Saúde

Maranhão realiza apenas 9% das mamografias recomendadas

Em todo o Brasil os números de exames dessa natureza seguem abaixo da média que a Organização Mundial de Saúde recomenda; desde 2012 que a quantidade de exames realizados em 70% dos estados, estão estancados

Emmanuel Menezes / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Mamógrafos também são suficientes para a demanda
Mamógrafos também são suficientes para a demanda (mamógrafo)

Dados estarrecedores sobre o percentual de cobertura mamográfica no Brasil foram divulgados por meio do Brazilian Breast Cancer Research Network, e confirmados em publicação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia. De acordo com os dados, o Maranhão só possui 9% da cobertura mamográfica pelo Sistema Único de Saúde (SUS), contra 70%, que é o recomendado. Os números são extraídos de uma pesquisa, que avaliou a situação das mulheres de 2008 a 2017.

No Brasil, 70% da população dependem do sistema público de saúde. O percentual de cobertura mamográfica de 2017 nas mulheres da faixa etária de 50 a 69 anos, atendidas pelo SUS, é o menor dos cinco anos anteriores ao dos dados. Eram esperadas 11,5 milhões de mamografias e foram realizadas apenas 2,7 milhões, uma cobertura de 24,1%, bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Estima-se que 59.700 novos casos tenham sido registrados até o ano de 2018, de acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer liberado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca). Foram registrados 15.593 mortes, sendo 15.403 mulheres e 187 homens (2015). Em São Luís, segundo o Inca, apenas três hospitais realizam mamografias pelo SUS, sendo eles o Instituto Maranhense de Oncologia Aldenora Bello/Fundação Antônio Jorge Dino, o Hospital Geral Tarquínio Lopes Filho e o Hospital Universitário Federal do Maranhão (HUUFMA).

Para o levantamento dos dados, os pesquisadores coletaram informações do Sistema de Informações Ambulatorial (SIA) do DATASUS, de acordo com os códigos de procedimento 0204030030 (Mamografia) e 0204030188 (Mamografia Bilateral para Rastreamento). O número de exames esperados foi calculado de acordo com o número de mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos e as recomendações do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para rastreamento bienal, considerando-se cobertura de 58,9% da população-alvo.

Os três piores estados na pesquisa foram Amapá, que realizou apenas 260 exames em vez dos 24 mil esperados; o Distrito Federal, com 5 mil realizados, quando eram esperados 158,7 mil; e Rondônia, com 5,7 mil realizados contra 76,9 mil esperados.

E todos os países, onde foi introduzido o rastreamento mamográfico populacional com cobertura de 70% da população, a queda na mortalidade por câncer de mama é de aproximadamente 35%, entre 1987 e 2017. O estudo da SBM mostra que o governo federal investiu apenas R$ 122,8 milhões dos R$ 510,7 milhões previstos para atender ao número esperado de mulheres nessa faixa etária.

Resultados
Cerca de 19 milhões de mamografias foram realizadas em mulheres de 50 a 69 anos no SUS entre 2008 e 2017. A pesquisa também indica que a cobertura de rastreamento do câncer de mama aumentou em 14,5% ao ano no Brasil entre 2008 e 2012, mas os números se estabilizando entre 2012 e 2017.

Em 2008, a população feminina de 50 a 69 anos era de 14,4 milhões. Este número aumentou para 19,5 milhões em 2017, representando um incremento de 36,0% nesta população. Durante esse período, total de 1.227.514 e 2.790.937 mamografias, respectivamente, foram aprovados. Isso representa um aumento de 127,0% no número de exames pagos pelo SUS, a um custo total de 968.567.514,42 reais.

A extensão estimada da cobertura de rastreamento do câncer de mama fornecido pelo SUS no Brasil para o período 2008-2017 variou de 14,4 a 24,2%. A análise de regressão mostrou que, para o Brasil como um todo, houve um aumento significativo no rastreamento do câncer de mama. O mesmo aconteceu com as diferentes regiões do país, mas os números seguem fora do resultado esperado pela OMS.

Falta de qualidade
Outra grave questão apontada pelo relatório é a baixa qualidade de exames mamográficos feitos em diversos serviços, onde muitos tumores pequenos não são diagnosticados, pela má qualidade da mamografia.
Há, também, informações díspares sobre quem deve fazer mamografia. A Sociedade Brasileira de Mastologia preconiza periodicidade anual, a partir dos 40 anos. Já o governo, a partir dos 50 anos a cada dois anos.

Câncer de mama
O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células da mama. Esse processo gera células anormais que se multiplicam, formando um tumor. Há vários tipos de câncer de mama. Por isso, a doença pode evoluir de diferentes formas. Alguns tipos têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem mais lentamente. Esses comportamentos distintos se devem a característica próprias de cada tumor.

O câncer de mama é o tipo da doença mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, correspondendo a cerca de 25% dos casos novos a cada ano. No Brasil, esse percentual é de 29%. Excluído o câncer de pele não melanoma, esse é o mais frequente nas mulheres das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença.

Ele pode ser percebido em fases iniciais, na maioria dos casos, por meio de sintomas como nódulo (caroço), fixo e geralmente indolor; pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja; alterações no bico do peito (mamilo); pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço; e saída espontânea de líquido anormal pelos mamilos.

Esses sinais e sintomas devem sempre ser investigados por um médico para que seja avaliado o risco de se tratar de câncer. É importante que as mulheres observem suas mamas sempre que se sentirem confortáveis, sem técnica específica, valorizando a descoberta casual de pequenas alterações mamárias. Em caso de permanecerem as alterações, é recomendado procurar logo os serviços de saúde para avaliação diagnóstica.

SAIBA MAIS

Verdades ou mitos
A SBM, o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) divulgaram uma lista esclarecedora sobre a realidade de alguns procedimentos a respeito do diagnóstico do câncer que são disseminadas de maneira errônea. Leia abaixo:

– O câncer de mama é o tumor mais frequentes entre as mulheres e a principal causa de morte por tumor no Brasil e no mundo. Entretanto, no Brasil, diferentemente dos países desenvolvidos, a mortalidade pelo câncer de mama continua aumentando.

– A causa do contínuo aumento da mortalidade é a falta de programas de rastreamento adequados ou a baixa adesão da população aos programas oferecidos – principalmente devido à falta de informação ou então acesso a informações distorcidas, como estas recentemente veiculadas. Também se deve a falta de acesso em tempo hábil aos tratamentos recomendados.

– Deve-se enfatizar que a mamografia é o único exame que, quando realizado de maneira sistemática a partir dos 40 anos em mulheres assintomáticas, comprovadamente leva a uma redução da mortalidade pelo câncer de mama. Isso foi demonstrado através de grandes estudos realizados em mais de 500 mil mulheres, sendo observado uma redução da mortalidade que variou entre 10% a 35% no grupo de mulheres submetidas ao rastreamento em relação às que não eram submetidas.

– Dessa forma, as principais sociedades médicas no Brasil e no mundo são unânimes em recomendar o rastreamento mamográfico para as mulheres assintomáticas, iniciando a partir dos 40 anos ou 50 anos (dependendo do país), com uma periodicidade anual ou bienal (também variando em alguns países). No Brasil, as sociedades médicas recomendam o rastreamento mamográfico anual para as mulheres entre 40 a 75 anos.

– O autoexame detecta o tumor quando o mesmo já está em uma fase adiantada, não tendo estudo que comprove qualquer benefício para a redução da mortalidade, não devendo ser adotado como método de rastreamento.

– O risco de câncer radioinduzido é extremamente baixo, tendo em consideração as doses de radiação envolvidas em cada exame. E não existe estudo que demonstre que os riscos excedem os benefícios, na faixa etária recomendada.

– Citação de absurdos como “uma biópsia leva a desenvolver câncer” ou “que a radiação na mamografia é prejudicial” foge a compreensão de qualquer médico com um mínimo de conhecimento na área oncológica. Dessa forma, a indignação é porque muitas mulheres que têm acesso a postagens e até vídeos fazendo tais afirmações podem considerar não realizar a mamografia. E isso pode significar a perda da chance de detectar o tumor de mama em uma fase inicial, em que se pode oferecer a possibilidade de cura e tratamentos menos agressivos.

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