Prevenção

Cuidados na hora de fazer as máscaras caseiras

Pesquisador Antônio José Silva Oliveira,do Departamento de Física da Universidade Federal do Maranhão, diz que muita gente está usando materiais que deixam o vírus passar; como opções de tecidos ele sugere poliéster, poliamida e Epulari UV +50

Evandro Júnior/ Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

SÃO LUÍS- Nem todas as máscaras caseiras são eficientes para proteger a população da transmissão da Covid-19. Como a confecção delas tem se tornando um fenômeno mundial, muita gente está utilizando tecidos não adequados. Segundo Antônio José Silva Oliveira, professor titular do Departamento de Física da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sem informação, as pessoas estão fabricando máscaras de sacos de café, sutiã, velcro, camisetas e até de TNT, materiais não eficazes nesse caso.

O professor, que é especialista em Engenharia e Ciências de Materiais pela UFSCar, mestre em Física da Matéria Condensada pela Universidade Federal do Ceará e doutor em Ciência na área de Física Atômica e molecular pela Universidade Estadual de Campinas, dá dois exemplos de tecidos mais indicados, como poliéster e poliamida, que têm porosidade na ordem de 100 a 220 nanômetros (unidade de medida de comprimento de onda).

“O ideal são tecidos que impeçam a passagem da radiação UV. E, nesse caso, podem-se fazer máscaras desses tipos de tecidos, usados em camisetas, calças, shorts e outras peças de roupas. As costureiras não devem parar de fabricar as máscaras, mas precisam estar orientadas a fazê-las com o material apropriado, que não deixe o novo coronavírus passar e nem ser expelido por meio do espirro, não formando gotículas em suspensão”, sugere o pesquisador, que também dá outro exemplo: o tecido conhecido como Epulari UV +50, que seria ideal para essa necessidade.

Prevenção
O aumento nos casos de coronavírus no Brasil tem feito com que a população até estoque máscaras e álcool em gel em casa, o que, consequentemente, tem deixado farmácias e hospitais sem o estoque dos produtos em muitas cidades. Diante do cenário, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, orientou que as pessoas confeccionem as suas, para evitar que a corrida pelo produto hospitalar falte para quem mais precisa.

O coronavírus até pode ficar no ar em forma de aerosol (gotículas flutuantes), mas contrair a doença apenas respirando essas partículas é algo raro, pelo menos ao que tudo indica até agora. O que parece trazer a doença mesmo é o contato direito com as gotículas. Por isso, as medidas mais eficazes para conter o vírus são a higienização constante das mãos, evitar tocar o rosto e manter o distanciamento social.
Antônio Oliveira lembra que uma arma eficiente é a própria luz solar. Ele explica que a radiação só transfere energia para o coronavírus se o seu comprimento de onda for da ordem ou menor do que o diâmetro médio do mesmo, ou seja, em torno de 230 nanômetros. “É justamente aquele intervalo de tempo entre 10h e 16h o ideal para matar o vírus”, afirma.

Isolamento

Na opinião do professor, o analfabetismo científico é um problema sério no combate à pandemia. “Na pandemia de 1918, os Estados Unidos foram castigados porque não tinham informações. Desta vez, o país lança mão do isolamento de guerra”, frisa Antônio Oliveira, referindo-se ao fato de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou a agir de forma extrema para conter o avanço da doença pelo país.
Donald Trump impediu empresas norte-americanas de vender equipamentos de segurança para outros mercados, como o Brasil. Trump usou a Lei de Produção de Defesa, criada na década de 50, para forçar a empresa 3M a aumentar o ritmo de produção das máscaras usadas por profissionais de saúde no atendimento a vítimas do coronavírus, o que inclui a importação de máscaras fabricadas nas unidades da empresa na China.

“Ou seja, a maneira mais correta de vencer essa guerra é com informação científica. Por isso, é preciso que a população ouça os médicos, os físicos, os químicos. Além disso, o isolamento social é extremamente necessário. Não se pode esquecer que ganhamos a II Guerra Mundial pela estratégia do isolamento. O Maranhão não foi atingido porque era um estado isolado. Nova York hoje sofre porque é um entreposto, daí o aumento dos casos de coronavírus naquela cidade”, exemplifica.

No Brasil, as máscaras seguem a regulamentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Além das tradicionais máscaras cirúrgicas encontradas em farmácias, as máscaras com filtro (também utilizadas pelos profissionais de saúde para a proteção contra gotículas e aerossol) são os tipos N95, N99, R95 ou PFF2.

Recomendação

No dia 21 de março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota orientando os profissionais da saúde a utilizarem máscaras N95 ou equivalentes por um período maior que o indicado pelos fabricantes, desde que o objeto esteja em bom estado, limpo e seco.

A Agência não orienta o uso de máscaras vencidas, mas indica o uso além do prazo de validade designado pelo fabricante. Isso porque muitos desses produtos têm indicação de descarte a cada uso. A indicação é necessária, já que muitos profissionais relatam baixos estoques para atender os pacientes graves em UTIs.

Desde o início da pandemia provocada pelo coronavírus, uma corrida mundial em busca de máscaras de proteção fez com que elas sumissem das prateleiras. O Ministério da Saúde está realizando compras de fornecedores nacionais e internacionais, em grandes quantidades, para garantir a proteção dos profissionais de saúde, que trabalham na assistência às pessoas doentes.

A confecção de máscaras caseiras tem se tornando um fenômeno mundial e qualquer cidadão pode fazer a sua em casa. Agora, o Ministério da Saúde do Brasil vai lançar uma campanha digital pela mobilização da população para fabricar as próprias máscaras de pano.

Além de eficiente, é um equipamento simples, que não exige grande complexidade na sua produção e pode ser um grande aliado no combate à propagação do coronavírus no Brasil, protegendo você e outras pessoas ao seu redor.

Para ser eficiente como uma barreira física, a máscara caseira precisa seguir algumas especificações, que são simples. É preciso que a máscara tenha pelo menos duas camadas de pano, ou seja dupla face. E mais uma informação importante: ela é individual. Não pode ser dividida com ninguém. As máscaras caseiras podem ser feitas em tecido de algodão, tricoline, TNT ou outros tecidos, desde que desenhadas e higienizadas corretamente. O importante é que a máscara seja feita nas medidas corretas cobrindo totalmente a boca e nariz e que estejam bem ajustadas ao rosto, sem deixar espaços nas laterais.

“Você pode fazer uma máscara ‘barreira’ usando um tecido grosso, com duas faces. Não precisa de especificações técnicas. Ela faz uma barreira tão boa quanto as outras máscaras. A diferença é que ela tem que ser lavada pelo próprio indivíduo para que se possa manter o autocuidado. Se ficar úmida, tem que ser trocada. Pode lavar com sabão ou água sanitária, deixando de molho por cerca de 20 minutos. E nunca compartilhar, porque o uso é individual”, explica o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Máscaras de pano para uso comunitário funcionam muito bem e não são caras de fazer. Porque, agora, é lutar com as armas que a gente tem. Não adianta a gente lamentar que a China não está produzindo. Vamos ter que criar as nossas armas, e elas serão aquelas que nós tivermos”, completou Mandetta.

Máscaras caseiras precisam ter tecido adequado e seguir a recomendações
Máscaras caseiras precisam ter tecido adequado e seguir a recomendações

Sobre máscaras de proteção à Covid-19

  • Os tecidos mais indicados para a fabricação de máscaras caseiras são poliéster, poliamida e Epulari UV +50
  • O ideal são tecidos que impeçam a passagem da radiação UV
  • A gramatura do tecido deve ser maior que 50. O ideal seria 80.
  • A utilização da máscara, mesmo não sendo 100% segura, é aconselhável para que a carga viral expelida ou aspirada na atmosfera seja mínima, criando, e fazendo com que o corpo, dessa maneira, crie anticorpos.
  • Os médicos usam máscaras do tipo N-95
  • Para aqueles que querem se proteger, a máscara deve ser trocada três vezes ao dia, já que a umidade da respiração faz com que a proteção seja diminuída
  • Quem usa a máscara pode se proteger de uma possível infecção através de gotículas e secreções que saem da boca quando outra pessoa espirra ou tosse
Como usar?

  • Em primeiro lugar, é preciso dizer que a máscara é individual. Não pode ser dividida com ninguém, nem com mãe, filho, irmão, marido, esposa etc. Então se a sua família é grande, saiba que cada um tem que ter a sua máscara, ou máscaras;
  • A máscara deve ser usada por cerca de duas horas. Depois desse tempo, é preciso trocar. Então, o ideal é que cada pessoa tenha pelo menos duas máscaras de pano;
  • Mas atenção: a máscara serve de barreira física ao vírus. Por isso, é preciso que ela tenha pelo menos duas camadas de pano, ou seja, dupla face;
  • Também é importante ter elásticos ou tiras para amarrar acima das orelhas e abaixo da nuca. Desse jeito, o pano estará sempre protegendo a boca e o nariz e não restarão espaços no rosto;
  • Use a máscara sempre que precisar sair de casa. Saia sempre com pelo menos uma reserva e leve uma sacola para guardar a máscara suja, quando precisar trocar;
  • Chegando em casa, lave as máscaras usadas com água sanitária. Deixe de molho por cerca de dez minutos;
  • Para cumprir essa missão de proteção contra o coronavírus, serve qualquer pedaço de tecido, vale desmanchar aquela camisa velha, calça antiga, cueca, cortina, o que for.

Fonte: Ministério da Saúde

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