga escala dos sistemas e programas de proteção social, incluindo transferências de renda, alimentação escolar e benefícios para a criança – todos os investimentos críticos que tratam das necessidades financeiras imediatas e estabelecem as bases para que os países se prepararem para futuros choques.

Os governos também devem investir em outras formas de proteção social, políticas fiscais, emprego e intervenções no mercado de trabalho para apoiar as famílias. Isso inclui a expansão do acesso universal a serviços de saúde de qualidade e outros serviços; e investir em políticas voltadas para a família, como licença remunerada e assistência à infância.

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