História

Uma paixão chamada filatelia, que atravessa tempo e gerações

Na terça-feira (5), celebra-se o Dia do Filatelista; mesmo com o franco desuso das cartas, a prática de colecionar e estudar selos postais, continua forte

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Filatelista Nelson Lopes Aragão com o filho João Gabriel
Filatelista Nelson Lopes Aragão com o filho João Gabriel

SÃO LUÍS - Quando, em 1840, Sir Rowland Hill criou o selo postal na Inglaterra, seu objetivo era solucionar um problema histórico dos correios de todo o mundo. Antes do selo, o pagamento da carta era realizado pelo destinatário. E isso era um problema quando o recebedor não era encontrado ou se recusava a receber. O selo então surgiu para resolver a questão, pois era pago pelo remetente.

Quase 180 anos depois, a internet e outras facilidades de comunicação fizeram as cartas cair cada vez mais em desuso. O que não se imaginava no século XIX era que hoje os selos fossem um dos objetos mais colecionados do mundo e que os colecionadores teriam um dia dedicado a eles!

Na terça-feira, 5 de março, é o Dia do Filatelista, nome dado às pessoas que colecionam e estudam os selos postais do Brasil e do mundo. Para homenagear os filatelistas, fomos conhecer um dos maiores colecionadores de selos do Maranhão, o médico Nelson Lopes Aragão, colecionador há 53 anos.

Natural do município de Anajatuba, Nelson sempre gostou de ler e estudar. Com muito interesse por temas históricos, políticos e culturais, aos 12 anos, viu na filatelia uma forma de ampliar seus conhecimentos sobre esses assuntos.

“Por intermédio do professor Sá Valle, ilustre intelectual maranhense, vi pela primeira vez uma coleção de selos: era sobre a Boêmia, que não deve ser confundida com boemia. A Boêmia é uma região situada atualmente na República Tcheca”, lembra o filatelista.

Desde o princípio, o médico se interessou em colecionar os selos brasileiros, principalmente a partir de 1900, quando os Correios passaram a emitir selos comemorativos. Trata-se de uma vasta coleção que, apesar de tantos anos de dedicação e investimento, ainda não está completa. O objetivo será alcançado quando Nelson adquirir mais alguns selos pós 1900 e outros do Brasil Imperial.

Históricos selos Olho de boi
Históricos selos Olho de boi

Trocas à moda antiga

Para alcançar sua meta de completar os álbuns dessa coleção, Dr. Nelson adquire selos em lojas especializadas, conhecidas como filatélicas. Com destaque para lojas em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. “Apesar do desenvolvimento tecnológico, a maioria das compras ainda é realizada na base da confiança. Funciona assim: recebo os catálogos com selos em casa, escolho, fico com os que desejo e devolvo o catálogo, pagando somente pelos selos adquiridos”, explica.

É claro que, quando surgem oportunidades de negociar diretamente com filatelistas locais, ele não perde a chance e já deixou, inclusive, seus contatos abertos na Agência Central dos Correios em São Luís para ser repassado a pessoas interessadas em comprar ou vender selos. Não há clube filatélico em São Luís, então, fica mais difícil utilizar essa opção para ampliar sua coleção.

Outras fronteiras

Ao longo de toda sua trajetória de colecionismo, Nelson Aragão considera que o selo mais difícil de conseguir foi o bloco da Feira Mundial de Nova York de 1939. E os mais valiosos são de sua coleção do Império, época dos famosos selos “olho de boi”. Estes, o filatelista ainda não possui, devido à sua raridade e alto valor.

O acervo de Nelson vai um pouco além dos selos brasileiros. Ele também possui selos de outros países como França, Bélgica, Moçambique e Argentina e já iniciou a aquisição de alguns selos sobre a Alemanha nazista, coleção que pretende dar continuidade.

“Nunca contabilizei, mas com certeza há mais de 3 mil selos em todas as minhas coleções”, comenta Nelson Aragão.

De geração em geração

A fim de manter a tradição e o patrimônio em família, Dr. Nelson já tem um herdeiro apaixonado pela arte de colecionar selos: seu filho mais novo João Gabriel. Com apenas 15 anos, ele já tem uma vasta coleção de selos sobre animais de todos os cantos do mundo e demonstra conhecer bastante sobre a história da filatelia. Juntos, pai e filho passam horas na biblioteca de casa.

“Para ser colecionador tem de ter muita sensibilidade, bom gosto, paciência, desejo de conhecer e descobrir. Eu e meu filho temos esse perfil e, por isso, nos damos tão bem e, diferentemente das novas gerações, João é um jovem que não fica o dia inteiro refém da tecnologia para se divertir ou se comunicar”, orgulha-se Nelson.

Saiba Mais

Olho de Boi

O “Olho de Boi” foi o primeiro selo brasileiro. Lançado em 1º de agosto de 1843, com três valores: 30, 60 e 90 réis, os exemplares até hoje possuem destaque no cenário mundial. O Brasil foi o segundo país do mundo a adotar o selo postal. A nação ficou atrás apenas da Inglaterra, que lançou o “Penny Black”, em 1840.

O “Olho de Boi”, a exemplo do selo inglês, foi planejado pela direção dos Correios do Brasil à época para agradar ao jovem Imperador D. Pedro II, estampando sua efígie. Porém, a Corte recusou a honraria por achar um desrespeito carimbar a imagem do monarca. Decidiu-se, então, simplesmente desenhar os algarismos indicativos do valor do selo, em fundo neutro, sobre linhas onduladas e entrelaçadas.

Um pouco de história

Acredita-se que o primeiro filatelista do mundo tenha sido o francês August Macim, que começou a colecionar peças desde o primeiro lançamento, em 1840. Já a atividade filatélica como um hobby começou a ganhar força a partir de publicações jornalísticas. Em 1862, em Liverpool, Inglaterra, foi lançado o primeiro jornal filatélico “The Monthly Advertiser”. No Brasil, em 1882, O “Brazil Philatélico” foi a primeira publicação dedicada ao tema.

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