Risco

Ataques de bichos peçonhentos causam 2 mortes em um ano no MA

Foram 449 acidentes causados por serpentes, aranhas e escorpiões no Maranhão em 2017; no ranking nacional, estado ocupa a 10ª colocação em quantidade de registros e a sexta em óbitos

Daniel Matos / Coordenador de Reportagem

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Pescador  está entre vítimas com  maior incidência de ataques
Pescador está entre vítimas com maior incidência de ataques (pescador na Lagoa da Jansen)

SÃO LUÍS - Boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, com base em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), aponta o registro de 449 acidentes causados por serpentes, aranhas e escorpiões no Maranhão em 2017, com dois óbitos. A estatística é a última divulgada pelo órgão sobre esse tipo de ocorrência. As vítimas dos animais peçonhentos foram trabalhadores do campo, das águas e florestas (agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura), em pleno exercício de suas atividades.

Os números colocam o Maranhão em segundo lugar do Nordeste em quantidade de casos dessa natureza e em igual posição em número de mortos na região, junto com o vizinho estado do Piauí. O levantamento aponta o estado apenas atrás da Bahia, com 773 casos no mesmo período, e três mortes.

No ranking nacional, o Maranhão ocupa a 10ª colocação em quantidade de registros e a sexta em óbitos. Em primeiro lugar em número de acidentes está Minas Gerais, com 2.431 ocorrências, seguido por Espírito Santo, com 1.386 notificações, e Pará, com 869. Na estatística de óbitos, Minas também lidera, junto com o Pará. Ambos registraram quatro mortes de 2007 e 2017.

Em relação à incidência por 100 mil habitantes, o Maranhão registrou o maior coeficiente do Nordeste, com 63,9. Em segundo, aparece a Bahia (58,2) e em terceiro o Rio Gran­de do Norte (54,7). A letalidade dos acidentes de trabalho com animais peçonhentos registrados em nível local é de 0,4% do total de trabalhadores do campo, das águas e florestas vítimas desse tipo de ocorrência. Já a taxa de mortalidade no estado ficou na casa de 2,8 a cada 1 milhão de trabalhadores atacados.

Escorpião
O Maranhão foi uma das unidades da federação que apresentaram prevalência de acidentes com escorpiões, junto com Piauí, Ceará e o sul da Bahia. Os dados indicam que o nordeste do estado, sobretudo a microrregião de Chapadinha, onde estão localizados municípios como Anapurus, Belágua, Brejo, Buriti, Chapadinha, Mata Roma, Milagres do Maranhão, São Benedito do Rio Preto e Urbano Santos, é a área mais propensa a ataques.

Quanto aos acidentes envolven­do aranhas, os casos foram registrados em diferentes áreas, mas em proporção muito menor, no máximo até 38 notificações por 100 mil habitantes, em uma escala que vai além de 1.436. Ao contrário dos ataques de escorpiões, os episódios envolvendo serpentes que vitimam trabalhadores da agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura não se concentraram em apenas uma região do Maranhão. Os acidentes ocorreram em quase todo o território, mas em nenhuma área houve alta incidência.

Levando em conta a espécie de animal peçonhento, a predominân­cia, no Maranhão, é de acidentes envolvendo serpentes e escorpiões, com 267 e 154 casos registrados em 2017, respectivamente. Os ataques de aranha tiveram incidência muito menor. Foram apenas nove ocorrências no mesmo período, o que representa pouco mais de 2% do total de notificações.

Ainda não são bem conhecidos os fatores que acarretam mudanças no padrão de crescimento e comportamento das populações de animais peçonhentos em um determinado meio, como os desequilíbrios ecológicos (ocasionados por desmatamentos, uso indiscriminado de agrotóxicos, praguicidas e outros produtos químicos, processos de urbanização) e as alterações climáticas. Tais fatores têm participação no aumento do número de acidentes e, consequentemente, impacto para a saúde pública.

A maior parte dos acidentes de trabalho por animais peçonhentos atingiu pernas e braços das vítimas, devido à maior exposição dessas partes do corpo durante as atividades laborais dos agricultores. l

Saiba mais

- Os acidentes causados por animais peçonhentos são uma importante causa de morbimortalidade em todo o mundo, principalmente entre a população do campo, floresta e águas. Apesar disso, são negligenciados como problema de saúde pública. Em 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu esse tipo de acidente na lista de Doenças Tropicais Negligenciadas, estimando que possam ocorrer anualmente no Planeta 1,841 milhão de casos de envenenamento, resultando em 94 mil óbitos.

- Os envenenamentos por serpentes representam aproximadamente 29 mil casos por ano, e uma média de 125 óbitos no país. Em relação aos escorpiões, durante o ano de 2013, foram registrados 69.036 casos, que resultaram em 80 óbitos. Destaca-se que 27.125 casos foram registrados por envenenamentos por aranhas, sendo que, destes, 36 evoluíram para óbito.

- No Brasil, os acidentes por animais peçonhentos são a segunda causa de envenenamento humano, ficando atrás apenas da intoxicação por uso de medicamentos.

- As causas dos acidentes podem estar associadas a fatores como: diversidade zoológica e ecológica locorregional, trabalho com proximidade com os meios naturais, altos índices pluviométricos, diferenças culturais (como a percepção do animal pela população), modificações antrópicas do meio ambiente, condições de trabalho precárias, dificuldade de atuação das equipes de vigilância em saúde do trabalhador onde estas atividades econômicas são desenvolvidas, e baixa escolaridade do trabalhador.

Dicas de prevenção e segurança:

# optar por manejos agrícolas que preservem o equilíbrio ecológico e que sejam sustentáveis, evitando assim ações que provoquem mudanças nos hábitos dos animais;

# usar luvas de raspa de couro e calçados fechados, entre outros equipamentos de proteção individual (EPI), durante o manuseio de materiais de construção (tijolos, pedras, madeiras e sacos de cimento), transporte de lenhas, movimentação de móveis, atividades rurais, limpeza de jardins, quintais e terrenos baldios, entre outras atividades;

# olhar sempre com atenção o local de trabalho e os caminhos a percorrer;

# não colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros, entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras ou que não tenham visibilidade. Caso seja necessário mexer nesses lugares, usar um pedaço de madeira, enxada ou foice;

# examinar os calçados e roupas antes de usar, pois animais podem se refugiar dentro deles, principalmente em zonas rurais;

# afastar-se lentamente, caso detecte a presença de algum animal peçonhento, e contactar a autoridade competente; e

# evitar entrar em contato com animais peçonhentos, mesmo que pareçam mortos.

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