Revista ''Nature''

Ex-diretor do Inpe é escolhido um dos 10 cientistas de 2019

Galvão foi exonerado em julho após reagir a críticas de Bolsonaro a dados do instituto, que indicavam alta no desmatamento na Amazônia neste ano

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
O físico Ricardo Galvão é membro da Academia Brasileira de Ciências
O físico Ricardo Galvão é membro da Academia Brasileira de Ciências (Divulgação)

BRASÍLIA - O físico Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi incluído na lista da revista "Nature" de 10 cientistas que se destacaram em 2019. A relação completa de cientistas será publicada na terça-feira,17.

Galvão, que ocupava o cargo desde 2016, foi exonerado em agosto deste ano depois de rebater críticas do presidente Jair Bolsonaro aos dados do instituto, que indicavam alta no desmatamento na Amazônia.

Bolsonaro disse, em julho, que os números divulgados dias antes – e que registravam um aumento de 88% nos alertas de desmatamento – não coincidiam com a verdade, e que "parece até que [o presidente do Inpe] está a serviço de alguma ONG".

Após a fala, Galvão saiu publicamente em defesa da pesquisa (veja o vídeo abaixo). Em entrevista ao G1 na época, disse que a postura do presidente era uma afronta à ciência e ao instituto e comparou as acusações a uma "piada de um garoto de 14 anos".

Na ocasião, a revista "Nature" publicou um artigo repercutindo os dados do Inpe sobre a Amazônia e a posição do presidente em questionar dados científicos.

Meses depois da demissão de Galvão, uma pesquisa do Inpe confirmou o que os alertas já indicavam: o desmatamento cresceu na Amazônia. Segundo o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), entre agosto de 2018 e julho de 2019, a área desmatada na Amazônia aumentou 29,5% em relação ao período anterior (agosto de 2017 a julho de 2018).

Sem arrependimentos

Em entrevista ao G1 nesta sexta-feira, Ricardo Galvão disse que sua atitude foi acertada e fez o governo tomar mais cuidado com o que diz.

"Essa homenagem [da revista] mostra que a minha reação ao governo foi correta. Os agentes públicos têm que saber que não existe autoridade acima da soberania da ciência. [...] Eu não me arrependo do que fiz, eu teria feito como fiz", afirmou Galvão ao G1, nesta sexta-feira.

O físico disse que sua demissão repercutiu de forma diferente do que esperava o governo Bolsonaro.

"Fui atacado e reagi. Ele queria descredibilizar nosso trabalho e, ainda que eu tenha perdido meu cargo, isso repercutiu diferente do esperado por eles. Os olhos do Brasil e do mundo se voltaram para a Amazônia e para a ciência. E, não só isso, como estou sendo congratulado."

Currículo

Ricardo Galvão é formado em engenharia de telecomunicações pela Universidade Federal Fluminense, com mestrado em engenharia elétrica pela Universidade de Campinas e doutor em física de plasmas aplicada pelo Massachusetts Institute of Technology. Atua como pesquisador desde 1972 e tem mais de 200 artigos publicados.

Desde que deixou o cargo, Galvão voltou para a sua posição de professor no Instituto de Física da Universidade de São Paulo.

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