Educação

O que é praising e o seu poder de transformação para as novas gerações

Nova prática visa destacar as qualidades e talentos do próximo e ser um "antídoto" ao bullying, que cada vez aumenta mais em escolas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Bullying envolve agressões psicológicas
Bullying envolve agressões psicológicas

SÃO PAULO - A palavra bullying vem do verbo “to bully”, em inglês, que significa maltratar ou intimidar. A prática, que é considerada comum e recorrente nas escolas na fase adolescente, visa encontrar algo no próximo, diferente dos demais, que provoque dor e sofrimento, para espalhar, exacerbar e dar foco no negativo. É uma tentativa primitiva de eliminar a pessoa que possui algum defeito, dificuldade ou diferença que a tornam a mais vulnerável do grupo. Para o especialista em Inteligência Emocional Rodrigo Fonseca, fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional (SBIE), tanto quem faz, quanto quem sofre bullying foram, em alguma medida, vítimas do problema dentro de sua própria casa. Para cobater o bullying, está sendo usada uma nova prática, o praising.

“Entenda: bullying, muitas ve­zes, pode não envolver agressões físicas, mas sim agressões psicológicas e emocionais de diversos níveis de gravidade. A criança que é muito criticada pelos pais em casa sofre todos os dias com a dor das palavras agressivas, dos sentimentos negativos que os pais nutrem por ela. A vítima de bullying sofre de maneira semelhante ao do bulidor. Na sua casa, é alvo de críticas, humilhação e descaso. Mui­tas ve­zes, vemos pais agredindo verbalmente os filhos quan­do cometem algum erro, julgando que estão fortalecendo-os para a vida. Ao contrário, estão enfraquecendo-os”, revela.

Para prevenir e combater o problema, uma nova prática vem ganhando força no mundo. Chamada de praising, que vem do verbo “to praise”, em inglês, que significa louvar ou elogiar, ela visa focar nas ações e características positivas, nas qualidades de cada pessoa, um antídoto para o bullying.

“O primeiro passo é ensinar seu filho a fazer praising. E isso deve começar em casa, com o seu próprio exemplo. Aponte as qualidades do seu filho, enalteça os acertos, fale dos erros somente para ajudá-lo a superá-los, nunca para ridicularizá-lo. Aponte as qualidades das pessoas, o lado bom dos acontecimentos, mostre-se otimista e en­sine-o a se colocar no lugar do outro. Ajude-o a enxergar e propagar a vida pelo lado positivo. E, principalmente, a enxergar as diferenças sem preconceitos e críticas”, explica Rodrigo.

Ainda, segundo o especialista, o praising precisa ser um exercício constante, um treinamento para enxergar qualidades nos outros, e assim enxergar coisas positivas em si próprio. “Tanto você quanto elas ficarão mais receptivas e sensíveis ao seu lado positivo. Cria-se aí um círculo virtuoso, um contagiando o outro de forma positiva”, afirma.

É preciso conversar com crianças e jovens
É preciso conversar com crianças e jovens

Saiba o que fazer se o seu filho está recebendo bullying:

- Você deve, antes de tudo, ensiná-lo a parar o bullying desde o início, antes que se fortaleça, criando um hábito perigoso. Na hora do bullying, seu filho deve colocar um limite verbalmente – em nenhum momento deve tocar no outro ou permitir que ele o toque. É preciso falar de modo claro e firme, olhando nos olhos do bulidor. Dizer: “Não gosto dessa brincadeira. Não vou mais permitir que você faça isso”. Em seguida,
deve se afastar do bulidor.

- Tenha uma conversa séria com o seu filho, e explique: “Olha, filho, provavelmente esse garoto tem uma relação muito difícil com os pais em casa. E ele só está fazendo com você o que fizeram com ele. Imagine se eu, ou sua mãe, fizesse isso com você! Ia doer, não ia? Então, foi isso que ele recebeu e aprendeu. Tente se colocar no lugar dele e compreendê-lo”. Porque o perdão só vem por meio da compreensão. Se o seu filho conseguir sentir empatia pelo bulidor, poderá perdoá-lo e, principalmente, perderá o medo dele, pois o bulidor deixará de ser o monstro que o persegue, mas alguém infeliz, que precisa de ajuda.

- O seu filho deve praticar o praising: observar o bulidor, procurando encontrar qualidades nele. Muitas vezes, isso é penoso para quem é vítima, mas, se o seu filho sentiu alguma empatia pelo bulidor durante a conversa anterior que teve com você, conseguirá mudar o foco do seu olhar para o positivo. O bulidor vive na sombra, vendo apenas o lado ruim, o negativo. É preciso trazê-lo para a luz. E o seu filho pode fazê-lo, ao falar com ele num momento em que não se encontra num estado agressivo, e destacar alguma qualidade dele. Dizer, por exemplo: “Cara, parabéns, você deu um passe incrível no jogo, hoje!”. Se houver sinceridade, o bulidor sentirá e ficará tocado, mesmo que não demonstre na hora. E a necessidade de retribuição fará com que tente enxergar uma qualidade, também, no seu filho. Então, é perceber, reconhecer e destacar o lado bom de quem pratica o bullying, para reverter o processo. E, quem sabe,
até fazer um novo amigo.

O que fazer, se o seu filho pratica bullying:

- Em primeiro lugar, olhe para dentro de sua própria casa, para o seu relacionamento (e de sua esposa ou marido) com o seu filho. Vocês, pais, estão praticando bullying em algum nível. Repensem como falam com o seu filho. Vejam se vocês não costumam criticá-lo, diminuindo-o e acusando-o ao menor erro, se não costumam chamá-lo com apelidos ofensivos, ou o ridicularizam por causa de alguma dificuldade, problema ou característica física. Conscientizem-se dos erros e parem de errar. Façam o Resgate Emocional para pedir perdão ao seu filho, dizer-lhe que o amam e que ele pode ser uma pessoa positiva, que reconhece as qualidades das pessoas, que compreende e protege quem tem dificuldades e fraquezas.

- Pratique praising com o seu filho. Observe-o e faça uma lista das qualidades e talentos que enxerga nele. Incentive-o a usar esses talentos, destacando-os sempre que puder. E abrace-o, demonstre o seu amor com palavras ou gestos, pois o seu filho se encontra muito carente.

- Converse com o seu filho sobre o praising. Ensine-o a enxergar o lado positivo das pessoas. Diga: “Papai e mamãe também estão aprendendo a praticar o praising. Por isso, queremos ensinar a você também. Faça o mesmo com os seus amigos e colegas, a partir de hoje!”.

Sentimentos ruins

As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento, podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suicídio. Os autores das agressões geralmente são pessoas que têm pouca empatia, pertencentes à famílias desestruturadas, em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a ser escasso ou precário.

Por outro lado, o alvo dos agressores geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de solicitar ajuda. No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com alunos de escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. As três cidades brasileiras com maior incidência dessa prática são: Brasília, Belo Horizonte e Curitiba. Os atos de bullying ferem princípios constitucionais – respeito à dignidade da pessoa humana – e o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar.

O responsável pelo ato de bullying pode também ser enquadrado no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que ocorram dentro do estabelecimento de ensino/trabalho.

Família deve acompanhar e trabalhar o
Família deve acompanhar e trabalhar o "antídoto"

Saiba Mais

A importância da Inteligência Emocional na luta contra o bullying

A inteligência emocional é um pilar importante na luta contra o bullying. Isso porque o desenvolvimento da inteligência emocional gera uma série de habilidades que permitem um convívio mais ameno com os próprios sentimentos e fomenta o controle das próprias emoções.

Assim, quem é vítima de bullying cria ferramentas para lidar com a situação de maneira mais saudável. Incluir a inteligência emocional no currículo escolar é cada vez mais necessário para prevenir que os casos tão tristes, como esse episódio em Goiânia, se repitam. Com o entendimento das próprias emoções e das reações que elas causam, os agressores passam a entender e respeitar o espaço do colega.

A família é essencial na luta contra o bullying

Pensando nesse contexto, a Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional criou um programa para levar a inteligência emocional para as escolas por meio da técnica do praising – que consiste em elogiar e destacar as qualidades.

Vale destacar que é em casa que os seres humanos dão início à formação de sua personalidade e caráter e, por esse motivo, a Inteligência Emocional precisa ser desenvolvida o quanto antes para que a criança entenda a importância de respeitar o próximo tanto na escola, quanto em qualquer ambiente.

É fundamental ter consciência que o problema não parte do jovem. Afinal, as ações cometidas pelo agressor é resultado de um comportamento aprendido por experiências anteriores e isso, geralmente, acontece em casa.

Desenvolva sua Inteligência Emocional

O bullying pode ser motivado pelo excesso de críticas, pela dificuldade de aceitar as diferenças e por outras situações que remetem à rejeição. A formação dessa criança ou adolescente é o grande ponto para toda questão, e desenvolver a inteligência emocional tanto no ambiente familiar, quanto na escola, é fundamental para formar indivíduos mais equilibrados, seguros de si e saudáveis.

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