Golpes

Preso suspeito de clonar WhatsApp e roubar 500 mil no MA

O suspeito foi preso no Estado de Tocantins, após ter transferido R$ 98 mil para outra conta. Os demais membros da quadrilha estão sendo procurados

Nelson Melo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

PRESIDENTE SARNEY - O então foragido da Justiça Jefferson Pereira Sousa, de 18 anos, que foi preso no Estado do Tocantins, conseguiu, após ter clonado o WhatsApp de autoridades da cidade de Presidente Sarney/MA, a transferência de mais de meio milhão de reais das contas do município para as de membros da associação criminosa. Segundo a Superintendência de Polícia Civil do Interior (SPCI), o grupo é especializado nesse tipo de golpe, que tem como vítimas gestores de prefeituras.

De acordo com a 5ª Delegacia Regional de Pinheiro, vinculada à SPCI, o grupo fez a clonagem de uma das autoridades políticas e de gestores financeiros do município de Presidente Sarney no último dia 10, por meio de instruções usando o WhatsApp falso. Ao se passarem pelas vítimas, os criminosos induziram a realização de duas transferências. Uma delas no valor de R$ 300 mil para uma conta da associação no Banco Bradesco, na cidade de Araguatins/TO, em nome de Jefferson Pereira. A outra transferência foi no valor de R$ 350 mil, para uma conta do Banco do Brasil, segundo a Polícia Civil.

Após constatar o golpe, o procurador da Prefeitura de Presidente Sarney, Penaldon Jorge Moreira, comunicou o fato à Delegacia Regional de Pinheiro, assim como aos bancos do Brasil e Bradesco. As instituições financeiras, então, acionaram os sistemas de segurança, bloqueando os valores nas contas dos bandidos, para que estes não utilizassem mais o dinheiro. Depois de levantamentos da polícia, um dos envolvidos foi identificado e preso em Araguatins, no Tocantins.

De acordo com a Regional de Pinheiro, Jefferson já havia movimentado uma parte dos R$ 3000 mil desviados, pois transferiu R$ 98 mil para outra conta. Devido ao bloqueio de segurança do Bradesco, o suspeito não conseguiu finalizar a operação bancária. “O preso é suspeito de integrar uma associação criminosa especializada em aplicar golpes desta natureza, com ramificações em vários Estados, agindo com clonagem de whatsApp de autoridades, gestores e funcionários de municípios, com o fim induzir transferência de valores para as contas de membros da associação. A Polícia Civil do Maranhão segue com as investigações com o fim de localizar e prender os demais envolvidos”, informou a Delegacia Regional.

Quadrilha presa

Quadrilhas especializadas nesse tipo de crime estão crescendo no Brasil. Em 16 de abril deste ano, em uma operação realizada pela Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), foram cumpridos mandados de prisão preventiva contra sete membros de um bando focado em golpes de clonagem do WhatsApp. Um dos investigados é Leonel Silva Pires Júnior, de 30 anos, o “Léo” ou “Leone”, líder do grupo que já tem mais de 10 processos judiciais em seu desfavor.

Na época, o delegado Odilardo Muniz, então titular do Departamento de Combate a Crimes Tecnológicos (DCCT), disse que o inquérito se referia a golpes de clonagem do WhatsApp do deputado federal Gastão Vieira e da ex-governadora do Paraná, Cida Borghetti. Desse modo, foram representados pelas prisões de Leonel e de mais seis, que são Marksuel Pereira de Sousa, Anderson Sombra Azevedo, Hallen David Cosmo do Nascimento, Adriano Cézar Pereira, Hilton Cézar Moraes Costa e Rudson Januário Serra.

Desses, Leonel Silva, Marksuel e Anderson Sombra já estavam encarcerados no Complexo Penitenciário de Pedrinhas pelo mesmo esquema, mas com outras vítimas. Os demais foram capturados em diligências ocorridas nos bairros Cidade Operária, Cidade Olímpica, Vila Riod, João Paulo e Conjunto Maiobão (Paço do Lumiar). Sombra, segundo o delegado Odilardo, servia como “laranja”, sendo que utilizava documentos faltos.

O bando lucrou, de 2018 até o início deste ano, cerca de R$ 2 milhões nos golpes, como as investigações descobriram.

Operação em fevereiro

Antes daquela operação, aconteceu uma no dia 15 de fevereiro, quando a Seic capturou, além de Leonel, um advogado e mais três pessoas, por terem clonado o WhatsApp do prefeito de uma cidade catarinense. O grupo aplicou um golpe de R$ 250 mil. “Léo” havia sido preso no dia 17 de julho de 2018, após clonar WhatsApp de diversas autoridades, como ministros, deputados e governadores, mas foi solto após conseguir um habeas corpus em um trabalho do advogado.

Em liberdade, o líder da quadrilha voltou a aplicar os golpes, com o apoio, dessa vez, da tia dele, Eliane Gonçalves Costa, também capturada naquela operação. “Leone”, clonou o WhatsApp do prefeito João Cidinei da Silva, do município de Anita Garibaldi, em Santa Catarina. Ele, então, ligou para o tesoureiro da Prefeitura, se passando pelo gestor, pedindo que fosse feita uma transferência de R$ 250 mil.

Assim foi feito o procedimento, por meio de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). A farsa foi descoberta quando o político encontrou o funcionário, que falou sobre a operação bancária. Àquela altura, o dinheiro já havia sido distribuído. Do valor total, R$ 25 mil foram entregues a Eliane Gonçalves, e R$ 20 ao advogado.

Em decorrência desse golpe, a Justiça de Santa Catarina decretou a prisão preventiva de todos os envolvidos, incluindo outros dois membros do bando, Anderson Sombra Azevedo e Sérgio Ferreira de Araújo Júnior. O chefe da quadrilha, Leonel, foi preso em São Luís, no bairro do Turu, em um condomínio de luxo, onde foi apreendido um Porsche Cayenne, veículo avaliado em mais de R$ 200.000 mil.

Os golpes

O grupo desabilitava chips e os habilitava em outros encartes, e, nesse sentido, tinha acesso às contas do WhatsApp dos políticos. Por meio do aplicativo, os suspeitos iniciavam conversas com os amigos dos deputados e ministros, e solicitavam empréstimos. Achando que, de fato, quem pedia o dinheiro eram os amigos, que também são políticos e outras autoridades próximas, a vítima fazia a transferência ou o depósito em uma conta que, na verdade, era dos “laranjas” do bando.

O grupo, para que o golpe fosse consumado sem desconfiança, alegava que tinha seu limite de transferência bancário excedido e solicitava que a pessoa da lista de contatos da agenda telefônica fizesse uma transferência complementar para uma conta dada pelo estelionatário. Em alguns casos, os golpistas encaminhavam boletos a serem pagos pelas vítimas, que acreditavam estar fazendo um favor para o amigo.

Leonel tinha uma empresa de tecnologia, que funcionava como lan house, mas que era de fachada e estava localizada na Avenida Daniel de la Touche, em São Luís. Dessa empresa, de 120 chips de uma operadora, 79 foram utilizados nos golpes da clonagem do WhatsApp dos políticos. O líder do bando disse que também é dono de cinco carros do Uber, mas nada está no nome dele.

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