Vida Ciência

50 anos da Escola de Agronomia do Maranhão

A infraestrutura embrionária para instalação e implantação da Escola de Agronomia foi a Fazenda Modelo que, em curto espaço de tempo, passou por um vigoroso processo de transformação

Antonio José Silva Oliveira/físico, doutor em Física Atômica e Molecular, pós-doutor em Jornalismo Científico. Professor da UFMA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

[e-s001]Nesta edição, Vida Ciência faz, com imenso prazer, o registro dos 50 anos da Escola de Agronomia do Maranhão e sua contribuição para o desenvolvimento do ensino de agronomia no estado, por meio de um artigo assinado pelo Engenheiro Agrônomo José Augusto Silva Oliveira, e está de acordo com o tema da 16ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em todo o Brasil, no período de 21 a 26 de outubro de 2019, discutindo Bioeconomia: Diversidade e Riqueza para o Desenvolvimento Sustentável.

O professor José Augusto é egresso do curso de Agronomia da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), mestre em Economia Rural pela Universidade Federal de Viçosa, exerceu o cargo de reitor da Uema, membro fundador da Academia Maranhense de Ciências (AMC) e efetivo da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão (SCLMA), membro correspondente da Academia Arariense-Vitoriense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, além de sócio efetivo do Instituto Histórico do Maranhão, atualmente presidente.

No fim da década de 1960, o Brasil vivia sob a égide de um novo regime constitucional, em que a meta a ser atingida era o desenvolvimento econômico a qualquer custo. Já era possível se perceber o tão decantado “milagre brasileiro”. O país, como um todo, perseguia essa máxima, e os estados da federação encamparam a ideia. O Maranhão navegava heroicamente nas ondas desse desenvolvimento, buscando se adequar às mudanças que essa ordem econômica exigia. A visão de um estado meramente agrícola precisava ser mudada, incluindo novos desafios em outras esferas da competitividade, criando uma nova concepção para a instalação de um parque industrial. No entanto, o setor agrícola deveria ser fortalecido em face da tradição e da participação no PIB do estado.

A percepção de que o desenvolvimento do Maranhão passava, necessariamente, pelo fortalecimento da agropecuária deu-se no governo Newton Bello, que outorgava bolsas de estudos para os maranhenses que quisessem obter o título de Engenheiro Agrônomo na tradicional Escola de Agronomia da Amazônia, sediada no estado do Pará. É desnecessário descrever as dificuldades de manter um sistema dessa natureza, ou seja, deslocar pessoas para outro estado em busca de qualificação profissional. Reverter esse processo era uma necessidade vigente. O ambiente político, em nível do Maranhão, preconizava a renovação do cenário técnico-administrativo, nos aspectos dos recursos humanos e métodos de trabalho. O setor primário, sustentáculo da economia, constituía prioridade, aliado à educação, à saúde e à infraestrutura. Com foco nessa assertiva uma equipe de jovens profissionais com visão estratégica e liderada pelo Engenheiro Agrônomo Lourenço José Tavares Vieira da Silva, mesmo contrariando alguns céticos, lançou a base da Escola de Agronomia do Maranhão.

Esse fato histórico deu-se em 3 de novembro de 1969, quando, por meio da Lei nº 3.003, regulamentada pelo Decreto nº 4.045, de 12 de dezembro do mesmo ano, foi criada a Escola de Agronomia do Maranhão como entidade autárquica estadual, com autonomia orçamentária, administrativa e didática, e sede em São Luís. Em menos de uma década de existência, a Escola de Agronomia do Maranhão recebeu autorização de funcionamento do Conselho Estadual de Educação, em 30 de setembro de 1970 e, posteriormente, foi reconhecida como Instituição de Ensino Superior em sessão plenária do Conselho Federal de Educação, em 30 de abril de 1974.

A infraestrutura embrionária para instalação e implantação da Escola de Agronomia foi a Fazenda Modelo que, em curto espaço de tempo, passou por um vigoroso processo de transformação, adequando-se às exigências estabelecidas pelo Ministério da Educação - MEC. Na época, o curso contava com adequadas instalações com laboratórios nas áreas da entomologia, fitopatologia, fertilidade de solos, dentre outros, além do setor de máquinas agrícolas e um campo agrícola, com destaque para a olericultura. A zootecnia, paralelamente, registrava presença marcante, ressaltando-se o excelente plantel de suínos, a bovinocultura leiteira e a avicultura. Concomitantemente, deu-se início à formação do quadro docente, buscando junto aos profissionais da agronomia e áreas afins aqueles aptos a cumprirem a missão de gerar e transmitir o saber das ciências agronômicas. A titulação em nível de pós-graduação ainda não era um requisito básico para o exercício da função docente, mas, mesmo assim, alguns professores foram para importantes universidades, a fim de que obtivessem a titulação adequada para o ensino e a pesquisa em suas áreas de conhecimento.

A assinatura de convênios com organismos federais foi fundamental para a consolidação da melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa, da extensão e da infraestrutura. A Escola de Agronomia do Maranhão, como unidade isolada, assim permaneceu até 22 de agosto de 1972 quando, por intermédio da Lei nº 3.260, passou a integrar a nova estrutura de ensino superior do estado denominada de Federação das Escolas Superiores do Maranhão (FESM).

Um novo ciclo se deu, desta feita sob a ótica de uma administração compartilhada com outras unidades de ensino superior. No entanto, essa nova estrutura não se sustentou por muito tempo. O crescimento educacional do Estado exigia uma gestão acadêmica mais atuante e flexível que atendesse aos anseios da sociedade. Criou-se, então, no governo João Castelo, por força da Lei nº 4.440, de 30 de dezembro de 1981, a Universidade Estadual do Maranhão (Uema), constituída de outras unidades de ensino superior, da qual a de estudos de agronomia passou a fazer parte.

Muitos foram os benefícios advindos dessa reforma estrutural. Deixou-se de pensar na Unidade de Estudos de Agronomia como um mero segmento de ensino, mas sim como um organismo universitário. As mudanças ocorreram principalmente no corpo docente cuja titulação passou a ser uma exigência do MEC, o que contribuiu fortemente para a melhoria da qualidade do ensino e da pesquisa no curso. Naturalmente, os laboratórios existentes passaram por processos de adequações, bem como outros foram criados com o propósito de atender as demandas tecnológicas e sociais. Ressalta-se que o Curso dispõe de Fazenda Escola que serve de base física para a implantação de projetos de pesquisa, desenvolvimento e extensão que buscam respostas às demandas advindas da agricultura.

A atual nominação - Curso de Agronomia - é uma decorrência da modificação estrutural experimentada pela Universidade Estadual do Maranhão por efeito do Decreto nº 13.819, de 25 de abril de 1994. Vincula-se diretamente, por aquele dispositivo, ao Centro de Ciências Agrárias, e, mediante os Departamentos, Núcleos Técnicos, Laboratórios e Fazenda Experimental congregam-se as atividades de ensino, pesquisa e extensão da área agronômica.

Nessas últimas cinco décadas, fatos importantes ocorreram, os quais contribuíram para que o Curso de Agronomia fosse alçado ao elevado conceito que hoje o distingue. Egressos do corpo discente, no exercício profissional, galgaram patamares de destaque nas áreas da ciência, da gestão pública e privada, da política e das artes. Comendas e prêmios outorgados aos engenheiros agrônomos oriundos do curso merecem louvor. Convém mencionar, também, os avanços a partir do momento que ex-alunos passaram a fazer parte do corpo docente da instituição. Um novo olhar, uma nova dinâmica de ensino alicerçada no comprometimento e em novos desafios têm mudado profundamente o projeto pedagógico do Curso de Agronomia. No entanto, não podemos omitir o importante papel desempenhado pelos professores fundadores do curso e por aqueles que vieram posteriormente fortalecer o corpo docente. Sem a abnegação individual e o senso coletivo, com certeza não estaríamos testemunhando, nesse momento, a história luminosa do Curso de Agronomia.

O curso tem passado por avaliações realizadas pelo MEC, e os conceitos obtidos são animadores, sinalizando que a missão estabelecida está sendo cumprida. As deficiências apontadas pelos avaliadores não são vistas sob a ótica do pessimismo, mas, motivadoras para transformar as ameaças em oportunidades de crescimento. Contribui nesse processo a titulação do quadro docente e, como consequência natural, o crescimento da produção científica. Atualmente, os professores têm seus trabalhos publicados em diferentes revistas nos âmbitos nacional e internacional. Com certeza um marco histórico importante de mudança na qualidade do ensino no Curso de Agronomia foi a criação do programa de pós-graduação em Agroecologia, em 1994, inaugurado com o curso de Mestrado, uma visão avançada para a época, constituindo-se como o primeiro programa, nessa linha de pensamento, implantado no Brasil, sendo a UEMA a única Universidade com curso de Doutorado em Agroecologia, iniciado em 2013, na modalidade acadêmica.

A instalação de cursos de pós-graduação tem sido a principal ferramenta de mudança e de melhoria na qualidade de ensino nos tradicionais cursos de graduação. Após o funcionamento do programa de pós-graduação em Agroecologia, e com foco nessa lógica, buscou-se uma interação mais estreita entre as matérias da pós-graduação e as da graduação. Fato que propiciou, em curto espaço de tempo, uma mudança comportamental com efeitos na melhoria da aprendizagem dos alunos e na consequente produção acadêmica e científica, com reflexos positivos na formação dos engenheiros agrônomos e sua visão para o desenvolvimento sustentável da agricultura.

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